Oratório e gruta de Azambuja completam 90 anos de fé e devoção

História do local começa já no século XIX, com italianos devotos de Nossa Senhora do Caravaggio

Oratório e gruta de Azambuja completam 90 anos de fé e devoção

História do local começa já no século XIX, com italianos devotos de Nossa Senhora do Caravaggio

A conhecida importância religiosa do bairro Azambuja se iniciou de muito antes da construção do santuário, nos anos 1940. A capela construída sob a gruta onde está a imagem de Nossa Senhora de Lourdes é bem mais antiga. Já em 1875, famílias de Treviglio, uma comuna italiana na província de Bérgamo, na Lombardia, norte italiano, chegaram ao Brasil após uma viagem que teve início em Le Havre, na França. Algumas delas se estabeleceram no território onde hoje é Brusque e encontraram, no meio dos vales fechados do atual bairro Azambuja, uma área mais aberta, e no centro dela, uma fonte, repleta de simbologia.

Os imigrantes eram devotos de Nossa Senhora do Caravaggio, um título atribuído a Maria, mãe de Jesus Cristo. Em 1432, na comuna de Caravaggio, a poucos quilômetros de Treviglio, os tempos eram de caos e tensão entre a República de Veneza e o Ducado de Milão. E uma mulher, de nome Joaneta, viu a própria Nossa Senhora, trazendo mensagens de paz e pedindo ações de fé ao povo. Ao desaparecer, surge uma fonte onde estavam seus pés.

“As águas eram tidas como terapêuticas e miraculosas. A água está intimamente ligada a esta devoção. A fonte é muito simbólica. Representa o próprio Cristo, esta água viva, transbordante. A água é vida. Há também a simbologia do batismo, com a água, em uma simbologia muito bonita”, comenta o padre Eder Celva, do Seminário Metropolitano Nossa Senhora de Lourdes, do bairro Azambuja.

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Mais de 400 anos depois, os italianos que estavam em Brusque buscando uma nova vida com novas terras, pretendiam erguer uma pequena capela, próxima à fonte, em um ato simbólico e cheio de semelhanças com a história de Nossa Senhora do Caravaggio. À época, os arredores eram chamados de Caminho do Ribeirão ou Caminho do Meio.

Local praticamente não passou por mudanças desde a inauguração, em 1928 | Foto: João Vítor Roberge

Houve dificuldades para construir a capela. De acordo com o padre Celva, as famílias viviam a igreja doméstica, ou seja, costumavam a fé de suas casas. Outra questão foi a proximidade com a matriz São Luiz Gonzaga, já que pessoas que moravam próximas à fonte não tinham dificuldades em caminhar alguns quilômetros para as missas na igreja do Centro. Apesar das dificuldades, em 1884 foi construída uma pequena ermida, uma capelinha, bastante próxima à fonte.

Esta capela se tornou a primeira igreja de Azambuja, recebendo missas até 1892, quando foi então construída uma nova capela, em terreno dentro de onde hoje está o santuário. O santuário, na verdade, foi se tornar apenas a terceira igreja, quase na metade do Século XX.

A imagem de Nossa Senhora de Lourdes fica sobre as águas da fonte | Foto: João Vítor Roberge

O primeiro “projeto”
Azambuja possuiu, muito próximos, um hospital, um asilo, um necrotério e um local para tratamento de deficientes mentais — à época chamado de hospício. Conta o padre Eder Celva, estudioso da história religiosa da região, que em 1917, um interno do hospício chamado Heinrich Graff, era pintor, e fez o que foi o primeiro “projeto” daquela que hoje é a gruta onde corre a água da fonte encontrada em 1875.

A pintura de Heinrich Graff e uma representação da paisagem em 1917 | Foto: João Vítor Roberge

Graff foi até uma colina próxima e fez uma pintura em tela, retratando a paisagem, com um local que não existia. “Ele mescla realidade com sonho. Na tela, ele pintou o hospício, o santuário, o hospital antigo, onde hoje está o museu. Mas ele também imaginou uma gruta, um tanto diferente da atual. Podemos dizer que o projeto inicial da gruta pode ter sido ideia do padre [Gabriel] Lux, mas quem desenhou um primeiro projetinho foi Henrich Graff, um interno do hospício”, comenta o padre Celva.

A pintura está hoje exposta no Museu Arquidiocesano Dom Joaquim. Além da paisagem, há também na tela imagens de Nossa Senhora e dos padres Gabriel Lux e Antônio Eising, que tiveram atuação importante na região.

Oratório possui diversos ex-votos e o quadro com Nossa Senhora do Caravaggio | Foto: João Vítor Roberge

Construção
De fato, a gruta como vista atualmente foi construída só 11 anos depois do “projeto” de Graff. Em 1927, o seminário de Azambuja foi instituído. Os responsáveis pelo local queriam aumentar os espaços para atividades, e a simples e já desgastada construção estava no meio, com os ex-votos e fotografias dos peregrinos.

O então padre de São José (SC), Jaime Câmara — que se tornou cardeal em 1946, conhecido como Dom Jaime Câmara — foi o primeiro reitor do seminário e do santuário de Azambuja, e decidiu pela demolição da pequena capela construída em 1884. No entanto, deveria ser construída no local uma gruta sob um novo oratório, maior que a primeira capela, para as missas campais.

A partir de janeiro de 1928, a gruta começou a ser construída, e foi inaugurada com cerimônia solene debaixo de chuva em um domingo: 9 de setembro de 1928. Três meses depois, as imagens das santas foram benzidas. A água da fonte encontrada pelos italianos em 1875 foi então canalizada para a gruta. “A fonte já foi maior, mas nunca secou. Em tempos de estiagem, o fluxo de água diminui. É curioso porque ela existia em uma mata fechada. Tudo o que havia ao seu redor mudou, e a fonte continua ali.”

Desde a inauguração, não houve grandes mudanças na estrutura do conjunto capela-fruta. “Havia na parte superior um altar para a celebração das missas, que não existe mais. Era muito simples, e a missa era ainda feita de costas para o povo. A retirada deste altar foi provavelmente a partir de 1942, quando as missas campais deram lugar ao santuário, maior e recém-construído”, explica o padre Celva.

Quadro retrata o momento da apariçao de Nossa Senhora do Caravaggio em 1432, diante de Joaneta | Foto: João Vítor Roberge

No oratório, está o quadro com a imagem de Nossa Senhora do Caravaggio e, na gruta, a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, devido ao nome do seminário de Azambuja, instituído um ano antes da inauguração. É o Seminário Metropolitano Nossa Senhora de Lourdes. “O que é importante é que, a partir desta inauguração, Brusque ganhou um grande local, muito significativo para a fé do povo.”

Existe a festa de Nossa Senhora do Caravaggio em 26 de maio, no Santuário de Azambuja. Mas, de acordo com o padre Celva, as peregrinações começaram a ser mais frequentes com a Festa de Azambuja, em agosto.

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“É uma festa litúrgica, e tanto Nossa Senhora do Caravaggio como Nossa Senhora de Lourdes tiveram o novo título de Nossa Senhora de Azambuja”, explica. A festa em agosto é o período com a maior quantidade de peregrinos, mas nos últimos anos, há muita gente que vai ao local fora do período festivo, para consumir a água da fonte e levá-la para casa. Neste caso, geralmente são pessoas da região, que fazem o seu ato de fé em função de atividades no Hospital Azambuja ou no santuário.

“Estas pedras da gruta são as pedras mais significativas de Brusque. Contam histórias. se pudessem falar… Tudo que já viram, ouviram, sentiram. Estas pedras estão impregnadas de preces. São pedras extremamente simbólicas para nossa fé. São historiadoras”, ressalta o padre.

Oratório e gruta recém-inaugurados, em 1929 | Seminário de Azambuja/Arquivo

 

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