Tá, tudo bem, nada mais justo do que comemorar os 50 anos do festival de Woodstock, o original, que teve Hendrix reinventando o hino norte-americano, com uma nova versão do evento. Não seria a primeira vez. Mas não precisava descaracterizar tanto o espírito do festival mais emblemático do flower power.

O que dizer de uma escalação que inclui – e destaca – aqueles nomes rentáveis do pop que participam de todo coachella da vida? Temos Jay-Z, temos Chance the Rapper, temos Miley Cirus. Precisava? Será que o público só comparece a shows com cara de premiação da MTV? Isso não é dar uma nivelada por baixo desnecessária?

Tem também aqueles nomes mais ao estilo Lollapalooza. Imagine Dragons, Cage the Elephant, The Killers. Mais uma vez, uma escolha segura, com jeito de garantir uma faixa etária mais jovem do que a idade do festival.

Tem até a bola da vez Greta Van Fleet – que, perderam a chance de cometer uma ironia boa, não vai se apresentar no mesmo dia de Robert Plant. Esse povo não tem senso de humor.

Claro, temos representantes legítimos daquela era. Sobreviventes de respeito. Santana, David Crosby, Country Joe McDonald. Tem até The Zombies e Canned Heat, escondidos nas “linhas menores” do terceiro dia do festival. Lá onde tem aqueles nomes todos que a gente tem vergonha de dizer que nunca ouviu falar.

É pouco. Nem precisava ter um time exclusivo de veteranos, já que tem muita, mas muita mesmo, banda influenciada pelos estilos clássicos de Woodstock. Psicodélicos, engajados, folk… Gente que aconteceu nos anos seguintes, nos oitenta, nos noventa… É um mundo de bandas e nomes à disposição de uma negociação.

De repente alguns dos nomes menos conhecidos honrem o legado. De repente, as concessões não atrapalhem tanto, no calor do momento, quanto parecem atrapalhar, no cartaz. Tudo é possível.

Mas que deu uma primeira impressão ruim, isso é inegável. Parece que o conceito de segmentação não se aplica mais na música.