Casal antes e depois da aposentadoria

Casal antes e depois da aposentadoria

Pe. Adilson José Colombi

Os dois, marido e esposa, aposentam-se. Ou só o marido se aposenta ou vice-versa. Claro que a vida, no ambiente familiar, sofre profundas transformações. Algumas são benéficas. Outras, nem tanto. Penso que as consequências da aposentadoria do marido causem mais transtornos, quando a esposa só trabalhava em casa. Ela tinha o seu planejamento dos afazeres domésticos e outras atividades externas, todas controladas e executadas do seu jeito. O marido pouco interferia nessa programação diária. A rotina seguia normalmente.

Com a presença mais constante do marido aposentado transitando pela casa, essa rotina é, às vezes, profundamente alterada. Dessa forma, cria-se uma fonte frequente de desentendimentos e, muitas vezes, descambam até em ofensas verbais e, com o tempo, vão se tornando mais constantes e mais ásperas. A situação que, antes da aposentadoria, dava uma impressão de uma vida calma e de convivência bastante tranquila, com o advento da aposentadoria do marido, as “coisas” em casa mudaram, como muitas vezes se expressam algumas esposas ao comentar o fato de o marido agora estar aposentado e perambulando pela casa.

Certamente, uma das causas dessa alteração da vida conjugal e familiar é a carência de uma preparação psicológica para o início de uma nova fase da vida. Alguns maridos idealizam essa nova vida como se fosse um verdadeiro paraíso: sem compromisso de horário, sem precisar prestar contas ao patrão, aos seus superiores hierárquicos no ambiente de trabalho, estar livre para fazer o que achar melhor… Pior ainda, esse marido não se preparou para saber ocupar, positivamente, seu tempo livre. Sem ocupação, aquela que durante anos realizou, agora sente-se, bastante perdido, sem saber como ocupar seu tempo livre. Ler, não tem o hábito. Alguns até têm “alergia” a livros, a leitura. Com o tempo, vão se sentindo inúteis, vazios, entediados.

E a esposa vai colhendo os resultados do estado de ânimo do marido. Ela que estava habituada a ter seu esquema de vida e seu estilo de trabalhar em casa, enquanto seu marido trabalhava fora de casa, agora vai, pouco a pouco, sentindo a presença do esposo pelos palpites e interferências nos serviços da casa. Ele não só dá palpites, mas interfere ou até determina como quer que seja. Às vezes, inconscientemente, para dizer a esposa que o chefe da casa (como foi educado) é ele e tem que ser obedecido. E a esposa que continua a amar o marido, mas a presença constante, vai se tornando inoportuna e, por vezes, percebe comportamentos e atitudes que antes não eram notadas ou não estavam presentes.

Por sua vez, o marido passa pelo mesmo processo interior. E assim, aquele amor que estava, aparentemente, sempre presente, vai aos poucos dando lugar a outro comportamento, nem sempre tão amoroso. E o ambiente começa a azedar, a criar uma densidade crescente de mal-estar que, se não administrado a tempo, pode descambar em algo mais sério e, não muito rato, em uma separação.

Tudo isso porque uma rotina foi alterada, tanto da esposa em seus afazeres domésticos e o marido em sua vida de trabalhador. As duas vidas pessoais foram substancialmente alteradas, sem uma devida preparação e elaboração de um planejamento do novo estilo e nova rotina de vida pessoal e conjugal.

Acresce ainda que muitos casais não cultivaram o hábito de um diálogo franco, sereno e tranquilo de sua vida conjugal e familiar. Agora, que mais necessitavam desse imprescindível instrumento da vida conjugal e familiar não têm onde buscar os meios de administrar os possíveis conflitos normais na vida de um casal que vivencia essa nova situação, a aposentadoria, em sua vida do dia a dia. Aquele casal que tem uma espiritualidade sadia e madura, cultivada ao longo de sua vida, sem dúvida, tem uma vantagem sobre os demais.

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