Quais seriam os riscos do Brusque ao realizar transmissões fora do contrato da Série C

Londrina tentou romper com CBF e DAZN, mas voltou atrás; desafio é ter receita que substitua acordos tradicionais

Quais seriam os riscos do Brusque ao realizar transmissões fora do contrato da Série C

Londrina tentou romper com CBF e DAZN, mas voltou atrás; desafio é ter receita que substitua acordos tradicionais

Contrariando o contrato de direitos de transmissão firmado pela plataforma de streaming DAZN e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o Londrina havia conseguido, na sexta-feira, 7, uma liminar para organizar uma transmissão da partida contra o Criciúma, nesta segunda-feira, 10, de forma independente. No entanto, abriu mão do direito adquirido após entrar em acordo com a CBF.

A plataforma de streaming DAZN paga R$ 20 milhões à CBF pelos direitos de transmissão da Série C do Campeonato Brasileiro. A competição custa, ao todo, R$ 30 milhões à entidade. O valor pago pelo DAZN é redistribuído como custeio de logística, ou seja, transporte, hospedagem e alimentação. Quebrar este contrato, como o Londrina pretendia, significaria abrir mão desta chamada ajuda de custo ao clube.

O DAZN realizou o sublicenciamento de parte das transmissões da Série C do Campeonato Brasileiro à plataforma de streaming MyCujoo, que tem o direito de transmissão de quatro a seis jogos por rodada cedidos e escolhidos detentor dos direitos. Uma destas partidas tem sinal aberto.

O Londrina tentou a manobra por causa da Medida Provisória (MP) 984, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro, que dá ao clube mandante o direito exclusivo de negociação dos direitos de transmissão da partida, entre outras medidas.

Logística, público e renda

Seguir o exemplo do Londrina para realizar transmissões independentes em casa exigiria do Brusque um faturamento que repusesse os valores aos quais o clube tem direito no contrato atual. É um fundamento que vale para a Série C do Brasileiro e para qualquer outro contrato do tipo.

O diretor financeiro do Brusque, Rogério Lana, dá como exemplo o Campeonato Catarinense, no qual a logística é arcada pelo próprio clube. Partidas disputadas em Joinville, Florianópolis e até em Tubarão ou Criciúma, de acordo com o dirigente, custam em média R$ 13 mil. Para jogos em Chapecó, a delegação costuma ir de ônibus, e com viagem mais longa o valor gira em torno de R$ 18 mil.

Com a exceção do Criciúma, o Brusque só tem adversários na Série C em outros estados. As cidades mais distantes na primeira fase são Tombos (MG), Varginha (MG) e Volta Redonda (RJ). Os custos destas viagens, evidentemente, ultrapassam os R$ 18 mil de uma ida padrão a Chapecó.

De acordo com o Brusque, foram vendidos 404 pacotes de R$ 5 para a partida entre Brusque e Ypiranga (RS), neste sábado, 8. Em um cálculo bruto, são R$ 2,02 mil, sem considerar despesas de operação da transmissão, tributos e qualquer distribuição contratual, como entre plataforma e clube, por exemplo. Para pagar a logística a Criciúma, por exemplo, uma transmissão independente no Augusto Bauer deveria ter pelo menos 2,6 mil torcedores pagando R$ 5, desconsiderando quaisquer outras despesas operacionais, contratuais e tributárias.

Ainda assim, para que qualquer valor fosse repassado de fato ao clube no sábado, a partida precisaria ter sido transmitida de maneira independente. Esta transmissão foi feita pela TV Bruscão a serviço da plataforma MyCujoo, dentro do contrato CBF-DAZN. O Brusque não recebeu nenhum valor pela transmissão em si, mas em compensação não tem despesas nos jogos fora de casa.

A média de público do Brusque no Augusto Bauer em 2020 é de 2.822 torcedores por jogo. Foram disputadas seis partidas em casa no ano, entre Catarinense e Copa do Brasil. Se o clube resolvesse começar a realizar transmissões fora do contrato entre DAZN e CBF, teria que começar a transmitir seus jogos em casa, buscando, desta forma, receita o suficiente para pelo menos pagar a logística das partidas disputadas longe do Augusto Bauer.

Mercado enxuto

Lana vê a nova independência de negociação dos clubes com preocupação. “Quando você está no meio de todos os grandes, acaba levando uma parcela maior pela força dos grandes junto com você. Qual seria a força de negociação individual do Brusque hoje?”, questiona.

O diretor financeiro vê os clubes menores, quando sozinhos, perdendo força sem a negociação em bloco com os clubes maiores. Sem união, sem tanta torcida e apelo em comparação às grandes forças, os menores clubes faturariam bem menos, com menor poder para pedir as contrapartidas que recebia até antes da MP 984. Na prática, o Brusque poderia acabar abrindo mão de benefícios razoáveis para se arriscar demais sem suporte no mercado.

O dirigente também não vê, no mercado atual, uma grande quantidade de empresas interessadas em patrocinar o futebol e em bancar, por exemplo transmissões independentes que tragam receita que permita dispensar os contratos tradicionais

TV do clube

O Brusque possui a TV Bruscão, com programação e administração de pessoal por parte do gerente de marketing, Sandro Ortiz, enquanto pessoa jurídica. O clube têm propriedade sobre este canal de comunicação, pagando sete profissionais com um valor mensal em ajuda de custo para manutenção e funcionamento.

O clube tem fechado contratos de patrocínio voltados para a TV Bruscão. Recentemente, foram cinco. Os valores serão utilizados para a administração e manutenção deste produto do clube. “Queremos se torne algo independente, que não precisemos investir dos orçamentos de outras frentes para cobrir a TV Bruscão, que precisa sobreviver sozinha.”

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