Orgulhoso, Maurício Játiva, 52 anos, vai em direção a sua gaveta e, de lá, traz pequenos álbuns para exibir fotos antigas. As imagens, já desgastadas pelo tempo, retratam os primeiros anos da Latina Têxtil.

Folheando os álbuns, ele encontra a foto de um pequeno barracão. Ali, onde antes era uma estrebaria, foram instalados os dois primeiros teares comprados de um fornecedor de Jaraguá do Sul, em 1990. Assim, pouco a pouco, a pequena chácara do sogro, na rua São Leopoldo, no São Pedro, foi dando espaço ao que, poucos anos depois, se transformaria em uma das grandes indústrias têxteis de Brusque.

A história da Latina se confunde com a de seu fundador. Equatoriano, Játiva veio para o Brasil em 1985, por meio de um convênio entre os dois países, para estudar administração de empresas na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.

Na capital paranaense, o jovem estudante conheceu a esposa, a brusquense Jaqueline Gamba. Foi assim que Brusque entrou em seu caminho. “Nos casamos e estava tudo certo para mudarmos para o Equador para eu ajudar meu pai, mas meu sogro, que foi um segundo pai para mim, pediu muito que ficássemos, e acabamos ficando”, diz.

Como não conhecia nada na cidade, começou a trabalhar na confecção que a sogra tinha em conjunto com as irmãs. Ali, aprendeu um pouco sobre o mercado têxtil e, pouco tempo depois, percebeu que havia espaço para crescer dentro deste segmento.

“Logo percebi algumas oportunidades e, entre elas, a venda de tecidos. Foi assim que fundei a Latina, em 1989. Começamos a comprar tecido cru, mandávamos tingir e revendíamos para confecções da região para a produção de malha e moletom”.

Na época, a empresa funcionava em uma pequena sala no Centro da cidade e somente alguns meses depois, já em 1990, é que se transferiu para o endereço que permanece até hoje.

Quando os primeiros teares foram comprados, a empresa entrou em uma nova fase. Deixou o mercado das camisetas e moletons para investir na moda íntima. Para isso, foi preciso muita pesquisa de mercado diretamente no principal polo deste segmento na época: Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.

Com a moda íntima, a empresa teve uma rápida ascensão, tornando-se a maior fabricante de cotton lingerie do Brasil entre 1996 a 2005, com uma produção que atingiu a marca de 1,2 milhão de quilos por mês. “Foram dez anos de crescimento forte no mercado da moda íntima, em que iniciamos com um produto básico, que era o cotton, para depois ir abraçando o mercado de forma mais completa, por meio de novos produtos”.

A partir de 2005, o cotton caiu em declínio e, com isso, começaram a surgir novos produtos para o mercado. Um deles foi o Delicate, que foi desenvolvido na fábrica brusquense. O Delicate é feito a partir de uma fibra nobre, a poliamida, e que de forma inovadora, passou a ser usada também na moda íntima.

“Quebramos alguns paradigmas na época. A Latina foi a pioneira no Brasil em desenvolver o tecido de poliamida em máquina circular. Lançamos no mercado e tivemos um sucesso muito grande, sendo um de nossos produtos mais vendidos até hoje”.


Nova empresa e a importância da equipe

Em 2007, surgiu a oportunidade de aquisição de uma nova empresa, similar à Latina, mas em Joinville. Játiva arriscou e incorporou a marca Diklatex ao seu grupo. A nova fábrica era especializada na fabricação de tecidos esportivos. Na época, com capacidade de produção bastante inferior – cerca de 100 toneladas ao mês – e hoje com capacidade para produção de 265 toneladas ao mês.

Na Diklatex, o empresário vislumbrou a oportunidade de entrar em um novo e competitivo mercado. “Era uma fábrica diferente, com uma cultura muito forte, tão forte que ela é a principal fornecedora da Adidas no Brasil”.

Porém, nem tudo ocorreu como planejado. Com a aquisição em Joinville, a fábrica de Brusque balançou. A explosão da crise mundial em 2008 fez com que o empresário tivesse de tirar recursos da Latina para injetar na Diklatex.

Os momentos de turbulência, entretanto, foram superados. Játiva credita a volta por cima das duas empresas grande parte à equipe que o acompanha. “Tenho paixão pelas pessoas, e graças a isso, por acreditar nas pessoas, por acreditar na competência das equipes, as duas empresas têm registrado crescimento. Dar oportunidade às pessoas é fundamental”.

Hoje, Játiva administra as duas empresas que contam com cerca de 410 colaboradores – cerca de 230 em Brusque e 180 em Joinville. A Diklatex, além de produzir para a Adidas, também é fornecedora da Nike e, recentemente, foi homologada pela Under Armour.

As duas fábricas têm perfis diferentes. Enquanto a Latina é focada nos distribuidores, que compram o tecido em grande quantidade para revender para pequenos confeccionistas, a Diklatex é focada na distribuição, em pequenas quantidades, para as grandes marcas.

“Na Latina as vendas são concentradas em seis artigos e suas variações de lisos e estampados, para atingir o mercado com 400, 500 toneladas por mês. Já na Diklatex temos um mix de 40 a 70 bases de produtos que são vendidos em pequenas quantidades”, explica.
Após o período de crise, em 2011, o empresário decidiu entrar na linha fitness com a fábrica de Brusque. Játiva explica que o produto em poliéster é focado numa linha mais popular, mirando, principalmente, as leggings.

O empresário destaca que a linha fitness é um mercado muito competitivo, por isso, a Latina trabalha muito em cima da redução dos custos e melhoria dos processos. Para ele, este é um dos segredos do sucesso.

O investimento em qualidade rendeu à empresa a entrada no mercado externo. Há dois anos, tanto a Latina quanto a Diklatex exportam seus produtos para as Américas, em países como Estados Unidos, Honduras, Colômbia, Argentina, Chile, Paraguai, Bolivia e Peru.


Crescimento, expansão e otimismo para o futuro

Os problemas econômicos enfrentados pelo país nos últimos anos não impediram o empresário de investir, principalmente, em tecnologia. Játiva ressalta que nesses 35 anos que está no Brasil, o país sempre viveu cercado por muita instabilidade econômica, por isso, é preciso ter visão para não sucumbir aos períodos mais turbulentos.

O empresário trabalha com um cenário positivo para os próximos cinco anos. “O setor têxtil veio muito castigado, principalmente no período que o dólar quase chegou a R$ 4. Aí veio a invasão dos produtos asiáticos, mas hoje as empresas que importavam da China pensam duas vezes, porque o mercado interno conseguiu se renovar para atender as necessidades do nosso mercado, que é muito dinâmico”.

Tanto a Latina quanto a Diklatex têm registrado crescimento. A projeção global para este ano era de 10%, entretanto, só no primeiro semestre, o crescimento foi de 28%. A expectativa é manter o bom índice e fechar o ano próximo dos 30%.

A equipe também já estuda a expansão das duas marcas no mercado. Para a Diklatex, a intenção é entrar no segmento beach wear (moda praia), já para a Latina, o plano é ampliar as vendas da marca diretamente para os grandes magazines.

Assim como no início, Játiva conta com a ajuda da família na administração das duas empresas. O filho André é o diretor comercial da Latina e da Diklatex, a filha Bruna é advogada e coordena o setor jurídico da Latina, e a filha mais nova, Isabela, está estudando e tem pretensão de entrar para a empresa.

“Tudo isso é por amor, nada foi imposto. Eles se criaram aqui dentro, cresceram junto com a empresa e fico muito feliz em ter eles por perto, participando dessa evolução. Assim como todos os nossos colaboradores, eles se qualificaram para assumir suas funções na empresa. Com toda certeza, a nossa equipe é a base para o sucesso da empresa”.