José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

O Sapo e o príncipe

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

O Sapo e o príncipe

José Francisco dos Santos

Na última quinta-feira, ouvi pelo rádio parte da nova propaganda do Partido dos Trabalhadores. Uma narradora dizia que, na época do governo deles, sobrava dinheiro na Previdência, e que agora está faltando, além de outras afirmações que colocam o governo Temer como causador de todos os males do país. Aí o Lula começou a falar e eu mudei imediatamente de estação, porque estava dirigindo e não poderia ter um mal súbito em pleno trânsito. Na sexta pela manhã, coincidiu que estava discutindo alguns capítulos chave do livro “O Príncipe”, de Maquiavel, que tratava de gastos públicos, honra e outras coisas, com a turma do terceiro ano de Filosofia da Faculdade São Luiz. Então, numa discussão bastante profícua, este artigo foi delineado em plena aula.

Mas vamos ligar os pontos. O governo Dilma foi interrompido para tentar estancar a sangria do país, cujas receitas escoavam pelas valas da grossa corrupção e do mau uso dos recursos. Deixou um déficit bilionário, empresas e bancos públicos arruinados e a credibilidade do país abaixo de zero. Seu companheiro de chapa e sucessor parece tentar consertar parte do estrago, apesar dos seus próprios erros e dos erros viscerais da viciada política brasileira.

Mas a propaganda dá a entender que havia um paraíso sendo construído, mas o “golpe” o destruiu e agora traz o desemprego, o déficit e todos os males. E adivinha qual a solução? Comecem a bater em toda madeira que houver por perto: segundo a propaganda, a solução é a volta do governo anterior, honesto, competente comprometido com os pobres. E o que Maquiavel tem a ver com isso? No capítulo XVI de “O Príncipe”, ele recomenda que o príncipe, para manter seu poder, não deve temer a fama de pão duro, pois, se gastar em excesso, terá que suprir os cofres com a rapinagem do que é do povo, tornando-se odioso.

Lula e Dilma parecem não ter digerido bem essa parte (acredito que pelo menos alguém do círculo próximo dos dois tenha lido o livro). Se pensavam que permaneceriam no poder indefinidamente, talvez imaginassem que as riquezas que espoliavam eram inesgotáveis. O tal “golpe” lhes dá o pretexto de colocar a culpa no Temer, mas o sucesso do estratagema dependerá de outro fator analisado por Maquiavel algumas páginas depois. Para o filósofo italiano, o “poveco” está interessado apenas nas aparências, além de ser desonesto e sem caráter. Então, aquele que quer o poder deve ser pior que todos eles, mas sempre parecer ser o melhor, o mais honesto, o mais religioso, o mais preocupado com o bem de todos. Sua principal arte deve ser a dissimulação, ou seja, fazer parecer ser o que não é e parecer não ser o que é. Ora, nesse quesito, Lula é imbatível. Basta verificar se o povo brasileiro é tão idiota quanto eles imaginam. Para o país que tem a pior escola do mundo, não é de se duvidar. Ademais, muita gente graduada vem comprando essa ideia de que “o governo atual opta pelo capital e despreza o pobre e o trabalhador”. Isso dá a entender que tentar consertar o rombo é uma coisa má e que quem abriu o rombo é que era bom. Estão vendo como esse papo de “construir narrativas” funciona? Rendo-me à sagacidade de Maquiavel, que nos fez o favor de mostrar como funciona a mente dos crápulas, mas continuo batendo firme na madeira, mantendo esperanças de que um pouco de inteligência ainda circule nas safenadas veias da nação.

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