Trânsito de Brusque causa 11 mortes no primeiro semestre de 2017

Paulo Henrique de Souza luta para se recuperar de grave acidente que matou a namorada; falta de atenção e imprudência transformam estradas em armadilhas

Trânsito de Brusque causa 11 mortes no primeiro semestre de 2017

Paulo Henrique de Souza luta para se recuperar de grave acidente que matou a namorada; falta de atenção e imprudência transformam estradas em armadilhas

O quanto a falta de atenção no trânsito pode custar?

Em Brusque, no primeiro semestre deste ano, custou 11 vidas, número igual ao do ano passado, no mesmo período.

O questionamento foi feito por Paulo Henrique de Souza, de 23 anos, sobrevivente de grave acidente ocorrido em 8 de maio, no Mont Serrat, ocasião em que morreu Fernanda Felício, 21, sua namorada.

Os dias de Paulo têm sido em cima de uma cama, onde busca se recuperar e amenizar as marcas que o acidente lhe trouxe. O jovem sobreviveu, mas permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por uma semana, quando finalmente acordou e recebeu a notícia mais triste de sua vida: a morte da companheira. No hospital, Paulo ficou internado por um mês e meio.

O jovem não lembra-se do acidente, pois teve a memória apagada no dia anterior. “Lembro apenas de domingo à noite, quando voltamos de encontro de motos no pavilhão da Fenarreco e ela ainda me ajudou a fazer consertos na moto. Depois só lembro quando acordei no hospital”.

Agora, em casa, o jovem realiza fisioterapias semanais para, aos poucos, voltar a ter os movimentos das pernas e, finalmente, poder andar. Atualmente, a locomoção é apenas por meio de uma cadeira de rodas. “Fiz cirurgia no tornozelo e coloquei dois pinos. Também foram colocadas duas platinas na bacia, além de dez parafusos. Ainda passei por uma cirurgia no braço”. Por enquanto, Paulo não sabe quando voltará a andar.

A recuperação dele está sendo progressiva, entretanto, ele luta diariamente com a mistura de sentimentos. Além das marcas no corpo, o acidente deixou marcas psicológicas: ora sofre pela perda da namorada, ora pela dependência de outras pessoas.

“O acidente acaba tirando a vida de todas as formas. Prejudica em tudo, pois tira tanto a vida física como a mental, pois tem o tempo para recuperação em cima de uma cama”, lamenta.

A todo momento, Paulo se mantém rodeado por amigos e familiares, o que tem contribuído bastante para a recuperação. Contudo, ele ainda não consegue planejar o futuro e o que fará quando estiver recuperado. “A intenção agora é me recuperar bem e depois ver o que vai acontecer, pois muita coisa vai mudar”.

Planos ficaram para trás
Paulo e Fernanda namoravam há cinco anos em casa e já tinham traçado um futuro juntos. “Daqui a cinco anos ela estaria formada e a gente casado e com filhos”. Ele conta que os dois sempre pensavam muito para frente.

Fernanda havia sido a primeira namorada do jovem e, agora, ele enfrenta a dor de não tê-la mais por perto. “Não consigo falar da perda dela, só falo dela com a irmã e pai dela. É muito difícil ainda para mim falar disso”.

No momento, Paulo apenas consegue usar o acidente como exemplo e lição aos amigos, familiares e comunidade. “Em um acidente, sempre haverá a culpa. Seja ele por um erro, um descuido ou falta de atenção”.

Até mesmo um mal súbito ao volante, na visão dele, pode ser evitado, pois se a pessoa não está se sentindo bem, não deveria dirigir. “Sempre aprendi isso: quando senti um mal estar, uma dor de cabeça, tontura ou algo do tipo, nunca entrei num carro para dirigir, pois não é só a minha vida em jogo, tem que pensar nas outras pessoas”.

Paulo alerta ainda que um segundo apenas pode custar a vida de alguém e destruir famílias. “O celular no volante, por exemplo, é muito perigoso. Se esse cara [motorista] perdeu um segundo para olhar o celular, eu vou perder um ano para me recuperar. E ela [Fernanda], que perdeu a vida?”.

O sobrevivente fazia o trajeto há cinco anos, praticamente todos os dias, pois na maioria das vezes ficava na casa da namorada, no bairro Primeiro de Maio, e os dois iam juntos para o trabalho.

Fernanda estava trabalhando há poucos meses  como professora no Centro de Educação Infantil Emília Floriani II, no centro comercial FIP, e ele trabalha como vendedor em uma loja próximo ao local. “Nunca senti dificuldade em fazer aquele caminho. É um lugar que não tem como se perder, para mim é só falta de atenção. É uma curva que não tem como sair fora dela. Dos dois lados, ela joga para dentro e não para a pista contrária”.

Segunda morte
Em 18 de junho, João Maria Pedroso de Moraes, 58, morreu no mesmo local em que aconteceu o acidente de Paulo e Fernanda. Neste dia, Moraes descia o morro da Associação Desportiva RenauxView de bicicleta quando, aparentemente, tentou atravessar a rodovia e foi atingido por um veículo que transitava sentido Centro ao bairro.

A Polícia Militar acredita que a bicicleta estava sem freio. Por outro lado, o teste do bafômetro feito pelo motorista acusou 0,18 mg/l de sangue, constatando que ele estava sob efeito de álcool.

Especialistas avaliam trecho

O major Otávio Manoel Ferreira Filho, responsável pelo setor de Trânsito da Polícia Militar, não vê problema evidente no Mont Serrat para que haja a necessidade de alguma alteração do traçado da via ou sinalização. Além disso, não é um local que chama a atenção pelo volume de acidentes.

“Em ambos os óbitos, aparentemente foi falha humana. No caso da Fernanda, o condutor, mesmo tendo alegado algum mau súbito, julgo ser falta de atenção, podendo ser proveniente do uso do celular. Já no ciclista, provavelmente desceu o morro sem freio ou freio insuficiente, não conseguindo segurá-la em tempo hábil”, analisa.

Por outro lado, o técnico em Circulação de Tráfego, Paulo Sestrem, que possui pós-graduação em Gestão e Segurança de Trânsito, lembra que em 2009, quando trabalhou na Secretaria de Trânsito e Mobilidade de Brusque, fez um estudo para detectar qual via da cidade causava mais acidentes.

À época, a avenida Primeiro de Maio foi a campeã de ocorrências. Em 2015, um novo estudo foi feito e constatou-se que a via que mais matava era o trecho municipal da rodovia Antônio Heil. “Nos dois estudos fizemos ações de sinalização para tentar minimizar os acidentes. No caso da Primeiro de Maio, funcionou”.

Para a rodovia, Sestrem avalia que a solução seria a duplicação, com inclusão de muretas no meio para evitar colisões frontais. Ele acredita que a obra deveria começar justamente no topo do Mont Serrat, por não ter uma boa visibilidade.

Perfil das mortes

Dos 11 acidentes com morte no primeiro semestre, em seis deles as vítimas estavam em motocicletas, dois em automóveis, outros dois eram pedestres e um estava em bicicleta. A Polícia Militar avalia que a falta de atenção somada à velocidade é o principal motivo das mortes, seguido do uso de drogas, imperícia e imprudência.

A responsabilidade das mortes no trânsito do primeiro semestre foi, em cinco casos, das próprias vítimas, em quatro deles de terceiros, um indefinido e outro foi responsabilidade de ambos os envolvidos.

Entre as vítimas, quatro tinha entre 18 a 30 anos, três de 30 a 50 anos, e outras quatro com mais de 50 anos.

Os dias com maior incidência de acidentes foram nos sábados, com quatro mortes e domingos, com três, seguidos das segundas e sextas-feiras. Os horários em que mais ocorreram as mortes foram das 7h às 19h, com cinco casos, das 19h às 24h com quatro, e da meia noite às 7h, com duas.

As vítimas


David Luís do Nascimento Lopes
18 anos
2 de janeiro, segunda-feira, à noite
Motocicleta
Travessa Dom Joaquim
Dom Joaquim

Ele colidiu em poste de energia elétrica, sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A provável causa do acidente, segundo a PM, foi imperícia somada à velocidade, além da areia na pista.


Teresinha Motta
65 anos
6 de janeiro, sexta-feira, à tarde
Pedestre
Rodovia Pedro Merizio
Dom Joaquim

Ela aguardava no ponto de ônibus e, após sinalizar para o motorista parar, passou mal e foi atropelada.


Nelson Garcia
54 anos
4 de março, sábado, às 4h50
Motocicleta
Rua David Hort
Dom Joaquim

A vítima saiu de casa de motocicleta para trabalhar quando teve a pista invadida por um Lifan, causando uma batida de frente. O causador do acidente não aceitou realizar o teste do bafômetro e alegou que invadiu a outra pista devido a presença de animal.


Wellington Júnior Machado
21 anos
Sábado, 18 de março, à noite
Carro
Rua Florianópolis
Primeiro de Maio

Ele transitava sentido Centro ao bairro e ao realizar uma ultrapassagem em local proibido, bateu na lateral de um veículo que transitava no mesmo sentido, em sua frente. Em seguida, Machado colidiu de frente contra outro veículo que seguia no sentido contrário.


Elcio Barros Franco
31 anos
Sábado, 1º de abril, à noite
Motocicleta
Rua Alberto Muller
Limeira

Ele transitava sentido Centro ao bairro quando, aparentemente, perdeu o ponto para fazer a curva com a motocicleta, invadiu a pista contrária e colidiu contra dois veículos que transitavam no sentido contrário.


Fernanda Felício
21 anos
8 de maio, segunda-feira, de manhã
Carro
Rodovia Antônio Heil
Centro 2

Ela e o namorado Paulo Henrique de Souza seguiam Centro ao bairro quando foram atingidos por um Cerato, que seguia sentido contrário e passou reto em uma curva. No local não havia marca de frenagem.


Jhony Del Valle Duarte
21 anos
Domingo, 7 de maio, à tarde
Motocicleta
Rua Quatro de Agosto
Limoeiro

Ele pilotava uma motocicleta quando foi atingido por um Audi, que seguia sentido contrário. Duarte morreu no hospital no dia 19 de maio.


Daniel Mattioli
38 anos
2 de junho, sexta-feira, às 18h45
Motocicleta
Rua Ernesto Bianchini
Guarani

Segundo a PM, aparentemente, um veículo Peugeot 206, virou à esquerda para entrar em um supermercado e cortou a preferencial da motocicleta, que ao desviar, colidiu num poste de energia elétrica. O capacete voou da cabeça.


João Maria Pedroso de Moraes
57 anos
18 de junho, domingo, às 18h40
Bicicleta
Rodovia Antônio Heil
Centro 2

Ele estava em uma bicicleta quando desceu o morro do Observatório Astronômico de Brusque, passou direto na rodovia, invadiu a pista e foi atingido por um veículo que seguia sentido Centro ao bairro.


Genivan Barbosa Pereira
48 anos
24 de junho, sábado
Pedestre
Rodovia Ivo Silveira
Steffen

Ele caminhava na companhia do filho, quando foi atropelado por um veículo Gol, que fugiu do local. Ele morreu na tarde de sábado, 22 de julho, no Hospital Azambuja.


Luiz Carlos Gamba
64 anos
25 de junho, domingo, às 20h15
Carro
Rodovia Ivo Silveira
Bateas

Ele dirigia um Astra sentido Gaspar a Brusque quando próximo a uma curva invadiu a pista contrária e colidiu contra uma árvore. Ele estava sem cinto de segurança e morreu no local.

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