Olavo Bilac: se roubarem o busto, a quem homenagearemos?
Sábado, todos os sábados às 9h eram de sessão cívica no Colégio Santo Antônio nos anos 60, sob a vigia da diretora Irmã Cleonice Stingen. A fanfarra era sonho de todo guri. Vestia-se uniforme escolar, as moças de saia com pregas, os meninos de suspensórios, levando à mão a colinha da poesia a declamar depois do Hino à Bandeira. Aprendia-se a falar em público.
Minhas pernas tremiam ao subir ao púlpito para recitar os versos de ‘Ouvir Estrelas’, de Olavo Bilac. E, recente, esse poeta veio à tona, quando seu busto de bronze à frente da Prefeitura de Blumenau foi roubado para ferro velho. O projeto nascera de uma campanha de rádio para instalá-lo, de início, na Rua das Palmeiras, em 1947. Mudou para outros locais, até o ato de vandalismo, em 26 de março corrente. Roubaram o bronze! Mas, quem foi Olavo Bilac?
“Ora direis, ouvir estrelas? Certo perdeste o senso! Eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muitas vezes desperto, abro as janelas, pálido de espanto. Conversamos toda a noite, enquanto a Via Láctea, como um pálio aberto cintila, e ao vir do sol, saudoso e, em pranto, ainda as procuro pelo céu deserto!
Direis agora tresloucado amigo: que conversas com elas? Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo? Eu vos direi: amai para entendê-las, pois só quem ama pode ter ouvido, capaz de ouvir e entender as estrelas!”
Ao recitar o soneto, veio à mente outro Bilac, o monumento de Olavo à frente da Fundação de Cultura de Brusque, erguido em 1946 para homenagear os escolares. Está na Praça da Cidadania! Desconheço se é leitura obrigatória no Ensino Médio, sendo capa da Revista Cartum 2017. Tornara-se símbolo da organização cívica escolar e cultural, após Bilac ter atuado na Liga de Defesa Nacional, no tempo da 1ª Guerra Mundial.
O país passava por uma crise ideológica na Primeira República, sob o risco de separação Norte e Sul, tendo Bilac descortinado duas visões sobre os cidadãos da nação: a dos Pessimistas: gente descrente que via no povo apenas um bando de aproveitadores, malandros e ladrões, que pareciam nada levar a frente. Seriamos um povo perdido e sem futuro, com jeito caipira e jeca-tatu, se me perdoarem.
Entretanto, havia a dos Esperançosos, os que viam na disciplina e na escolaridade a construção de uma sociedade perfeita, conhecendo as ciências e compreendendo as leis da natureza. Os Esperançosos desejavam a integração das raças, os indígenas, africanos, europeus e asiáticos, subordinados todos à Justiça e à Fraternidade como aliada da política nacional. Bilac era contra o racismo porque a cor da pele não nos distingue na hora da morte.
Não aceitava a linha geográfica para separar o território brasileiro, vendo na língua portuguesa a força da unidade. Esse sentimento de patriotismo poderia levar a exageros, mas tornava-se fonte do abraço à pátria amada, tal como os povos que tinham passado por guerras cruéis, enquanto nossa história mal teve conflitos, nunca bancou a guerra armada, até a do Paraguai deu-se no estrangeiro. Bilac tornou-se, por isso, patrono do serviço militar da juventude para inspirar a disciplina, o amor à pátria e a fraternidade das pessoas.
Ele foi redescoberto depois da Campanha de Nacionalização, tempo em que era proibido o idioma estrangeiro, que dava cadeia a críticos e a intelectuais. Passada a guerra, as escolas voltariam a declamar as poesias de Olavo Bilac. Em sua homenagem, serão erguidos monumentos em praça pública. Ah! Não deixem o nosso Bilac sujeito a vandalismo!
