Se voltarmos um pouco no tempo, facilmente muitos lembrarão que a fartura, mesmo dentre os que tinham mais posses, nem de longe se assemelha aos excessos que conhecemos hoje. Vivia-se bem consumindo menos. Consertar, reaproveitar e customizar era absolutamente natural. Inconscientemente, éramos mais responsáveis com o Planeta.

Sapato? Talvez fosse adquirido um par ao ano, pois não se precisava de muito mais do que isso, afinal, não se tinha uma moda nova a cada estação. E se fosse para uma criança/adolescente, o calçado seria comprado em tamanho maior para “servir por mais tempo”. Roupa nova? Provavelmente como presente de Natal ou de aniversário. Como as famílias costumavam ter no mínimo dois filhos, as roupas que iam deixando de servir eram “passadas” de irmão para irmão. Roupa de festa?  Algo clássico, bom tecido, bom corte. E o traje era repetido muitas vezes.

Nas festas, o foco eram os atores principais – noivos, aniversariantes – e não a decoração. Presente de casamento? Algum dinheiro; um prato; uma panela; um conjunto de xícara e pires. Nada muito caro. Tudo muito útil.

Televisão, geladeira? Um aparelho por domicílio era mais do que o suficiente. Agora, às vezes temos um aparelho de TV em cada cômodo da casa. E reclamamos da fatura de energia elétrica…

Carne à mesa? Sim. O necessário. Não havia nutricionista, mas a cultura de nossos antepassados já ensinava que um pedaço de carne do tamanho da palma da mão, acompanhado de legumes, verduras e algum cereal seria o suficiente.

A poupança e o investimento desde cedo eram estimulados. Os jovens começavam a trabalhar aos 14 anos. A maioria contribuía com as despesas familiares e guardava algum dinheiro. Tão logo tivessem o imóvel de moradia, investiam na aquisição de mais imóveis para assegurar fonte de renda alternativa e garantir rendimento complementar na velhice. Ah, e também se ensinava a economizar no tempo das “vacas gordas” para que o básico não faltasse no tempo das “vacas magras”.

Veículos? …isso era para poucos. E dar carona era algo natural. Assim que possível o jovem adquiria uma bicicleta. E com ela ia ao trabalho, à escola e passeava com os amigos nos finais de semana. As viagens intermunicipais e/ou interestaduais eram realizadas com a chamada “linha”, o ônibus. No entanto, o que se viu nos últimos anos foi um crescente estímulo ao consumo.

Consumir, consumir, consumir. Muitas vezes, nem importa preço. Quando muito, o cálculo que se faz é se o valor da prestação “cabe” no orçamento mensal. A título de exemplo, podemos mencionar a questão dos veículos de passeio: com crédito fácil e estímulo mercadológico, veículos foram produzidos e comercializados aos montes. Mas muitos esquecem de incluir na “conta” que um veículo tem outros custos, como manutenção, licenciamento, seguro, combustível, estacionamento…E raríssimos são os que refletem sobre a questão logística, como as estradas, que agora vivem “engarrafadas”. E, avançando um pouco mais, quem se sente responsável com o descarte da sucata do carro que sai de circulação? Para onde vai tanto lixo decorrente do descarte irresponsável?

É chegado o momento de dar um passo para trás para, no futuro, dar dois para a frente, mas com consciência. Nós somos um povo otimista, resiliente, empreendedor e de grande adaptabilidade. Mas precisamos refletir sobre nossa responsabilidade com o contexto geral. Parar de reclamar da crise e agir. Fazer o “dever de casa”. Trazer para si a parcela de responsabilidade individual para com o coletivo. Descartar, por que? Dá para consertar? Conserte. Dá para reaproveitar? Reaproveite. Dá para customizar? Customize! Menos dinheiro, menos consumo, mais consciência. O Planeta Terra agradece.