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Por que as manifestações de rua têm diminuído em Brusque

Pauta partidária e expectativa no novo governo estão entre os motivos elencados

De 2013 pra cá, as manifestações de rua se tornaram frequentes em Brusque. Acompanhando movimentos nacionais, ir para a rua se tornou uma das formas dos brusquenses mostrarem sua insatisfação ou apoio a uma causa.

A primeira grande manifestação, e que de certa forma originou as seguintes em Brusque, foi a do dia 22 de junho de 2013. Naquele dia, em torno de seis mil brusquenses foram para as ruas protestar pelo fim da corrupção e melhores condições de saúde, educação e segurança, influenciados pelas manifestações iniciadas naquela semana em São Paulo e demais capitais, que começaram devido ao aumento das tarifas do transporte público.

De junho de 2013 até o primeiro semestre deste ano, foram realizadas, pelo menos, 13 manifestações, a maioria com foco no fim da corrupção.

Os protestos se intensificaram, principalmente, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, com a campanha pelo impeachment, e também durante o período que antecedeu a prisão do ex-presidente Lula.

A manifestação popular com maior número de participantes na cidade foi a do dia 13 de março de 2016, quando cerca de 10 mil pessoas, de acordo com estimativas da Polícia Militar, foram às ruas para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff na cidade.

Porém, de lá para cá, os protestos perderam força em Brusque. No dia 26 de março de 2016, por exemplo, a manifestação também em apoio ao impeachment reuniu apenas 13 pessoas. Os protestos seguintes não passaram de 100 pessoas.

No ano passado, no período da greve dos caminhoneiros, a cidade voltou a reunir um número maior de pessoas nas ruas, entretanto, bem abaixo do registrado nas primeiras manifestações.

Impressões dos líderes

Ronald Kamp, um dos líderes do movimento Vem pra Rua Brusque, analisa que o esvaziamento das manifestações na cidade está relacionado com o fato de que, para muitas pessoas, os protestos eram apenas um instrumento partidário.

Para ele, isso ficou bastante claro na época do impeachment da ex-presidente Dilma, período em que as manifestações tiveram mais força na cidade.

“Nosso foco sempre foi o combate a corrupção, mas boa parte da população não queria saber dessa pauta, mas exigir o impeachment da Dilma. Essas duas causas caminhavam juntas, mas depois do impeachment a turma que era apenas contra o PT deixou de participar porque para eles bastava tirar a Dilma”, diz.

Kamp lembra que as manifestações continuaram mesmo após o impeachment porque o foco inicial sempre foi o combate à corrupção, porém, na sua visão, só a corrupção não basta para levar a população às ruas.

“Hoje, infelizmente, a corrupção está em tudo, mas os protestos só acontecem quando tem algo a mais, algum fato mais relevante. Percebo que a corrupção está ficando comum, já não é suficiente para indignar as pessoas”.

Uma das líderes do movimento Brusque Contra a Corrupção, Sabrina Avozani acredita que a redução do engajamento das manifestações em Brusque acontece, entre outros motivos, devido ao enfraquecimento da Operação Lava Jato.

“O combate à corrupção foi jogado numa vala, ficou secundário porque hoje vivemos em uma guerra de ideologias. O foco está nas brigas partidárias e não na transparência, não em passar o país a limpo”, afirma.

Sabrina avalia ainda que nas últimas eleições muitos se elegeram se aproveitando da onda Bolsonaro e também das manifestações, entretanto, ao ocuparem seus cargos,  abandonaram a luta do combate à corrupção.

“Hoje vemos de uma forma bem clara que o combate à corrupção de alguns era só fachada. Tivemos mais de 50% de renovação no Senado e só 27 assinaram a CPI da Lava Toga. Hoje, os brasileiros estão nas mãos de 513 deputados federais, 81 senadores e 11 ministros do STF que decidem os nossos destinos como deuses intocáveis. A população não vê um resultado efetivo e cansou”, afirma.

Esperança de melhora

O mestre em Sociologia Política, Eduardo Guerini,  explica que os protestos têm muito a ver com o momento conjuntural da política nacional, regional e local. No caso dos protestos que eclodiram em 2013, ele observa que traziam uma demanda da população contrariada com os escândalos de corrupção que envolviam os principais partidos do governo e culminou em grandes protestos entre 2014, 2015 e 2016.

Ele afirma que há uma relação direta entre essas revoltas e também o insuflamento das paixões políticas, que levou à polarização do ‘nós contra eles’ e que, de acordo com ele, ainda hoje se traduz em movimentos nas redes sociais bastante acirrados que saíram dos campos das manifestações das ruas.

“As manifestações acontecem quando um regime começa a ter problemas de legitimação, de representatividade, quando os partidos não conseguem capitanear os anseios da população. No caso brasileiro, eles foram capitaneados por movimentos das redes sociais que estavam se organizando em torno da falta de identidade com a corrupção e foram ganhando envergadura”.

Guerini observa que a partir de 2018, quando começa a se estabelecer uma transição mais alargada dos grupos políticos que tomaram o poder a partir do impeachment da Dilma, se compreende um certo arrefecimento dos movimentos.

Ele destaca que a redução no número de participantes demonstra que manifestações, protestos e as demandas se esgotam por ausência “de uma organicidade, por ausência de um movimento que contempla aquilo que se chama de interesse público. Às vezes são interesses particularistas que denotam essa retração dos movimentos desde 2013”.

Outro ponto observado é que o auge das manifestações sempre acontece em momentos de crise econômica e política. Ele avalia que a sociedade ainda está anestesiada pelo processo de eleição dos novos governantes, acreditando na possibilidade de melhoria na economia e política.

“A medida que o governo vai perdendo essas prerrogativas e, nos estados, a situação seja mais cruel, nós veremos novos manifestos e ações”.