O Like desta semana trouxe duas visões sobre a questão das cotas no acesso à Universidade. Aqui no blog, a conversa está ainda mais ampla, com a adição da opinião da Emily Camila Batschauer. Questionar, opinar, pensar e repensar as questões políticas que são presentes na nossa vida é o melhor caminho para exercer a cidadania!

 

cotas
A obra Operários, de Tarsila do Amaral, já virou um clássico, quando o assunto são as cotas.

 

As cotas nas universidades públicas são bastante discutidas entre os alunos que estão prestes a fazer o seu vestibular. Muitos são a favor, muitos são contra. Mas afinal, o que são as cotas?

Nada mais é que reservar a vaga para um aluno em uma universidade federal, mas não para qualquer estudante. Os aspirantes a acadêmicos devem passar por uma das duas listas de requisitos: uma para as Cotas Sociais (que são para alunos que estudaram a vida inteira em escola pública) e a outra para as Cotas Raciais (para afrodescendentes, índios e pardos).

Um dos pré-requisitos para ter acesso às cotas seria cursar todo o ensino básico e médio em escola pública, essa condição faz com que as pessoas tenham um posicionamento contrário, pois apesar de não se encaixarem no perfil do benefício necessitam igualmente do auxílio (financeiro), talvez por não terem feito sua carreira escolar toda na instituição bancada pelo governo (municipal, estadual ou federal), não esquecendo também os estudantes de colégios particulares que se veem prejudicados pela redução das vagas.

Por outro lado, pelo fato de não termos uma educação pública boa o suficiente, vemos que as cotas são uma ótima oportunidade para a população de baixa renda ingressar na universidade, mostrando assim as pessoas que se posicionam a favor das cotas.

Com isso, vemos que as cotas não é algo totalmente ruim, pois até que a educação pública estiver em melhores condições para que esse tipo de procedimento não seja necessário, será o único meio para as pessoas menos favorecidas poderem ingressar no curso superior.

Emily Camila Batschauer – 16 anos

 

 

Escrever sobre cotas passou a ser café requentado há muito tempo. Ainda assim se torna cada dia mais necessário expor alguns pontos sobre este tema, tudo para se entender melhor os dois lados da implantação das cotas no Brasil e no que esta ação reflete em nós, estudantes de ensino médio, quase universitários.

Por um lado, as cotas são um modelo de ação afirmativa implantado para amenizar desigualdades sociais, econômicas e educacionais. Surgiram como uma solução para suavizar os baixos índices de inserção de alunos da rede pública em universidades administradas pelo Estado.

Devido à má administração governamental – inicialmente no que diz respeito aos segmentos responsáveis pelo ensino público de todos os níveis – a educação se tornou decadente, a desvalorização do professor cresceu de forma angustiante e a discrepância de qualidade existente entre a rede pública e privada se acentuou demais nos últimos anos. Percebo hoje – como ex-aluno do ensino gratuito, que este não garante o mínimo de formação intelectual que um jovem necessita para competir com os demais candidatos da rede privada por uma vaga em um curso de graduação em uma instituição federal.

Visto que todos esses fatores estiveram nítidos em nosso ensino nos últimos anos, as cotas fizeram parte de uma série de “soluções” implementadas no país para transformar todo este cenário caótico. Acredito que o caráter das cotas deveria ter sido emergencial e não permanente (como tem se mostrado), ou seja, no cenário educacional atrasado que estamos vivendo, elas seriam a solução temporária, implantada simultaneamente à solução de longo prazo. A partir do momento que o ensino fosse de acesso a todos, justo e de qualidade, então a existências das cotas seria desnecessária e a igualdade estaria presente em um segmento social tão importante.

Mas não é isto o que vem ocorrendo. Apesar das cotas terem se evidenciado como um método indispensável para muitos alunos da rede pública de ensino, de baixa renda, deficientes físicos, negros, pardos e indígenas para ingressar em universidades, institutos e centros federais, a sua permanência, não coexistente a ações mais efetivas do governo para melhorar o ensino, transformou as cotas em mais uma fonte de ódio racial e de classes, discriminação, preconceito, intensificação da desigualdade e ainda por cima, tem escancarado aos quatro ventos a ineficiência educacional pública do Brasil e transformado mais uma vez o nosso país em motivo de chacota e humilhação. As cotas não são a solução definitiva para o futuro do país e nós temos de estar ciente disto e lutar por mudanças!

Pedro Rabelo de Araújo Neto – 16 anos

 

cotas vila davis
Viola Davis, em seu discurso no Emmy do ano passado, mostra que a questão de igualdade de oportunidades vai muito além do acesso às universidades brasileiras.

 

É muito fácil ser contra as cotas raciais quando somos de classe média, estudamos em escolas particulares e, principalmente, quando somos brancos. Após a abolição da escravatura, não houve praticamente nenhuma mudança na vida dos escravos. Apesar de “livres”, eles continuaram sofrendo preconceitos e sendo marginalizados, algo que acontece até hoje. A abolição foi feita há mais ou menos 128 anos, o que é um período de tempo curto para que o negro seja inserido totalmente na sociedade. Por exemplo, antes da implantação do sistema de cotas (2007), a porcentagem de alunos negros na Universidade Federal de Santa Catarina era 1%. Em 2015, 10% das vagas da UFSC foram reservadas para candidatos autodeclarados negros.

As cotas não buscam superioridade, e sim igualdade, algo que nossa sociedade está longe de alcançar. As cotas são apenas o primeiro passo na direção dela. É muito difícil encontrarmos uma empresa gerenciada por negros. Enquanto isso, facilmente os encontramos em subempregos. O que diferencia as pessoas de cor de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode contratar um engenheiro negro se não há negros cursando engenharia.

Já tive a oportunidade de visitar algumas universidades da região (tanto públicas quanto privadas) e não vi sequer um negro. Além disso, pesquisei os formandos de 2015 de alguns cursos e só encontrei uma negra.

É ilusão achar que nosso meio não é racista. Em 2010, 70% da população pobre era negra. Crianças negras são maioria no trabalho infantil. Em 2013, a quantidade de negros concluindo o ensino superior era de 6,13%. No curso de medicina, esse número caía para 2,66%. E não adianta dizer que “tal pessoa caminhava 20 km todos os dias e passou para medicina, passa quem quer”. Isso é o mesmo que dizer “meu avô fumou durante 80 anos e não teve câncer no pulmão, só pega quem quer”. É exceção, não regra. Continuo a favor das cotas.

Heloísa Wilbert Schlindwein – 16 anos