Já vou avisando: a sessão nostalgia deste ano está virada de cabeça para baixo. Vamos chegar nos anos 60 e 70, sim… mas só depois de falar muito do interessantíssimo ano de 1988. Um ano em que gêneros musicais abriram seus próprios territórios (leia-se o hip hop) ou tiveram uma safra excepcional de lançamentos que se tornaram clássicos (leia-se heavy metal e suas subvertentes). Um ano em que o mercado estava maduro para a diversidade de estilos e alguma experimentação pop conseguia mais público do que hoje, em que a indústria faz questão de tornar seu produto muito mais homogêneo, deixando a diferença para quem teve que se tornar independente.

1988 foi um ano inesquecível também para o Brasil, em termos de lançamentos e de shows – e para Brusque! Pode aguardar… chegaremos nisso nas próximas semanas!

Conforme a tradição desses mergulhos na memória, vou começar por uma visão mais ou menos pessoal. Prometendo ampliar o leque em seguida. Aliás, a conversa já foi iniciada no Facebook, com um tempero extra no popular e no trash. A trilha do ano, pelo jeito, está mais para O Amor e o Poder… do que para Suedhead. Questão de bolha, é claro. Cada qual com suas preferências emocionais…

Então, vamos lá.  Como em praticamente todos os anos da década de 80, é impossível não destacar o disco lançado pelo U2. No caso de 88, é o duplo meio estúdio, meio ao vivo Rattle and Hum, também título do documentário sobre a tour da banda (centrada em The Joshua Tree, de 1987) lançado naquele ano. Tudo fazendo parte do auge da banda, de seus clássicos mais duráveis –  Where the Streets Have No Name, Sunday Bloody Sunday, I Still Haven’t Found What I’m Looking For, With or Without You, Pride, Bad, Desire, Angel of Harlem… e covers dignas, como Helter Skelter e All Along the Watchtower. Não tem como ignorar.

Assim como não dá para ignorar o primeiro trabalho solo de Morrissey, Viva Hate. Os Smiths haviam se separado um ano antes e, obviamente, as atenções se voltaram para seu carismático vocalista. O disco tem Everyday is like Sunday e Suedhead. Duas músicas fundamentais da década em um só trabalho. Não é para todos. Pena que Morrissey foi, ao longo dos anos, trocando o carisma pela polêmica reacionária – assim como tantos.

O R.E.M. também estava em sua fase mais madura em 1988. É o ano do lançamento de Green, quase um greatest hits, com Pop Song 89, Get Up, Stand e Orange Crush. Hora de fazer uma confissão: costumo esquecer que o R.E.M. é uma das minhas bandas preferidas. Uma injustiça histórica e com minha própria memória emocional. Bate com a sua?

Até aqui, tivemos uma espécie de continuidade do que a década de 80 gerou (dentro desse estilo mais genérico, bem entendido).  Os próximos três álbuns destes destaques iniciais são mais ligados ao futuro do que ao passado. Criaram suas raízes e influenciaram novas gerações.

O Jane’s Addiction faz parte daquele caldeirão de estilos que, com diferenças em suas receitas, foi mexido por Faith No More e Red Hot Chili Peppers, para ficar entre os nomes mais conhecidos. Seu primeiro disco, Nothing’s Shocking, abriu caminho para os sucessos do segundo álbum, Ritual de lo Habitual, de 1990 – para nós, no Brasil, já sob o signo renovador da MTV.

Para quem viveu a época, o disco de estreia dos Pixies, Surfer Rosa, é sempre especial. Que coisa boa viver um tempo em que sonoridades diferentes caíam tão bem em nossa vontade de conhecer coisas novas! O álbum tem Bone Machine, Oh My Golly!, Gigantic, Cactus… uma delícia atrás da outra.

Por falar em sonoridades estranhas… não dá para não destacar mais um debut album, desta vez dos islandeses do Sugarcubes. Como pudemos viver sem Björk? E sem músicas como Deus ou Birthday?

Vale uma playlist… que vai crescer nas próximas semanas!