Somos todos animais

Semana passada me deparei com este filme: Okja, mais um lançamento Netflix. Belíssima produção, trilha sonora interessante, ótimos efeitos gráficos. Apesar do nome, que mais parece erro de digitação, o filme traz reflexões importantíssimas sobre amizade, ética, valor da vida e dignidade animal. Nossa dignidade.

A sociedade em que vivemos está acostumada a usar animais como matéria prima da mais dinâmica possível, indo desde de alimentos e vestuário, até ingredientes cosméticos, tintas ou medicamentos. A lista não tem fim, ao que tudo indica, transformamos seres vivos em cifrões.

Talvez esta seja uma oportunidade ótima para refletir até que ponto isto é realmente saudável. Não no sentido nutricional, e sim ético.

Utilizamos como mero objeto animais dotados de consciência e percepção – de dores e afetos! Seres desprovidos de preconceito ou malícia se tornam insumo… apenas porque sim. Nossos ancestrais caçaram para sobreviver, nossos antepassados por tradição. E nós? Reduzimos animais a uma forma primitiva – hoje gourmetizada – de obter prazer através do paladar, e sem desperdiçar nada!

Deixo aqui minha sugestão: que cada um de nós possa revisitar seus valores e decidir… Até que ponto estamos confortáveis com a indústria frenética da qual viramos alvo, que trata animais como objetos, ao mesmo tempo que objetifica, também, seus consumidores.


Eduarda Paz
– psicóloga

 

Okja e o poder da linguiça…

E tudo começa com Okja, uma espécie de super-porco extremamente carismático e sensível e sua relação de amizade profunda com Mija. Além de uma história pouco comum, outra controvérsia envolvendo o filme do Netflix, foi ter gerado ondas de indignação pelo fato de ter sido inscrito no festival de cinema de Cannes, uma vez que não foi concebido para o formato de cinema, apenas streaming. E assim, após pressões, Okja acabou chegando as telas de cinema, mesmo que com distribuição limitada.

Toda essa polêmica direcionou as atenções ao filme, que mesmo concebido para as pequenas telas, tem pretensão de ser grande e fazer as pessoas raciocinarem, enxergando os animais que consumimos muito além dos pedaços de carne que colocamos em nossos pratos.

O filme ousa criticar a forma com que toda indústria alimentícia opera sob o pretexto de alimentar 805 milhões de pessoas que passam fome, dentre as mais de 7 bilhões existentes no planeta. O filme ainda nos apresenta personagens muito caricatos vividos por Jake Gylleenhaal e a excelente Tilda Swinton, em papel duplo. Mas quem pode garante que esses personagens não foram inspirados em gente de verdade?

O filme não parece ter pretensões de fazer com que as pessoas inicialmente deixem de comer carne, mas que passem a ter olhares mais atentos aos movimentos de corporações cujo foco seja apenas o dinheiro, criando historinhas de ninar envoltas em embalagens modernas e com forte apelo ao consumo, portanto, esteja atento.

Uma das falas que mais me chamou a atenção, foi Nancy Mirando, retomando a presidência de sua irmã gêmea Lucy Mirando e pragmaticamente relatando o que fará para recuperar a confiança do público, após o fiasco do circo envolvendo o super-porco:  não importa, eles (os consumidores) esquecerão e no final só se importarão se a carne for barata.

Este é um daqueles filmes que merecem ser vistos, mas não se esqueça da caixa de lenços, pois você há de se emocionar, mas aproveite para ampliar seus conceitos e a pensar além do horizonte do seu prato, pois para muitos, nem tudo nessa vida pode se resumir a um negócio.


Gislaine Bremer
– consultora e especialista em mapeamento de ciclos