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Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Então é Natal: de maçã a Pelznickel

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Então é Natal: de maçã a Pelznickel

Rosemari Glatz

As tradições de Natal que ainda cultivamos foram trazidas para os “Vales do Itajaí” há mais de 160 anos pelos imigrantes alemães que colonizaram nossas terras. Tais tradições encontram-se imortalizadas em várias obras, como no livro de Walter F. Piazza (1960), ou nas narrativas publicadas na Revista Blumenau em Cadernos, Tomo XLVII, n. 11/12 (2006). Nelas, observa-se que o período natalino é revestido de diferentes significados para cada pessoa, família ou comunidade. Vamos conhecer algumas narrativas:

Karl Kleine, imigrante alemão que se estabeleceu na Colônia Blumenau em 1856, relatou suas memórias sobre o primeiro Natal no Brasil: à noite, depois do jantar, todos estavam sentados ao ar livre e um sentimento estranho invadiu cada um – era a primeira noite na nova pátria, era Noite de Natal! Recordavam-se dos natais vividos na antiga pátria e, de repente, fez-se um silêncio estranho. A princípio baixinho, timidamente a seguir, e depois cada vez mais alto e forte ouvia-se a canção “Noite Feliz” que se misturava com o canto estridente das cigarras. Ninguém sabia quem havia iniciado, mas todos acompanhavam a canção, pequena, mas de rico conteúdo, cujos acordes ecoavam pelo céu estrelado. Era como se um anjo tivesse descido para acalentar todos os corações naquela noite.

Reynalda Graupner contou que a preparação era mais bonita do que o Natal em si. Tudo cheirava a Natal, porque se via poucos doces durante o ano e no Natal sempre eram assados aqueles docinhos coloridos. O “Weihnachtsbaum” (pinheirinho de Natal) tinha cheiro. Os presentes eram sempre um segredo, e não se ganhava muitos presentes.

Alma Imhof, ao falar sobre a alimentação no Natal relatou que quando era pequena não sabia o que era um brinquedo. Quando chegava o Natal e o Ano Novo, ganhavam “cuca” feita com açúcar grosso, e macarrão e pão feitos com trigo. Era só no Natal e Ano Novo que ganhavam isso, pois ao longo do ano era pão feito de fubá e só!

Anna H. Simão narrou que no Natal se enfeitava um “Weihnachtsbaum” (pinheirinho) natural que ficava muito bonito, pois pinheiro se tinha. Mas os presentes que se ganhavam eram sempre coisas úteis, para durar o outro ano todo, como sapato e vestido (disso até eu me lembro!). Às vezes se ganhava uma fruta diferente no Natal: uma maçã. Como em Santa Catarina ainda não havia plantação de maçã, vinham da Argentina e quando se ganhava uma maçã, ah! … aquilo era uma delícia!

Walter F. Piazza, por sua vez, escreveu sobre as tradições natalinas no livro Folclore de Brusque (1960) e mencionou as personagens São Nicolau, “Pelznickel” e “Christkind” em Brusque e Guabiruba. Para aguardar a passagem de São Nicolau, no dia 6 de dezembro, as famílias colocavam pratos na janela para que São Nicolau os enchesse com guloseimas. O ¨Pelznickel” (Papai Noel do mato) era comum e atemorizava a garotada, o que, segundo Piazza, consistia num preparo psicológico para o Natal, como que avisando que os bons serão premiados e os maus serão esquecidos.

O “Weihnachtsmann” (Homem do Natal, ou Papai Noel) chegava nas casas de Brusque e Guabiruba acompanhando a “Christkindl” – uma jovem vestida de branco com um véu no rosto para evitar a identificação, representando o Cristo criança, e uma sinetinha na mão para anunciar sua aproximação. Ao escutar a sinetinha, a família acendia as velas do pinheirinho, apagava as luzes da casa e cantava “Stille Nacht” (Noite Feliz). Em seguida, a família recebia a dupla, contando-lhes as virtudes e diabruras de cada um dos pequenos da casa e discutindo se mereciam ou não os presentes. Quando o ‘suspense’ estava no auge, havia o gesto de magnanimidade da “Christkindl”, autorizando o “Weihnachtsmann” a distribuir os brinquedos e guloseimas. A abertura do saco de presentes era um estouro de alegria e, feita a distribuição, a família homenageava a dupla benfazeja, dando-lhes doces e bebidas.

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