Terceira idade descobre as academias

Em busca de melhor qualidade de vida, número de idosos praticando atividades físicas é cada vez maior

Terceira idade descobre as academias

Em busca de melhor qualidade de vida, número de idosos praticando atividades físicas é cada vez maior

Um drama mudou a rotina de Wedad Alexi Abdu-Hak Lopes em 2007. Era uma manhã normal de setembro quando ela, na época com 63 anos, acordou com uma forte dor na perna esquerda. Acreditando ser apenas um desconforto muscular, a primeira atitude foi passar um remédio que encontrou em casa. Mas a dor persistiu. Aos poucos, ela foi também perdendo os movimentos da perna. O pé ‘ficou bobo’, conta a dona de casa. Wedad não conseguia firmar o pé esquerdo no chão, fato que fez com que ela permanecesse na cama por cerca de três meses. “Demorei para ir ao médico. Pensei que tomando antiinflamatório passaria. Como não adiantou, resolvi procurar ajuda”.

Em dezembro, foi até seu ortopedista que, de imediato, repassou o caso para um profissional de outra especialidade. “O doutor se assustou quando viu que eu estava arrastando o pé e não conseguia firmá-lo no chão. Disse que eu deveria ir a um neurologista”. O ortopedista cogitou a possibilidade de ser tumor na coluna, revelação feita à paciente somente após os resultados dos exames.

Wedad foi diagnosticada com neuropatia diabética. A doença é causada pelo alto nível de glicemia no sangue e a consequência é a lesão nos nervos. Para o tratamento, o médico receitou um remédio à base de vitamina. Mas o fundamental não foi o que estava escrito na receita. “Ele me disse: vai para a água fazer exercício. O teu remédio é a água”. Ela não pensou duas vezes e, em janeiro do ano seguinte, iniciou atividades de hidroginástica.

Evolução

“Quando eu cheguei lá, há seis anos, entrei de bengala e pendurada no meu marido. O professor me segurava pelos braços e o Armando (esposo) pelas pernas. Era assim que eu conseguia entrar na água. E, quando entrava, ficava apoiada na borda, sem andar”, conta. Ela começou a realizar os movimentos devagar, na medida de sua limitação. Nem mesmo as dores no dia seguinte fizeram dona Wedad desistir do tratamento. “Antes, eu tinha muita dor por causa do exercício, mas com o tempo vai passando. Vejo que isso é o que me ajuda a melhorar”.

Mudança de vida

Quem viu dona Wedad há sete anos, não imagina que hoje ela consiga realizar praticamente tudo sozinha. Seu marido, Armando José Ribeiro Lopes, 70 anos, que também pratica hidroginástica junto com ela, descreve que ela teve uma ‘evolução fantástica’. De passar a não fazer nada, a ser quase autossuficiente. “Ela faz praticamente tudo. Antes precisava de ajuda desde que se levantava até deitar”.
Dona Wedad ainda possui algumas limitações e precisa do auxílio da bengala em algumas situações. “Hoje, estou 70% bem. Falta o resto para eu sair andando sozinha. Não sei se vou ficar 100%, mas só de poder andar sem depender de ajuda é uma vitória”, comemora ela.
Depois de quase perder o movimento das pernas, lembra que a água foi a sua ‘grande salvadora’. “Se eu não levantasse, nunca mais ia andar. Queria ir todos os dias para a piscina, mas o professor não autorizou, pois é muito puxado. Chego em casa toda dolorida, mas no outro dia já sinto mais força na perna”.
Com 70 anos atualmente, hoje ela pratica hidroginástica três vezes por semana e, se depender de sua força de vontade, continuará por muito mais tempo. “Enquanto eu tiver forças, não desisto da hidro”. Nem a sensibilidade às mudanças climáticas a faz desistir. “No verão é um refresco. No inverno uma terapia”, conclui.
Idosos aderem às piscinas
Dona Wedad e seu Armando representam uma pequena parcela do grande número de idosos presentes nas academias hoje. Esta procura é gradual e o aumento é perceptível, principalmente, nas piscinas. Em algumas academias hoje já é possível ver turmas específicas para a terceira idade. Segundo o professor de hidro de uma das unidades que oferecem o serviço em Brusque, André Ricardo Marinho, o Deco, de fevereiro de 2013 até o mesmo período deste ano houve um aumento de aproximadamente 30%. Ele também observa que o perfil das pessoas que procuram a atividade também se modificou. “Antes, a busca era apenas da mulher. Atualmente, o casal está interessado em fazer junto. Isto é bom, pois um acaba incentivando o outro”. Onde ele trabalha, há duas turmas de hidroginástica. Em uma delas, no período da manhã, o número de frequentadores varia entre 50 e 60 pessoas. Já à tarde, em média de 15 a 20 pessoas comparecem às aulas.
Em outra academia brusquense, o proprietário, Rogério Moritz, afirma que o crescimento foi em média de 10%. Ele revela que, hoje em dia, o objetivo da terceira idade em procurar a prática da hidro não está ligado apenas ao bem-estar físico. “A questão da terceira idade é muito relacionada ao emocional. Os idosos tendem a se isolar. Tem a questão da depressão também por viverem, muitas vezes, sozinhos”, conta. Segundo ele, essa saída de casa para um ambiente diferenciado favorece. “Isto envolve cultura, socialização – a troca – junto com a atividade física”. Na academia de Moritz são ofertados diversos horários nos três períodos. Cada turma varia entre 10 e 20 alunos.

Água como remédio
Segundo o professor, Rogério Farcili Trindade, o Juca, a hidroginástica é a modalidade mais orientada pelos médicos. “Os idosos nos procuram já com essa conscientização. Principalmente para aliviar dores ocasionadas, geralmente, por doenças crônicas”. O motivo da preferência pela hidro, segundo ele, é o impacto nulo e o poder de proteção da água. “As limitações dentro da água são poucas. Podemos fazer qualquer exercício dentro da piscina. A água protege as pessoas idosas com problemas de articulação e, trabalhar em cima disso, sem que haja a ação da gravidade, ajuda muito”, esclarece.
Ele também comenta que 90% das doenças consideradas da ‘velhice’ são ocasionadas por falta de atividade física. “Artrite, artrose, aterosclerose. Não são doenças por velhice e, sim, por inatividade. Se a pessoa está com problema e já pratica a atividade física, sem ela, este problema piora. A inatividade leva à dor e a dor leva à inatividade”.
Seu Armando, que sofre de artrose, confirma a tese de Juca. “Dentro da água, você não maltrata. É necessário fazer para sobreviver. Se você fica sem atividade, isso só prejudica a saúde e encolhe os anos de vida. Atrapalha até na sobrevivência”.
Para evitar este tipo de doença na terceira idade, Juca recomenda que as pessoas tenham o hábito da prática esportiva desde cedo, pois ela serve como ‘manutenção da vida’. “O grande segredo de um envelhecimento saudável é ter a cultura do exercício físico. Envelhecer bem é conseguir carregar a própria malinha até o final”, conclui Juca.

O que as academias oferecem?
As academias estão, cada vez mais, abrindo espaço e se aprimorando para receber o público da terceira idade. Isto se reflete em aulas próprias para os idosos. Além de hidroginástica, algumas academias também oferecem a ginástica preventiva. Segundo a professora Ariana Cucco, a modalidade também vem tendo uma procura considerável. A finalidade é melhorar os movimentos diários. “Fazemos o alongamento para trabalhar com a flexibilidade. Por exemplo, uma pessoa com 70 anos tem dificuldades em pegar alguma coisa no armário. Essa é a intenção da preventiva: que elas possam realizar atividades normais do cotidiano”.
Esta foi a escolha das irmãs Maria Luiza, 63, e Mirna Seyferth, 61. Elas relatam que resolveram procurar uma atividade física após a menopausa. “Depois que paramos de menstruar, tranca tudo. Temos que começar a aliviar isto de alguma maneira”, brinca a primeira. No início, a alternativa encontrada por elas foi a tradicional caminhada na Beira-Rio. Mas as irmãs queriam mais. Foram para a aula de ioga e lá permaneceram por cinco anos, até que resolveram procurar a academia. As duas fazem a aula de ginástica preventiva, mas esta é apenas uma das atividades das irmãs. Dona Maria Luiza optou pela musculação. Mirna foi para o pilates. “Foi o que encontramos para melhorar o nosso desenvolvimento. Começa a dar problema de artrose, coluna e, com a atividade física, estamos superando bem isso”, afirma Maria Luiza.
Disposição
A disposição das irmãs é surpreendente. Como moram juntas, uma incentiva a outra. Não à toa, o ritmo é intenso. Há oito anos eles treinam cinco vezes por semana. Se depender delas, a rotina não tem data para acabar. “Enquanto estivermos dentro da casinha, continuamos indo. A autoestima aumenta, além das amizades que a gente faz. Conversamos com todo mundo, brincamos. Serve como uma terapia”, relata Maria Luiza.
Durante a aula de ginástica preventiva, é trabalhado o alongamento da cervical, glúteos, pernas, posterior, pés e mãos. Os exercícios servem como complemento, pois, assim como as irmãs, a maioria dos alunos também faz outras atividades, como afirma Mirna. “Faço pilates, pois, para a minha coluna é melhor. Mas sempre com a aula de alongamento para dar aquela relaxada no corpo. O alongamento é um complemento do nosso treino”.
Ariana, que também é professora de pilates e musculação, afirma que as aulas são preparadas dentro das limitações das pessoas da melhor idade e, por este motivo, ela recomenda que, antes de iniciar um exercício físico, é fundamental que um médico seja consultado.

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