Todo clube precisa da força de seu torcedor para que possa se sustentar. Ao longo das décadas, o Paysandú consolidou uma verdadeira história de amor com seus torcedores. A relação de carinho com o clube alviverde enquanto o futebol profissional ainda era ativo é difícil de ser visto nos dias de hoje.

Os torcedores do alviverde colaboravam não apenas com o apoio nas arquibancadas, mas havia um envolvimento fora das quatro linhas. Em ações para estruturação e recuperação financeira do clube, como jantares e bingos, eram os próprios torcedores que arregaçavam as mangas e colaboravam. Alguns destes torcedores iam além e colaboravam com a pintura do campo, além da confecção de faixas e bandeiras.

Muitos eram os motivos para que se escolhesse o Paysandú para torcer. Um dos principais era geográfico: quem morava perto do clube, ou ‘para cá da ponte’, como dizem os próprios torcedores, era paysanduano. Para lá da ponte, ou no Centro 1, ficavam os torcedores do Carlos Renaux. Com o tempo, o time conquistou também o status de clube mais popular. Em um concurso realizado em 1952, pela Rádio Araguaia e o jornal A Nação, de Blumenau, o alviverde foi o mais votado na cidade para este aspecto.

Considerado o clube da massa, da classe operária, as histórias de dedicação ao Paysandú se acumularam ao redor destes 100 anos.

Célio de Souza: fundador da Mancha Verde

Célio de Souza, torcedor apaixonado do alviverde. Foto: Cristóvão Vieira

Fascinado pelo Paysandú, Célio de Souza cresceu no ambiente do esmeraldino. Sua mãe trabalhou como cozinheira na família de Gerhard Appel, presidente do alviverde a partir de meados dos anos 1970. Como acompanhava a mãe no trabalho em algumas ocasiões, só ouvia falar no nome do time. Isso despertou seu interesse e o tornou mais um paysanduano – e dos mais fanáticos.

Conforme explica o hoje funcionário da Fundação Municipal de Esportes (FME), não havia jogo que ele faltasse. “Teve uma boa época em que o Paysandú não tinha iluminação. Precisava jogar sempre à tarde. Eu trabalhava na Sulfabril, em Blumenau, e mesmo assim eu dava um jeito e ia para a partida”

Na juventude, Célio formou uma das primeiras torcidas organizadas da região do Vale do Itajaí. “Eu formei a torcida organizada Mancha Verde. Tínhamos instrumentos, batucada, várias bandeiras. Fazíamos uma verdadeira festa. Quando o Paysandú jogava fora, alugávamos ônibus e acompanhávamos, conseguindo patrocínio dos empresários da cidade”.

Torcida paysanduana prestigiando jogo nos anos 1970. Acervo Jornal de Santa Catarina

Na conquista do título de 1986, Célio não perdeu sequer um jogo. Era frequentemente convidado pelos membros da própria diretoria para acompanhar partidas com eles. Na grande final, contra o Blumenau, o torcedor alviverde foi particularmente conversar com vários empresários da cidade para conseguir um total de dez ônibus para levar torcedores de Brusque. “Eu não pedia dinheiro, só dizia para acertar diretamente com a empresa de ônibus. No dia choveu muito, e só usamos nove ônibus, mas certamente encheríamos os dez em outra situação”.

A fascinação era tanta que, muitas vezes, o torcedor chegava a fazer loucuras. “Uma vez eu fui para Mafra de ônibus com dois amigos, sem ter como voltar. O dirigente da época não deixava torcedor entrar no ônibus do time. Estávamos só em três torcedores do Paysandú. Na volta, pedi para os jogadores nos ajudarem. Eles falaram que não iriam entrar no ônibus se nós não voltássemos junto com eles”.

Luciano dos Santos: criado na Pedro Werner

De torcedor, Luciano dos Santos chegou à vice-presidência nos anos 1980. Foto: Cristóvão Vieira

Outro brusquense que tem as cores verde e branca correndo nas veias é Aliomar Luciano dos Santos. Ele foi criado na rua Pedro Werner, pertinho do Paysandú. Além disso, teve envolvimento familiar na consolidação do alviverde. Seu tio-avô foi um dos fundadores. O seu avô ajudou na construção da sede atual, e a antiga sede levava o nome de sua bisavó, Maria Luiza.

Conforme explica Luciano, o Paysandú se desenvolveu principalmente entre os moradores próximos da sede e do estádio Cônsul Carlos Renaux. “Os Gevaerd e os Maluche também eram dali. Cresceu praticamente como um time de bairro. Nós ainda criança frequentávamos o clube. Batia a bola no campo, brincava, e ali fomos crescendo”.

Luciano era outro que fazia de tudo pelo clube. Quando jovem, era chamado para ajudar a equipe de bolão do Paysandú para ajudar a erguer os pinos. Conforme explica também, as famílias se envolviam muito na realidade do clube para que ele pudesse se desenvolver. “Quando tinha festa de São João, as famílias iam ajudar de forma gratuita”.

O torcedor alviverde lembra não só do período em que o estádio não contava com iluminação adequada para partidas, mas também de quando não tinha arquibancada coberta. “Era um período mais simples e divertido. As pessoas iam para o estádio para pegar um sol e assistir ao jogo. Não havia muitas outras opções na cidade. Era um acontecimento. Nos clássicos, então, era diversão pura. A cidade parava“.

Tantos anos dedicados ao clube, tanto na torcida como na organização de eventos, o fizeram ser lembrado para assumir cargos na diretoria. Em 1979, após um período inerte, pessoas novas foram procuradas para encabeçar um projeto de reerguer o alviverde. Luciano fez chapa como vice-presidente, com Darcy Pruner como presidente.

Eles foram eleitos, e além de vice, ele acumulou cargos na gerência da parte social do clube. Luciano permaneceu na diretoria paysanduana até a fusão, e depois foi dirigente do Brusque Futebol Clube por cerca de quatro mandatos.

Torcedores ilustres

Alguns torcedores paysanduanos precisam ser recordados. Caso de Lino Archer, que rodava todo o campo com um guarda-chuva na mão, fazendo barulho. Outro é Lino Tomazzoni, que utilizava um pistão que tocava em todos os jogos do clube. Ele entrava em campo e reproduzia o hino do Paysandú.

Foram torcedores do clube também grande parte dos empresários da família Renaux, como o Cônsul Carlos Renaux, Paulo Renaux, Carlos Cid Renaux, Ivo José Renaux e Ingo Renaux.


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