José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Qual democracia?

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Qual democracia?

José Francisco dos Santos

Como subproduto da paralisação dos caminhoneiros, está na pauta a pretensa “desestabilização da ordem democrática”, inclusive com a perseguição a empresários que teriam participado desse tal “complô”. Ora, não se pode falar em desestabilização da ordem democrática no Brasil, porque esta simplesmente não existe. Pelo menos se interpretarmos democracia como “governo do povo”. O que nós temos, há muito tempo, é um governo contra o povo. Um sistema burocrático, que se autodenomina “ordem democrática”, com uma legislação que lhe serve de sustentáculo, mas que está a anos luz dos interesses da população. A própria paralisação mostrou isso.

Nas redes de televisão e nos grandes jornais o que se via era uma narrativa única, orquestrada. Falava-se apenas nos transtornos causados pela paralisação, na necessidade de manter a Petrobras “competitiva” e no tal acordo de araque feito pelo governo com alguns representantes dos grevistas. Nenhuma grande mídia trouxe à luz a discussão sobre o fantasma do preço dos combustíveis, buscando investigar as suas verdadeiras causas. No Senado Federal, o senador Magno Malta, no auge da crise, era um dos poucos com coragem para berrar o problema nos microfones, conclamando o governo a uma atitude.

A questão é simples: o custo da gasolina, ao sair da Petrobras, é de menos de dois reais. Países vizinhos, que compram a gasolina da mesma Petrobras, a vendem em seus postos a pouco mais de dois reais. Porque nós, que somos os donos da empresa, pagamos esse preço absurdo? Por que o combustível precisa ser vendido às “distribuidoras”, que só atravessam o processo, e não diretamente aos postos? Por que o álcool não é vendido diretamente dos produtores aos postos, para que seja competitivo utilizá-lo como alternativa? Que mágica do inferno faz com que, nesse processo de “atravessamento”, o preço chegue a mais que o dobro? E, o mais importante, por que tem tão pouca gente no Congresso Nacional e nas mídias querendo realmente descobrir o que se passa?

Então, quem realmente tem o poder(cracia)? Certamente não é o povo (demos). E o sistema político e as mídias não estão interessadas na defesa do povo, mas de quem realmente tem o poder e as controla. Convenhamos que, numa democracia com imprensa realmente livre, alguém iria trazer isso à baila, na saudável disputa pela audiência. Mas como todos concordam, não querem discutir nem divulgar a questão, está mais que claro que nossa democracia já ruiu. Se essa discussão não avançar e não for esclarecida, nos mínimos detalhes, será um sinal claro de que a verdade- e os nossos interesses- não interessam para a tal “ordem democrática”, que se diz sob ameaça.

A Petrobras já resistiu a 14 anos de gestão criminosa, que a colocou de joelhos. Com certeza sobreviverá a uma política de preços que leve em conta os interesses da verdadeira nação brasileira. Só precisa de transparência, honestidade e cartas na mesa. Mas quantos dos defensores dessa democracia de araque estão dispostos a isso?

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