Em 23 de novembro de 1889, a Câmara da então vila de São Luiz Gonzaga, presidida por Guilherme Krieger Júnior, se reúne em sessão extraordinária para deliberar sobre um telegrama informando a saída de Pedro d’Alcântara (Dom Pedro II) do poder.

Na sessão, Krieger consulta os vereadores se eles reconhecem o governo republicano, proclamado dias antes, em 15 de novembro. O novo regime de governo do país é aceito por unanimidade entre os vereadores.

A transição do Império para a República, entretanto, não será tão tranquila na vila. Em janeiro de 1890, a Câmara de Vereadores é extinta e, em seu lugar, é criada a Intendência Municipal, com outras pessoas assumindo o poder.

No dia 7 de janeiro, primeira sessão do ano, foi realizada a escolha do presidente da Câmara que, até então, exerce também a função de prefeito. Na eleição, Guilherme Krieger é reconduzido ao cargo, tendo Jorge Boettger como vice-presidente. O mandato de Krieger como administrador da vila, porém, durou pouco, apenas seis dias.

Ele ainda chegou a presidir normalmente a sessão do dia 13 de janeiro. No dia seguinte, foi oficializada a dissolução da Câmara e criada a Intendência Municipal, tendo sido Carlos Renaux eleito presidente do Conselho de Intendência.

Casa de Brusque/Divulgação

A mudança ocorre de forma conflituosa, pois Krieger foi surpreendido com a nova determinação.

No dia 8 de janeiro, o dia seguinte à eleição de Krieger, Renaux, que era republicano, recebe um ofício do governador da província, Lauro Muller, informando que havia declarado que o município de São Luiz Gonzaga teria nova denominação e que a atual Câmara, então, monarquista, estava extinta.

O Guilherme Krieger não sabia de nada, não recebeu o ofício. Quem recebeu foi Carlos Renaux. Mas Guilherme Krieger não aceita e se recusa a repassar o caixa e o arquivo da Câmara para a nova intendência

E assim aconteceu. Em 14 de janeiro, a República faz prevalecer sua autoridade, instalando a Intendência Municipal. Surge o município de Brusque em 17 de janeiro de 1890. O nome é em homenagem ao Conselheiro Francisco Carlos de Araújo Brusque, presidente da Província de Santa Catarina no período da fundação da Colônia Itajahy.

A transição de regime deu início ao conflito de dois grandes líderes: Carlos Renaux e Guilherme Krieger, rivalidade que ficou marcada na política brusquense até 1915.

“O Guilherme Krieger não sabia de nada, não recebeu o ofício. Quem recebeu foi Carlos Renaux. Mas Guilherme Krieger não aceita e se recusa a repassar o caixa e o arquivo da Câmara para a nova intendência”, destaca o historiador Aloisius Lauth.

Em artigo de Ayres Gevaerd no anuário “Notícias de Vicente Só”, em 1977, há a transcrição da ata da sessão do dia 14 de janeiro, em que Guilherme Krieger envia um ofício aos intendentes dizendo que os membros da extinta Câmara não têm que entregar os arquivos e demais pertences, “visto que o archivo se acha sob a responsabilidade do secretário e a caixa de administração, do procurador da Câmara onde vos devereis ter-se dirigidos para os fins que desejáveis alcançar”.

O desentendimento foi solucionado e tão logo conseguiram, os intendentes Carlos Renaux, Frederico Klappoth, João Bauer, Adriano Schaefer e Eduardo von Buettner criaram uma comissão para analisar as contas da Câmara, que não encontrou irregularidades.

A primeira eleição popular dentro do regime republicano seria realizada somente em 30 de agosto de 1891. Carlos Renaux é eleito superintendente municipal com 57 votos. Ele já tinha grande influência política, e seria eleito para compor a Assembleia Constituinte de Santa Catarina no ano seguinte.

De acordo com Lauth, a Revolução Federalista – a guerra civil que ocorreu no sul do Brasil, após a Proclamação da República entre 1893 e 1895 -, alternou diversos conflitos entre maragatos e pica-paus, sendo determinante para que o município de Brusque fosse reconhecido no estado catarinense.

Tropas revolucionárias passavam por Brusque para chegar a Itajaí ou a Blumenau e, muitas vezes, ficavam acampadas por dias nas terras pertencentes a João Bauer, hoje centro da cidade. “Cada vez que havia uma notícia que um grupo de rebeldes chegava na cidade, as famílias mais abastadas que tinham alguma relação com a Câmara, fugiam para a região de Azambuja, o Cedro Grande e as terras da família Hoffmann, hoje Chácara Edith”, conta Lauth.

“É somente a partir desses movimentos revolucionários que a colônia Brusque, embora emancipada oficialmente em 1883, passa a ter sua consciência de município. É preciso se posicionar frente ao destino do lugar. Até então, a Câmara era apenas a consequência de um modelo de governo da Monarquia. Com a República, porém, e todos os conflitos revolucionários, é preciso mudar essa governabilidade. O fato de Carlos Renaux ser eleito para a Constituinte do Estado, e os movimentos revolucionários cortarem nosso território, isto põe Brusque em lugar de destaque. Agora, pode-se afirmar que a região do Vale do Itajaí tem três cidades: Blumenau, Itajaí e Brusque”, analisa.

É neste período conturbado de transição da Monarquia para República que Brusque dará também os primeiros passos para a virada econômica. Em 1889, o comerciante Carlos Renaux recebe uma proposta para abrir uma fábrica em Brusque, o que foi concretizado em março de 1892, quando surge a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, em sociedade com Augusto Klapoth e Paul Hoepcke, que logo saíram do negócio.  

Os primeiros operários são alguns imigrantes poloneses que tinham entrado pela colônia do Dr. Blumenau, e migrado para  uma linha colonial da Peterstrasse, em Guabiruba, reclamando das condições agrícolas.

 

Foto: Acervo Paulo Kons

Anteriormente, em 1890, o negociante João Bauer já havia tentado abrir uma fábrica têxtil em Brusque, mas não deu certo.

Renaux conseguiu, impulsionado pelo trabalho desses imigrantes poloneses provenientes de Lodz, que tinham experiência no ramo têxtil, os chamados “Tecelões de Lodz”.

Aos poucos, surge uma nova atividade econômica da cidade, monopolizando a produção por décadas seguintes. “Mudou-se essa visão de sobrevivência dos tempos coloniais, baseado em produto agrícola e exploração da madeira, e agora começa um período novo de indústria”.

Lauth destaca que esse modelo de produção industrial marca também o início da urbanização do centro de Brusque. “A industrialização passa por um caminho de urbanização, e  traz consequências para a vida econômica do lugar. O colono passa a ser ‘operário’ de manhã e ‘colono’ à tarde. A maior parte dos colonos de então quer ir pra fábrica para ter dinheiro e, depois à tarde, poder trabalhar em sua roça e vaquinha de leite para o sustento da família”.

Nos próximos anos, a produção têxtil, com outras duas grandes fábricas: a Buettner Indústria e Comércio (1898) e a Cia Industrial Schlösser (1911) é quem vai ditar os rumos da cidade e contribuir significativamente para o perfil de Brusque moderna.


Você está lendo: • Transição de Monarquia para República