Ouvi recentemente de uma empresária um desabafo muito comum: a enorme dificuldade das empresas com a gestão da mão de obra. Apesar de a bolha do crescimento falso ter estourado, e do crescimento acelerado do desemprego, ainda há muitos empregados que parecem pouco preocupados com seu futuro profissional. É difícil encontrar gente preparada para algumas funções específicas, mas as empresas oferecem treinamento, dando chance para quem não tem experiência. O que se esperaria de uma pessoa minimamente interessada é que agarrasse a chance, se esmerasse, procurando ser o melhor profissional que pudesse, não apenas para agradar o patrão, mas para garantir o seu próprio interesse.
Mas é aí que o problema aparece. Para que a pessoa se disponha a aprender e se dedique ao trabalho, é necessário um preparo anterior ao profissional: o preparo humano, a educação básica para o trabalho, para uma vida honesta, balizada pelo esforço e pelo mérito. Quando essa educação existe, a pessoa valoriza o empresário que está lhe dando uma chance. Agradece-lhe a iniciativa de ter aberto um negócio, assumindo riscos, possibilitando o ganha-pão para outros. E, é claro, se esmera no cumprimento das suas tarefas, procura aprimorar seus conhecimentos e habilidades, cumpre seus horários. Enfim, a pessoa deve cumprir o papel que lhe cabe. Se, no futuro, ela imagina que pode ser independente, abrir seu próprio negócio, ser patrão de si mesma e de outros, que ótimo! Mas, por ora, cabe-lhe tomar o assento que está vago no ônibus, e agradecer por poder encontrá-lo.
Essa consciência de dever e trabalho já foi mais aguçada, mas vem decaindo a olhos vistos, fazendo com que a gestão de pessoas se torne um dos setores mais complicados das empresas.
A empresária de que falei dizia querer se tornar empregada, pois os empregados é que são felizes. Eles cumprem seus horários e funções , vão para casa e não precisam mais pensar na empresa, até o dia seguinte. Seu salário, pouco ou muito, entra líquido na sua conta. Se o indivíduo souber levar uma vida equilibrada e disciplinada, pode viver com relativa tranquilidade, mesmo que de modo modesto.
O patrão, pelo contrário, dorme embalado pelos problemas que precisa encaminhar para manter a empresa funcionando. Muitas vezes não sabe o que vai fazer para garantir o pagamento dos salários, impostos e tantas outras obrigações, vencidas ou a vencer. Se tem alguma coisa, está sempre no risco de perder.
Embora haja gente despreparada de ambos os lados dessa equação, montar e manter uma empresa é muito mais desafiador. Um pouco de parceria de quem se beneficia dessa coragem não seria uma má pedida.