Habitadas hoje apenas por uma porção de morcegos que fogem farfalhando asas ao menor sinal da presença humana, três grutas em Guabiruba já foram a esperança para muitos trabalhadores. As minas abandonadas, localizadas no Lageado Alto – cortando uma parte do Parque Nacional da Serra do Itajaí -, guardam a história de uma longa tentativa de extrair ouro e minerais preciosos na região.

Mas se por um lado a quantidade de ouro extraído nas três minas do Rio do Braço – também conhecido como Rio Esquecido – sequer pagou os investimentos para a extração, por outro, a riqueza em belezas naturais do caminho até as minas é abundante. Não à toa a trilha se tornou um dos principais destinos dos amantes do ecoturismo em Santa Catarina.

Envolvendo história, biodiversidade e o diferencial do passeio por dentro das minas, a trilha é um chamariz para aventureiros e fascinados pelo passado. O passeio comprova que Guabiruba tem uma diversidade não apenas em termos de fauna e flora, mas também em minerais preciosos, bem como rios, nascentes e cachoeiras.

Cavidades foram construídas para extração de minerais. Foto: Ivo Leonardo Schmitz

Embora tenha fácil acesso, para visitar o local é necessária a presença de um guia, principalmente no momento do acesso às minas, além de ser exigido um mínimo de preparo físico pela caminhada.

A caminho das minas
A reportagem realizou a trilha na companhia do guia Ivo Leonardo Schmitz, o Léo, e o diretor de Turismo de Guabiruba, Andrei Müller. A estrada geral do Lageado Alto já é um cartão de visitas pelas belezas naturais que serão encontradas pelo caminho.

Uma longa rua de terra, sinuosa e com um trecho acompanhado de hortênsias, plantadas em frente aos terrenos dos moradores do local, se popularizou com a abertura de chácaras no local.

Na chegada à Igreja do Lageado Alto, é preciso entrar à esquerda. O nome da rua em que se segue não poderia ser mais adequado: Estrada da Mineração. A partir do Ribeirão da Cristalina, atravessado por uma ponte pênsil, o trajeto precisa ser feito a pé.

Veja vídeo feito na mina

O caminho é íngreme e sinuoso, com alguns espaços na beira da estrada que servem de mirantes para observar o Parque Nacional da Serra do Itajaí e a imensidão verde pintada pelas copas das árvores. Os barulhos que retumbam são apenas das quedas de água das redondezas e de alguns pássaros que brincam em um espaço ainda livre da presença humana.

Depois do trecho de terra, há uma trilha quase escondida pelo mato para ser seguida à direita. Começa a chegada ao Rio do Braço, que anuncia a proximidade com as minas. Em alguns pontos do rio, há pedras para passar por cima, mas há momentos em que não existe alternativa senão colocar o pé na água. Após a travessia do rio, é encontrada a primeira mina.

Pedaços da história
Léo tomou o cuidado com a distribuição dos equipamentos de segurança para a entrada na primeira mina. São capacetes e lanternas, além de um aparelho que entra em contato com uma rede internacional de chamado de socorro. A entrada precisa ser feita de dois em dois, por ser uma gruta pequena. “Nunca tivemos nenhum incidente por aqui, mas são medidas de segurança protocolares”, explica Léo.

A primeira mina já chama a atenção pelas demarcações realizadas nos tempos da exploração do local. São números e letras que indicam o trabalho realizado na mina. Já nos primeiros passos, os morcegos dão sinal de inquietação. Seus barulhos característicos são audíveis e, assim que a mina começa a ser adentrada, eles sobrevoam as cabeças dos visitantes.

O paredão de pedras revela uma substância branca e brilhosa, específica do tipo de formação rochosa. Mais perto do fim da mina é possível verificar buracos escavados nas paredes para colocação de bananas de dinamite – nunca utilizados.

Morcegos são animais de presença constante nas minas. Foto: Guinter Schmid

O acesso para a segunda mina é mais complicado. É preciso escalar um paredão logo ao lado da primeira estrutura. A subida exige atenção e forças nos braços e nas pernas. A mina nada mais é do que um ‘segundo andar’ da gruta construída abaixo. Seu espaço é pequeno, mas o que mais se destaca é um buraco escavado para mandar os materiais encontrados na mina de cima para a mina de baixo, no intuito de agilizar o trabalho.

Para acessar a terceira mina, é preciso descer novamente até a primeira e seguir margeando o rio pela esquerda. Um acesso de cascalho anuncia a chegada no local. Esta é a gruta com mais características de uma mina de ouro. Uma parte da estrutura de madeira ainda está de pé. É a mais alta das três, porém, com o solo mais acidentado e perigoso para o acesso.

O ouro já não é mais tão fácil de ser encontrado, além de ser terminantemente proibida a extração dos minerais no local, por ser considerada uma área de preservação permanente, pertencente ao parque nacional. Mas nem por isso a trilha deixa de ser um verdadeiro atrativo histórico de Guabiruba.

Rio do Braço é caminho para a prática do canyoning. Foto: Cristóvão Vieira

Canyoning no Rio Esquecido
O Rio do Braço, que nos últimos anos passou a ser chamado também, principalmente pelos trilheiros, de Rio Esquecido, é uma longa extensão de água cristalina, pura e que salta aos olhos por sua beleza. Naturalmente, tornou-se um dos mais apreciados destinos para o canyoning.

Na maior parte da caminhada, a água alcança apenas os tornozelos, mas em alguns pontos os buracos pelo caminho fazem alcançar os joelhos. Uma trilha foi tricotada beirando principalmente o lado direito de quem segue em direção à cachoeira. Em alguns pontos é possível encontrar, inclusive, trilhas alternativas, algumas delas feitas pelos populares palmiteiros, criminosos que extraem palmito de forma ilegal em uma área de preservação permanente.

Caminho exige atenção pelas partes mais fundas do rio. Foto: Cristóvão Vieira

O caminho pelo rio exige um calçado voltado para a realização do canyoning. As pedras tomadas pelo limo e úmidas se tornam perigosamente escorregadias. Pé descalço, nem pensar: as pedras são pontiagudas e causarão ferimentos em quem tentar caminhar no rio sem calçados.

Embora exija atenção e cuidado, o canyoning retribui seu visitante com paisagens admiráveis. Em alguns momentos, os galhos de árvores dos dois lados do rio se encontram, formando arcos naturais. Este cenário, somado ao barulho do correr da água e ao oxigênio limpo e em abundância, transformam o trajeto em um dos raros encontros com a natureza em sua forma mais pura.

A extração de minerios
Osmar Vicentini ainda era criança quando um vizinho natural do Rio de Janeiro, o qual só consegue lembrar-se do sobrenome, Domingos, trabalhava incansavelmente na busca de minerais preciosos no Lageado Alto. Segundo Vicentini, o local de mais riqueza mineral não é nas minas do Rio do Braço, e sim no Morro do Carneiro Branco. “As três minas após o rio foram apenas uma tentativa de complementar as pesquisas, mas não surtiu tanto resultado quanto no Carneiro”, explica.

Pedra preciosa com ouro em seu interior, segurada nas mãos por Osmar Vicentini. Foto: Cristóvão Vieira

Depois de Domingos, uma série de outras pessoas e empresas seguiu na busca de ouro no Carneiro Branco. Foi a convite do argentino Kapucinski que ele também entrou na empreitada. “Eu passei a ajudar no transporte dos profissionais até o morro. As empresas retiravam pedras daqui, depois paravam e outras entravam. Houve muita desistência porque o ouro ficava misturado com outras substâncias nas pedras, e ninguém conseguia separar o mineral precioso dos outros conteúdos.”

Vicentini afirmou que foram retirados das minas abandonadas e do Carneiro Branco ouro, cobre, tungstênio, grafite e até mesmo urânio. Alguns destes materiais, como grafite e ouro, ele guarda em pequenos frascos.

Período de extração de minerais no Morro do Carneiro Branco. Foto: Arquivo Pessoal Osmar Vicentini

Em um álbum de fotos também estão as memórias e recordações de um período de muita pesquisa, com uma série de especialistas e geólogos que trabalharam em um período em que as pedras podiam ser exploradas. “Esse aqui é um dos locais mais ricos do Brasil, mas poucas pessoas conhecem. Espero que sejam realizadas muitas trilhas, porque nossa terra precisa ser admirada e preservada”.

Ele também apresentou uma grande pedra branca cheia de cavidades, sendo que em algumas delas há pequenos pedaços de ouro. “Com certeza tem ouro aqui dentro, só não sei quanto. Mas eu não vou abri-la nunca”, afirma.

Serviço

Trilha das Minas Abandonadas 
Endereço: Estrada da Mineiração, bairro Lageado Alto
Acesso: Particular. Necessária autorização da família Vicentini.
Nível de dificuldade: Fácil
Riscos: Trilha escorregadia
Sinalização: Não há


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– Casa do Mel
– Carneiro Branco
– Mordida do Gigante
– Spitzkopf
– Mancha Branca
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