Amanhã já vai fazer uma semana. Uma semana em que não consegui escrever uma única palavra sobre o assunto. Nem aquelas palavras sem lastro, que a gente lança nas redes sociais. Fui obrigada a ficar em silêncio, paralisada, imóvel bem na fronteira da minha bolha, meu mundinho e meus problemas que, veja só, me tiram o sono e ajudam a alimentar minhas olheiras e… esse gigantesco, assustador, monstruoso mundo lá fora.

Fica além da compreensão normal, imagino, que, para algumas mentes humanas, pareceu correto planejar um ataque com bomba na saída do show de uma divinha pop que, convenhamos, só é perigosa enquanto representante da indústria musical. Pareceu correto planejar e executar. Pareceu correto matar, aleatoriamente, algumas das crianças e teens que estavam lá, participando de um daqueles momentos ritualísticos para nossa cultura: ver seu ídolo ao vivo, em uma celebração da alegria inconsequente de ser muito jovem e com aquele mínimo de privilégios que possibilitou a aquisição de um ingresso, de transporte e, de preferência, da compra de uma roupinha nova e de uns itens de memorabilia. Aquelas coisas que ficam na memória e que constroem uma certeza de ter tido uma infância/adolescência com momentos felizes. Uma bobagem inocente.

Que, de repente, se transforma em cicatriz. Mais uma cicatriz no corpo do mundo, esse sobrevivente teimoso a tantos surtos da doença que nós somos (lembra do Agente Smith dizendo que o ser humano é um vírus, em Matrix?).

Claro, a gente já aprendeu, a lógica do que chamamos de terrorismo é atacar onde vai causar mais repercussão. O que conta não é a quantidade de mortos – que no caso do ataque suicida da semana passada, na saída do show de Ariana Grande em Manchester, Inglaterra, não foi um número nada desprezível: 22 pessoas tiveram suas vidas roubadas. Muitas outras ficaram feridas. Famílias inteiras vão conviver com as lembranças e sequelas do ataque. O medo vai crescer ainda mais.

O que organizações como o Estado Islâmico pretendem, até onde a gente, com nossa cabeça ocidental, consegue compreender, é solapar nossa segurança e não nos deixar esquecer que o mundo está em guerra – e que o “nosso lado” não está ganhando. E é aí que parte do “nosso lado” resolve reagir dando mais poder para quem acredita na guerra como solução (sim, como o Trump). Cavamos ainda mais esse buraco onde a História Humana vem se desenvolvendo desde o começo.

Aqui do alto da minha impotência, só posso torcer para que as crianças e teens continuem tendo o direito de viver a experiência dos grandes shows e eventos, que as pessoas continuem passeando nos calçadões, feiras e festas sem o pânico dos atropelamentos coletivos propositais. Que inocentes não sejam condenados à morte sem julgamento, como a pequena Saffie Rose Roussos, de 8 anos, que tinha ido ao show em Manchester com a família, ou como Jean Charles, o brasileiro que foi morto no metrô de Londres em 2005 pela polícia inglesa, que “achou” que ele era um terrorista.

Não anda nada fácil acreditar. Ainda mais quando a esperança depende de imaginar que o ser humano consiga evoluir da violência para algum tipo de acordo de convivência.

Como vamos nós, crianças, adultos, adolescentes, idosos, todo tipo de gente, sobreviver?