Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Independência e liberdade: guerra na Ucrânia

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Independência e liberdade: guerra na Ucrânia

Rosemari Glatz

A História recente da Ucrânia é marcada pela desintegração da antiga União Soviética, em 1991, que levou à independência de suas repúblicas constituídas. Entretanto, mesmo três décadas após tais acontecimentos, os processos de construção de Estado e nação na Ucrânia continuam sob tensão, gerando relevantes desdobramentos internacionais. Neste artigo, apresento uma síntese histórica que ajuda a compreender a resistência dos ucranianos na guerra que estamos presenciando.

Noventa anos atrás, milhões de ucranianos morreram em uma grande fome durante o regime soviético. Conhecido como Holodomor, a história do genocídio por fome ainda está bastante presente na memória do povo ucraniano. A Rússia, em particular, se opõe ao rótulo de genocídio, chamando-o de “interpretação nacionalista” da fome. Em relação ao Holodomor, a História mostra que, além da repressão em massa do povo ucraniano que resistia, o Kremlin (Moscou) requisitava cada vez mais grãos do que os agricultores podiam fornecer. Quando os ucranianos resistiram, brigadas de ativistas do Partido Comunista varreram as aldeias e levaram tudo o que era comestível. A fome aumentava e as autoridades soviéticas tomaram medidas extras: fecharam as fronteiras da Ucrânia, e os camponeses se viram impedidos de viajar para o exterior onde poderiam obter comida. Aldeias inteiras foram dizimadas e, em algumas regiões, a mortalidade chegou a 30%. O campo ucraniano foi reduzido a um deserto silencioso. Às vezes, tudo o que havia para comer naquele terrível inverno e início da primavera de 1932-1933 era palha de trigo, folhas secas de urtiga e ervas daninhas. Cidades e estradas ficaram repletas de cadáveres daqueles que deixaram suas aldeias em busca de comida, mas morreram ao longo da jornada. Houve relatos generalizados de canibalismo.

Outro movimento importante foi a Revolução do Granito, em 1990. Com uma oposição fortemente reprimida até o final da Perestroika, período de gradual abertura esposado pelo presidente soviético Mikhail Gorbachev, os protestos de estudantes marcaram a história da Ucrânia contemporânea. Nele a população ucraniana reacendeu as redes de ativismo e influenciou os jovens a quererem fazer parte de diferentes movimentos sociais em todo o país.

A Revolução Laranja se desenrolou na Ucrânia em 2004, quando denúncias de fraude maciço nas eleições presidências de novembro em favor do candidato governista, o pró-russo Viktor Yanukovytch, fizeram a Suprema Corte ordenar a repetição do segundo turno, revertendo uma eleição manipulada. O movimento englobou greves, protestos, manifestações e eventos políticos entre 2004 e 2005.

Outro marco recente na História do país foi o Euromaidan, um levante civil que aconteceu em Kiev em 2013. Os protestos começaram depois que o presidente Viktor Yanukovytch anunciou sua decisão de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia que poderia, no futuro, ter a Ucrânia como um dos seus membros. A população ucraniana exigia a normalização das relações com o Ocidente, o fim da corrupção, e se manifestou contra outras medidas tomadas pelo governo. Em 2014, presenciamos a disputa territorial em torno da região da Crimeia, cuja anexação à Rússia, em 2014, foi considerada um dos mais significativos e controversos eventos do Pós-Guerra Fria.

Como visto, as relações de conflito entre a Rússia e a Ucrânia não são de hoje. E a sede de mudança dos ucranianos ficou ainda mais forte à medida que os anos que passaram. Dos grupos de pessoas que estavam prontos para a ação em 1990, em 2022 existem centenas, milhares e milhões. E as reivindicações à autonomia, à liberdade e à dignidade de sua identidade nacional marcam as lutas e as resistências dos ucranianos, que acreditam que nações não morrem enquanto houver um povo.

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