Esta é uma morte que vai ser sentida por poucos (e bons). A noite de sexta-feira trouxe a notícia do falecimento repentino de Hansen, vocalista, guitarrista e motor da banda Harry.

O Harry foi uma banda pioneira, no Brasil, na mescla de rock (post punk, basicamente) com a música eletrônica. Caos (EP de 1987) e Fairy Tales, LP (é, ainda era LP!) lançado em 1988, ambos pelo selo Wop-Bop, maravilharam todo mundo que teve acesso a eles. Era uma banda de Santos. Eu, como santista, prestei atenção dupla a eles. E como fã da loja Wop-Bop… prestei atenção múltipla.

Depois os tempos mudaram e a gente foi tudo para o Orkut, lembra? Ali reencontrei o Hansen em sua versão “pessoa física”: comentarista polêmico de tópicos, uma enciclopédia musical, com um repertório inesgotável de casos que iam de interessantes a escabrosos. Uma figura necessária e controversa.

Com a migração em massa para o Facebook, foi fácil reencontrá-lo e continuar acompanhando a trajetória do Harry, que lançou, em 2015, o Electric Fairy Tales, uma releitura do disco de 88 e que estava, agora, na pós-produção de um novo trabalho.

Como falamos aqui na recente morte de Chuck Berry, o disco já será lançado como póstumo. Só que, no caso do Hansen, não tem a idade para ajudar a digerir a ruptura. Hansen, ora bolas, não tinha idade para morrer assim, de repente, vítima de um ataque cardíaco fulminante, segundo as notícias. Mais do que triste, é um susto e uma ausência insubstituível.

Vou me permitir aqui roubar um pedação do texto que Rene Ferri, um dos sócios da Wop-Bop, publicou no sábado de manhã, no Facebook.

Criam-se certos mitos na música brasileira que vou te contar… no BRock não é diferente. O Hansen, de braços engessados, tinha muito mais poder de criação que qualquer “sacandurra”, mas a crítica não ouvia assim, fazer o quê? O que mais me impressionava no figuraça era o domínio amplo e humilhante sobre assuntos mais díspares, que a gente nem desconfiava. Digamos que eu comentasse qualquer coisa sobre tênis de mesa, por exemplo — aí aparecia o Hansen e dava uma aula, citando detalhes sobre o esporte que só um jogador profissional saberia, me explicaria porque a bolinha fabricada no Panamá era melhor do que a sueca. Coisa nesse nível. Em música, então, meu deus! Se ele lesse o título deste comentário, me diria que aquilo é nome de música de Françoise Hardy, e de lambuja me daria aula sobre o pop francês. O Hansen era assim. Agora, não tem mais.”

É isso. É mais um grande musico e pessoa única que não temos mais. Temos, cada vez mais, menos.

 

Quer conhecer um pouco da figura que perdemos? Tem essa entrevista que ele deu para Cesar Gavin, no canal do Vitrola Verde.