Em 2013 estive no Rio e assisti uma fala da escritora Adriana Falcão, numa sala com pouco mais de 20 pessoas. Ela falou abertamente sobre o desafio de ser roteirista de TV e de ter de escrever sob pressão ou sobre algo que não acreditava, por estar entre os interesses da empresa e sua arte. Não foi fácil ser criativa depois de tantos anos no ar com a Grande Família, com temporadas já encerradas e, a pedido da emissora, esticadas para mais um ou dois anos.

Adriana falou que a Globo estava mudando com relação ao tipo de roteiros, formatos de programas e conteúdos. Já se via, pois no ar estavam chegando com força total as novelas das 23 horas, com seus enredos mais elaborados, suas tramas mais amarradas e sem tanto apelo comercial e popular como as demais novelas. O público das séries americanas estava crescendo e exigindo histórias mais dinâmicas.

Não assisto TV, então o que acompanho é via Internet, e foi na rede que assisti a diversos vídeos do programa Zorra Total feitos recentemente. Ali, muita coisa mudou! Elenco mais afiado, formatos batidos de piadas jogados no lixo e humor com crítica e textos inteligentes.

Agora, o que nos surpreende (e está causando polêmica nas redes sociais) é a vinheta do Carnaval da Globo 2017. A Globeleza está vestida! Muita gente criticando, mas muita gente adorando, principalmente as mulheres, principalmente as mulheres negras. Há anos atacam o vídeo pela objetificação do corpo da mulher que nessa época do ano ganha destaque. E parece que a emissora concordou.

Acho significativo, mais até pelo “o quê” ela está vestindo. A nova vinheta é multicultural. Traz fantasias e danças dos carnavais de diversas partes do Brasil, não só do Rio como ocorria desde 1991, ano em que a Globeleza estreou. Tem frevo, maracatu, axé. Tem mais cores, tem mais diversão.

 

Obs.: O título do artigo refere-se ao excelente conto “A roupa nova do Rei” de Hans Christian Andersen. Pra quem não conhece (ou não lembra da infância), sugiro!

 

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Lieza Neves – produtora cultural e escritora