Há 39 anos o então frater João Luiz Uzan Malnalcich escreveu e montou uma peça intitulada Paixão e Morte de um Homem Livre. Tudo começou quando a igreja católica de Guabiruba criou o movimento Missões, que tinha o intuito de fomentar a religião. Com isso, freis capuchinhos vieram para o Sul para realizar este trabalho.

Em 1980 surgiram muitos grupos de jovens que desejavam novas atividades na cidade. Tendo isso em vista, foi criada a peça que inicialmente era apresentada em forma de musical.

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Os papéis foram divididos entre os moradores que integravam os grupos dos bairros Planície Alta, Guabiruba Sul, Lageado Alto, Lageado Baixo, São Pedro, Centro e Aymoré. Estima-se que 60 pessoas participaram da primeira peça.

A apresentação ocorreu na véspera da Páscoa de 1981. Segundo Marcelino Kohler, que já interpretou Jesus, as apresentações eram realizadas dentro do Salão Cristo Rei, no Centro de Guabiruba, e ocorriam durante a Semana Santa, iniciando na sexta-feira e com última apresentação no domingo.

Com o sucesso de público nas três primeiras edições, a peça foi reapresentada no sábado e domingo da semana seguinte à Páscoa. Como o salão comportava um número limitado de pessoas, a organização determinou quantos moradores das comunidades poderiam assistir ao musical em cada dia.

Em 1981, quando foi criado, espetáculo era realizado em formato de musical / Foto: Arquivo AACSP

Nilton Angioletti participa desde a primeira edição do musical. Ele interpretou Judas e recorda que o papel era muito forte. “Era muito angustiante, pois a música criticava Judas”, relembra.

Angioletti lembra que na cena em que Judas era criticado pelo povo, ele e outras atrizes corriam pelos corredores e até a plateia queria expulsar o personagem. A cena durava cerca de quatro minutos.

A primeira pessoa a interpretar Jesus Cristo foi Marcio Angioletti, irmão de Nilton. Mas para os anos seguintes, quem assumiu o papel foi Marcelino Kohler.

Quem cantava as músicas do espetáculo eram os seminaristas, que também foram responsáveis por compor as canções.

O musical foi realizado até 1984. No entanto, um ano antes, frater João Luiz se mudou para Taubaté, em São Paulo, para dar continuidade aos estudos e se tornar padre. Com a mudança, o grupo de jovens decidiu tocar por conta própria a direção do musical.

Após a edição daquele ano, os grupos se desanimaram e ninguém quis dar continuidade ao trabalho desempenhado. Por isso, em 1985, o musical não foi realizado.

Cena da crucificação durante primeira apresentação do espetáculo, em 1981 / Foto: Arquivo AACSP

Início do teatro
O material utilizado nas apresentações, como figurino e cenário, ficou no depósito do salão Cristo Rei. O objetivo era deixar tudo guardado para, no futuro, caso os grupos desejassem, ser utilizado na próxima peça. Porém, pessoas que não sabiam da importância daqueles tecidos chegaram a pegar para fazer pano de chão.

Foi quando Nilton Angioletti procurou o dramaturgo Marcelo Carminatti para informar que o figurino estava se perdendo. “Nós tínhamos canhão de luz, mesa de iluminação, roupas bonitas e eu achava que tínhamos que recomeçar”, relembra Carminatti.

A partir disso, foi criado um grupo com dez pessoas que decidiu dar continuidade à peça. Outros dez moradores foram chamados para interpretarem os demais papéis. Em 1986, os atores amadores voltaram a encenar o espetáculo, porém, em um formato menor e dentro das celebrações da Semana Santa.

“Na quinta-feira apresentávamos a Santa Ceia e a prisão de Jesus, na sexta-feira era o julgamento por Pilatos, morte e sepultamento, e no domingo era apresentada a ressurreição”, conta.

Francisco Odisi e Nilton Angioletti foram os responsáveis pela direção. O texto era pequeno e tinha apenas quatro páginas. As cenas eram curtas, não duravam mais do que 15 minutos.

Musical era apresentado no salão Cristo Rei / Foto: Arquivo AACSP

Apesar de ser dividido em três dias, as falas do teatro eram ao vivo, diferente do que é praticado hoje, com as falas gravadas alguns meses antes da apresentação.

“Todo ano é a mesma história que se repete. Nós achamos que encenando, vendo acontecer, tocaria mais o coração das pessoas do que apenas lendo”, revela Angioletti.

Carminatti recorda que na primeira edição realizada na igreja ficou com o papel de Jesus Cristo. “Eu me entreguei totalmente para aquele papel”, relembra. Na época o grupo não tinha dinheiro para comprar perucas, por isso os atores deixavam o cabelo e barba crescerem para interpretarem os personagens.

Como eram poucas pessoas que compunham a peça, muitos tinham mais de um papel. “Um homem que fez apóstolo na quinta, na sexta-feira já era soldado. Uma mulher que era Verônica em um dia, fez o anjo em outro”, explica Carminatti.

Segundo ele, os atores realizavam uma preparação espiritual para encarnarem os personagens intensamente. “A mulher que fez Maria, nós tínhamos um grau de amizade tão grande, que na hora que me tiraram da cruz e colocaram no colo dela, na sexta-feira, eu sentia as lágrimas dela pingando em mim de tão emocionada que ela ficou”, relembra.

O próprio ator ficou responsável por confeccionar a coroa de espinhos. Ele recorda que usou uma túnica branca e um pano vermelho transpassado. Muitas roupas do musical foram reutilizadas para encenação dentro da igreja. O grupo também conseguiu alguns pedaços de malhas que foram utilizadas para confecção de novos figurinos.

Apresentação durante as celebrações pascais, em 1986 / Foto: Arquivo AACSP

Na época, a única parte da apresentação que tinha cenário era a Santa Ceia, com uma mesa que era montada para a cena. Além disso, Carminatti carregou a cruz por todo corredor principal da igreja para encenar a crucificação. As demais cenas eram realizadas no altar da igreja São Pedro.

Ele recorda que a igreja estava cheia nos três dias da apresentação. O ator, que também era catequista, lembra que alguns alunos o viram interpretando Jesus com a coroa de espinhos e o sangue.

Após as apresentações, as mães diziam que as crianças não conseguiam dormir à noite pois estavam com pena do professor. Ele teve que conversar com os pequenos para explicar que era tudo uma encenação.

Conforme Marcelo Nascimento, presidente da Associação Artística Cultural São Pedro (AACSP), o intuito inicial do teatro era apenas representar o evangelho. Segundo ele, a associação conta como primeira edição o espetáculo de 1986, quando ele foi encenado no formato de teatro.

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O grupo que retomou os trabalhos da peça segue até hoje no espetáculo. Para Carminatti, os integrantes do teatro se tornaram uma família. “Tem amigos que a gente só encontra aqui”, finaliza.

Serviço
A 22ª edição da peça Paixão e Morte de um Homem Livre estreia nesta Quinta-Feira Santa, 18, com reapresentação na Sexta-Feira Santa, 19. No primeiro dia o teatro começa às 21h e no segundo às 19h30. O espetáculo é encenado no pátio da igreja São Cristóvão, no bairro Aimoré, em Guabiruba. A entrada inteira custa R$ 10 e a meia R$ 5. No entanto, os ingressos para o dia 19 já estão esgotados

Pontos de venda em Guabiruba:
– Supermercado Rothermel (Guabiruba Sul)
– Mercado Bom Dia (Lageado Baixo)
– Mercado Baron (rua São Pedro)
– Supermercado Kohler
– Fundação Cultural
– Secretaria da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Pontos de venda em Brusque:
– Secretaria da Paróquia São Luis Gonzaga
– Loja WJ (Centro)
– Lojas da rede do Supermercados Carol de Guabiruba, Brusque, Nova Trento, Blumenau, Gaspar