A reflexão humaniza, personaliza
O homem e a mulher contemporâneos encontram dificuldades em parar, em sua vida, para uma reflexão. Refletir passou a ser um peso. Mais ainda, para alguns uma “perda de tempo”. Parar significa deixar de ganhar mais para ter mais. Além disso, “para que gastar energias na reflexão, se já tem quem me serve com a sua”. É a lei do menor esforço. Ou, dito outra maneira, “para que queimar meus neurônios, se outros fazem por mim”.
Acostumou-se a receber a “comida já mastigada”. Habituou-se a agir como criança que recebe tudo pronto. Não se sente bem em usar suas capacidades racionais. Ou não aprendeu a servir-se delas. Em família e também na escola, sem generalizar, não lhe deram essa oportunidade. Boa parte dos homens e mulheres contemporâneos, mais jovens, recebem tudo pronto dos pais em casa. Muitas vezes sãos os próprios pais que tomam as decisões pelos filhos. Por isso vão educando-os para estarem sempre pedindo e aceitando “pratos feitos” por meio deles ou por alguém que se disponibilize a fazê-lo. E, assim, vão se formando seres humanos que, em muitas oportunidades, se omitem ou se demitem de sua condição de seres racionais, não se servindo de seus nobres dons recebidos do Criador.
Assim se constituem as massas, os “ausentes”, os (as) “marias vão com outros”, os “manobrados, usados, alienados”, em vários graus.
Claro que não basta parar. É preciso aproveitar essas paradas para refletir a fim de poder decidir, com um discernimento sempre mais apurado. Mas, não é bem o que se percebe em nossos dias. O ser humano contemporâneo vive agitado, exteriorizado, fragmentado, disperso, conectado as redes sociais. Cada vez mais impessoal. Muitas vezes, isolado, embora rodeado de outros seres humanos. Com milhares de “amigos virtuais”, sente-se só.
E, então, procura ocupar-se com mil coisas, menos com a reflexão. Essa não faz parte de seu “cardápio”. Pois, seria a primeira acusadora dessa situação de desumanização, de despersonalização. Por isso procura “distrair-se” de algum jeito, para driblar qualquer possibilidade de “cair na tentação de refletir”. A reflexão poderia lhe revelar sua real situação e condição humanas e isso não lhe daria muito conforto. Porque sentiria, com certa clareza, que sua vida não está lhe dando o que gostaria de viver. Sobretudo, não lhe oferece um sentido, um rumo certo, uma razão de ser e de viver. Por isso, terá dificuldade de perceber as verdadeiras dimensões dos acontecimentos de sua própria vida e da vida do mundo que o cerca.
Tem momento da vida que é preciso encará-la face a face. A vida, em sendo mais forte do que seu detentor, ela se não tiver quem a conduza, a oriente, ela arrasta, ela arrebata. Daí, a importância e a necessidade do hábito de refletir. A reflexão, se bem conduzida, “domestica”, humaniza, personaliza a vida. Então, não “deixo a vida me levar”, mas, sou o “senhor de minha vida” e lhe dou a direção que julgo ser a mais adequada para o meu existir. E, sobretudo, consigo, aos poucos, descobrir qual é meu lugar neste mundo ou qual é minha missão de estar nesse Universo. Quando essa reflexão for iluminada e regada pela fé cristã, que brota da vivência da Boa Nova do Reino de Deus, ela toma uma dimensão do Infinito. A vida, então, será divinizada pela presença do Filho de Deus que veio para dar vida e vida em abundância. O refletir torna-se um ato libertador e personalizador. Isto é, a prática da reflexão me torna mais humano (a) e porque mais humano (a) mais cristão (ã).