Houve um tempo em que a gente podia escolher o filme pelo elenco. Alguns atores eram praticamente uma garantia de qualidade. Não sei se isso continua acontecendo hoje, nesta época em que os atores e atrizes parecem ser só mais um ingrediente nas receitas de sucesso (ou não) do cinema feito para encher salas.

Nos anos 80 e 90, um desses atores era, sem dúvida, o quieto Harry Dean Stanton. Que nos deixou agora, na última sexta-feira, aos 91 anos – e ainda ativo… que o diga sua participação na nova versão de Twin Peaks. Stanton era daqueles atores que causavam impacto com uma aparente falta de esforço que, é claro, mostra o quanto são geniais. O que foi reconhecido por diretores do calibre de David Lynch (além de Twin Peaks, Coração Selvagem), Francis Ford Coppola (O Fundo do Coração), Scorsese (A Última Tentação de Cristo), Ridley Scott (o primeiro Alien)… Até em um clássico da Sessão da Tarde ele apareceu, com seu jeito loser de brilhar – sim, em Pretty in Pink, A Garota de Rosa -Shocking, em que ele atua como o pai de Molly Ringward.

Mas, se é para lembrar de Harry Dean Stanton em um momento sublime, se é para resumir sua longa carreira em um só título, o filme tem que ser Paris, Texas, de Wim Wenders. Um daqueles filmes que, para quem teve a sorte de assistir no cinema, vai crescendo aos poucos, quanto mais se pensa nele, em seus detalhes, em suas atuações – além dele, a maravilhosa Nastassja Kinski. Um tipo de cinema que está menos frequente em nossas vidas.

Um dos obituários dedicados ao ator faz uma comparação meio insólita: coloca Harry Dean Stanton em igualdade com estrelas do rock como Keith Richards e Johnny Cash. O que tem mais lógica do que a similaridade de seus rostos esculpidos em experiência. Stanton também cantava e era amigo de gente grande como Bob Dylan e Kris Kristofferson. Talvez essa pitada rock esteja na mistura que fazia com que seu carisma não precisasse de muitas palavras para ficar evidente…