Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

A liberdade e seu apreço

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

A liberdade e seu apreço

Pe. Adilson José Colombi

O Papa Francisco usou uma frase que já dita por muitas pessoas. Mas, sempre é bom recordá-la. Porque é uma realidade que muitas pessoas, famílias, povos. Nações já a experimentaram. E, com certeza, não a saborearam seu conteúdo. O Papa Francisco pronuncia essa frase, em 06/10/2021, em uma audiência pública que faz todas as quartas feiras, na Sala Paulo VI: “ A liberdade só é apreciada quando se perde”. Quem já fez a experiência dessa perda, certamente, sabe o valor dessa advertência.

A fala do Papa Francisco, claro, nessa ocasião é feita num contexto religioso. O pano de fundo é a liberdade religiosa. Inclusive, comenta o posicionamento do Apóstolo Paulo. Penso, porém, que, sem medo de estar adulterando seu conteúdo, pode ser também referida à própria liberdade de expressão e de ação (como é o caso de países que estão impondo a obrigação de praticar “atos de atentados à vida humana”, em hospitais estatais, porque foi aprovada, naquele país, a lei do aborto legal. Dessa forma, o Estado está cerceando a liberdade de consciência do profissional da medicina (médicos e paramédicos), negando a possibilidade de “objeção de consciência”, permitida em outras oportunidades sem a gravidade de interromper a vida de um nascituro. Não deixa de ser grave lesão aos “Direitos Humanos”, tão caros no exercício da democracia.

O perigo de acontecer, na prática, essa tragédia sempre existiu, na História da Humanidade, em todos os tempos. Alguns momentos, de modo mais incisivo e explícito, outros mais veladamente. Mas, há sempre esse perigo. E, em nosso tempo, certamente, não estamos imunes. Pelo contrário, hoje, há meios mais eficazes de cercear a nossa liberdade. Por isso que o Papa Francisco, com frequência, volta a lembrar essa verdade. Porque tem consciência do valor da liberdade e a tragédia humana que é sua perda. Não é à toa que afirma: “A liberdade é um tesouro que só é verdadeiramente apreciado quando o perdemos”. E, logo em seguida, acrescenta; “Para muitos de nós, habituados a viver em liberdade, muitas vezes parece mais um direito adquirido do que um dom e uma herança a ser preservada”. Complementa, afirmando: “Quantos desentendimentos em torno do tema da liberdade, e quantas visões diferentes se confrontaram ao longo dos séculos!”.

Para quem conhece, um pouco a História da Humanidade, já teve a oportunidade de observar, como pessoas, comunidades, povos depois de terem conhecido e experimentado a liberdade se deixaram atrair por propostas enganosas, passando da liberdade à escravidão, exercida de muitas maneiras.

Posso exemplificar, hoje, em nosso meio sociocultural, o cerceamento de nossa liberdade de expressão, sem que muitos o percebam, na famigerada presença fiscalizadora da “linguagem politicamente correta”. Sob esse “manto”, praticamente foi banido o humor que desde os gregos sempre foi uma presença crítica na política, na vivência dos costumes, na própria tradição, nas artes, enfim, era uma forma de expressar a liberdade. Assim, acontece com outras maneiras de expressar opiniões de modo de pensar e de agir. Estamos presos e acorrentados a uma “linguagem” que não traduz a realidade. Muitas vezes, a sonega ou a deturpa.

Porque “a liberdade torna-nos livres na medida em que transforma a vida de uma pessoa e a encaminha para o bem”. “A liberdade deve inquietar-nos, deve continuamente fazer-nos perguntas, para que possamos ir cada vez mais a fundo no que realmente somos. Desta forma, descobrimos que o caminho para a verdade e a liberdade é cansativo e dura a vida inteira”.

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