“Viver agora, pagar depois? Ou pagar agora e viver depois?” – essa é a tônica que Eduardo Giannetti, autor do livro O valor do amanhã, dá em sua obra. Uma leitura que fala dos juros, porém além da conotação econômica. O livro se divide em quatro partes e traz em diversos momentos reflexões a respeito do peso que é dado no presente e no futuro.

Na primeira parte, aborda o mundo natural. O quanto, mesmo a natureza, preocupada com o futuro, faz suas reservas para usufruir do amanhã. Exemplos, como o ciclo de reprodução dos pássaros: eles aguardam o momento certo para procriar, no tempo que poderão colher os alimentos das árvores e assim alimentar seus filhotes; outro exemplo é o homem, que acumulava gordura, para poder se precaver de períodos de escassez de alimentos. Mesmo que fôssemos imortais, teríamos que respeitar o ciclo de um dia e viver cada hora, minuto e segundos, aguardando os dias passarem.

A segunda parte, fala da questão do imediatismo e paciência nos períodos do ciclo da vida. Uma criança e um jovem, movidos pela impaciência e impulsividade, não têm o mesmo discernimento para escolhas, aos olhos de uma pessoa adulta ou idosa. O autor explica que a maturidade faz que a percepção do tempo deixa de ser tão unilateral quanto na juventude e que na velhice nos tornamos mais calculistas, prudentes e ainda mais apegados ao dinheiro. E conclui que enquanto jovens, que podem desfrutar da vida, não o fazem porque precisam zelar para o amanhã; e o idoso, que dispõe da liberdade, não o faz porque não tem mais a energia necessária para aproveitar cada dia como se fosse o último. Ainda, aborda questões de finitude da vida e crenças que temos a esse respeito: ter uma vida regrada para a conquistar o paraíso ou viver intensamente todos os prazeres que esta única vida, este único momento, proporciona?

O ponto central da terceira parte são anomalias intertemporais. A de se entender que tudo em exagero pode ser ruim: pensar somente do presente (miopia), ignorando o futuro e a velhice que há de chegar; e não viver hoje, preocupado somente com o futuro (hipermetropia).

E, por fim, na última parte, tem-se um entendimento sobre questões históricas que deram origem ao pensamento econômico de sociedades. Certas sociedades dão preferências a escolhas intertemporais visando o agora e outras preferem guardar para ter um futuro mais tranquilo, estável. O autor ressalta, que embora dinheiro não traga felicidade, “a instabilidade, o atraso e a iniquidade econômicos são fontes quase infalíveis de frustração e mal-estar social.”

A leitura, traz o grande dilema a ser pensado: viver o agora ou deixar para usufruir no futuro. Faz pensar que o equilíbrio pode ser monótono. Há momentos que precisam ser aproveitados e há momentos em que a espera guarda algo mais precioso. Escolhas planejadas podem ser o caminho. A educação, família, e influências que recebemos nos ajudam em escolhas mais assertivas. “A liberdade de escolha desligada da capacitação para o seu exercício é uma expressão vazia.” (p.276). Entendo, dessa forma, que é preciso saber onde se quer chegar, mas sem se esquecer de aproveitar o caminho.


Clicia Helena Zimmermann –
professora, consultora e especialista em mapeamento de ciclos.