Desde que o filósofo alemão Arthur Schopenhauer afirmou que a vontade é mais determinante que a razão, muita gente se deixou levar por essa ideia, abandonando a busca honesta pela verdade para aderir a modismos, ideologias ou qualquer outro motivo que leve a agir. Os ativistas que invadiram o Instituto Royal são exemplos típicos disso. Agora que a dimensão do prejuízo de sua ação começa a se mostrar com mais detalhes, por terem danificado trabalhos científicos de anos e pesquisas de medicamentos em fase final, não adianta confrontá-los com os fatos e chamá-los à razão. Responderão com uma reafirmação da vontade: não se arrependem do que fizeram, independente das consequências, pois não se pode maltratar os animais. Eu também amo os animais (com exceção de ratos, baratas, pernilongos e assemelhados) e me entristeço quando tenho que prender minha cachorrinha, mas não podemos confundir conhaque de alcatrão com catraca de caminhão. Algumas operações simples do raciocínio e uma análise honesta dos fatos precisa preceder nossas ações e balizar nossas ideias. Certas ações parecem ter origem no coração ou no fígado, mas não no cérebro. As consequências, por sua vez, costumam vir dos intestinos.

Algo parecido ocorre com alguns defensores do socialismo, que insistem em dizer que são atacados por perseguição, mas nunca respondem aos argumentos que lhe são propostos. Uma discussão honesta de argumentos pode levar a uma compreensão melhor do que a realidade é, independente das nossas opiniões ou interesses. Mas para isso é preciso raciocinar, e não falar e agir apenas com ímpetos de vontade e sentimentos. Como pode alguém que se diz democrata simpatizar, por exemplo, com o socialismo cubano, que manteve um ditador no poder por 50 anos, que simplesmente passou o cargo para o irmão e não dá aos seus cidadãos nem a liberdade básica de ir e vir? Os socialistas não responderão falando de democracia, eleições ou liberdade, mas enfatizarão que a educação e a saúde em Cuba são de primeiro mundo. Ou seja, não argumentarão, apenas repetirão o mesmo mantra que mantém viva a sua vontade de pensar assim.

Não nego o papel dos sentimentos e da vontade na nossa ação, mas não podemos eliminar a razão desse modo. Quando a inteligência guia nossa ação prática, para tomarmos as decisões certas nas horas certas, temos uma das 4 virtudes cardeais: a prudência. Se acrescentarmos o amor à verdade e uma busca honesta por conhecê-la, então teremos uma pessoa e tanto. Mas essa mercadoria tem se tornado rara demais.