Diz o ditado: “feliz da pessoa que tem histórias para contar”. Talvez seja um dos motivos pelo qual a maioria dos mortais em algum momento da sua vida procurem viver e experimentar “aventuras”. Aventuras no sentido do desafio físico e mental, correr risco de que algo possa dar errado.

Algumas dessas aventuras se tornam conhecidas pelo seu alto grau de dificuldade, pelo pioneirismo e até pela improbabilidade de que possam ser repetidas. Há duas semanas o mundo tomou conhecimento da conquista da montanha nepalesa Manaslu, a oitava mais alta do mundo, com 8163 metros, por montanhistas espanhóis.

Na altitude, com menor pressão atmosférica há uma redução da densidade do ar e menor oferta de oxigênio para nossos pulmões. Entre as circunstâncias surpreendentes do ascenso ao Manaslu pelo grupo espanhol se encontra o fato que na fase final os escaladores subiram dos 6400 metros até os 6800 metros pela manhã, descansaram algumas horas e depois fizeram 12 horas de subida ininterrupta até o cume.

Quem entende de montanhismo sabe que foi uma estratégia agressiva e possível apenas para atletas de alto desempenho. Lembremos aqui que independentemente das dificuldades do terreno a altitudes que superam os 6000 metros cada passo custa um grande esforço e muitas vezes leva mais de um minuto a recuperação necessária para dar o seguinte passo.

O dado mais assombroso é que um dos membros do grupo era Carlos Soria, um montanhista espanhol de 86 anos de idade. Carlos se converteu na pessoa com mais idade em conquistar o cume de um “oito mil”. É também o único humano a ter conquistado 10 montanhas de mais de 8 mil metros com uma idade superior aos sessenta anos.

Seu primeiro “oito mil” foi o conhecido K2 quando tinha 65 anos. A medicina sempre tenta dar uma explicação para esses desempenhos excepcionais, muitas vezes não consegue. Que podemos aprender com Carlos?

Ele descobriu sua paixão pela natureza e as montanhas ainda na adolescência, desde então seus fins de semana e férias eram dedicados a passeios às montanhas perto de Avila, sua cidade, e posteriormente montanhas maiores e mais distantes.

Uma das coisas mais importantes que a prática de um esporte impõe aos humanos é a adoção de hábitos de vida saudável, caso contrário seu rendimento será medíocre, isto vale também para os atletas amadores.

Uma vida toda se alimentando de forma saudável, privilegiando o sono e o descanso, o treinamento regular e o aprendizado das técnicas indispensáveis para a prática da escalada de altas montanhas transformaram o aparentemente franzino Carlos em uma verdadeira máquina de resistência com fácil adaptação à altitude.

Conhecer este tipo de façanhas pode inspirar a muita gente, pessoas que estão se recuperando de problemas de saúde e outros dedicados ao sedentarismo, os atletas especialistas em controle de TV. Fumo de cigarros, sobrepeso, excesso de gordura abdominal e quantidade reduzida de exercícios na meia idade vão determinar altas chances de incapacidade na terceira idade.

A boa notícia é que independentemente da idade em que você decida iniciar a prática de alguma atividade física, após a liberação do seu médico, seu corpo sempre vai reagir com uma melhora progressiva daquelas condições que você esteja treinando, seja resistência, força ou velocidade.

A melhora das condições metabólicas do corpo provocadas pelo exercício físico pode facilitar o controle e até a cura de doenças crônicas como a Hipertensão Arterial, Diabetes tipo 2. Está demostrado que o sedentarismo é responsável por 30% das mortes provocadas por cardiopatia, câncer de cólon e diabetes.

Mais importante ainda são os benefícios da atividade física para a saúde mental e emocional com melhora da atenção, concentração, memória, diminuição da ansiedade e diminuição do risco de doenças neurodegenerativas.

É verdade que Carlos Soria colocou muito alto o sarrafo do que significa saúde na “quarta idade”, mais importante que isso é o fato de que viver uma vida plena não é questão de tempo de vida e sim da qualidade que você dá para seus dias ao se preparar para uma velhice saudável.