João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

República Brasileira

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

República Brasileira

João José Leal

Dizem os manuais que República – literalmente “coisa pública”, coisa do povo – uma forma de Estado que não deve ter dono nem ser propriedade de nenhum grupo de pessoas. Muito menos, de nenhuma poderosa e soberana pessoa. Assim, o Estado republicano deve ser uma entidade política de todos os cidadãos, com o poder de escolher seu governantes para realizar as legítimas necessidades. Escrevo isso para refletir sobre a maltratada República brasileira, hoje, completando 128 anos de existência.

Fomos acostumados a interpretar os lances da Proclamação da República pelas cores da bela pintura de Benedito Calixto. Na histórica tela, a figura do marechal é destacada como o personagem principal, rodeado por um batalhão de oficiais montados em garbosos cavalos, por soldados pé-no-chão e canhões, ocupando o Campo de Marte, da então capital do país. Nenhum dos militares republicanos é retratado empunhando espadas, mas com mãos levantadas segurando o quepe militar.

Igual ao Grito da Independência política, nossa República também não precisou de movimento popular nem de batalhas comandadas por autênticos heróis nacionais. Não houve luta armada, nem povo nas ruas apoiando uma mudança tão importante para a vida política brasileira. Ocorreu, apenas, uma rebelião militar, apoiada por líderes políticos republicanos. Enfim, foi mais uma “vitória” conquistada no “grito”. E a República brasileira acabou aclamada em praça pública, sem encontrar qualquer oposição das forças monarquistas.

Na verdade, informação histórica diz que o marechal Deodoro, antigo amigo do Imperador Pedro II, só teria se convertido à causa republicana dias antes do importante fato histórico. Sem dúvida, havia insatisfação com o governo imperial. Mas, isso é normal. O povo, essa entidade tão difusa, sempre tem um pé atrás, em face de qualquer governo. Porém, não se pode afirmar que o povo brasileiro estivesse a fim de derrubar a monarquia.

Dessa forma, o fator determinante para o levante militar teria sido o boato, espalhado pelos defensores da República, da prisão de Deodoro decretada pelo Visconde de Ouro Preto, então chefe do gabinete ministerial. Esta falsa informação teria sido o fator determinante para que o velho e respeitado marechal Deodoro, mesmo doente de não se aguentar em pé, tomasse a decisão de montar em seu cavalo para, em nome do povo, proclamar a República brasileira.

Sem a participação do povo e de autênticos líderes, nossa República nasceu de um brado sustentado pela espada ou, conforme retratou o pintor, pelo braço levantado do exército brasileiro. Essa origem, talvez, explique a nossa pobre e tão pouco gloriosa história republicana.

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