José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Uma geração memorável

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Uma geração memorável

José Francisco dos Santos

Alguns períodos da história são profícuos em produzir gênios. Assim foi a época de Platão e Aristóteles, na Grécia, a Idade Média de Tomás de Aquino, Boaventura e Duns Scotus ou o Renascimento de Leonardo Da Vinci e Michelangelo.

As últimas décadas do século XIX, no Brasil, podem ser consideradas como um período assim. Nessa época, o Brasil vivia uma profunda crise de identidade. Um importante estudo sobre esse tempo afirma que, como nação, o Brasil simplesmente não existia. Nossa identidade ainda estava presa à herança portuguesa, a escravidão produzia uma exclusão brutal de grande parte dos brasileiros e o analfabetismo assolava o país, atingindo mais de 70 % da população.

Machado de Assis, um dos intelectuais memoráveis dessa época, escrevia sobre o perigo dessa ignorância em massa. Nas palavras do grande escritor, a instrução pública era prioritária para que o país entrasse na “marcha da civilização”. Ao lado de Machado, dois outros gigantes enfrentavam a mesma luta para “inventar a nação e remodelar o Estado”. Eram Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. Nabuco foi político, jurista, diplomata e jornalista e é, sem dúvida, o nome mais importante na luta pelo abolicionismo, ao lado da Princesa Isabel. Rui Barbosa é um dos maiores intelectuais da nossa história, e teve papel fundamental na constituição da República, apesar de ser, pessoalmente, defensor da monarquia.

A atuação dos três foi decisiva na formação da identidade do país. Infelizmente, as decisões políticas fundamentais acabaram passando pela caneta de gente muito menos dotada intelectualmente e comprometida com interesses menos nobres, e o atraso de que falava Machado de Assis, há um século e meio, ainda nos assombra.

Precisamos recuperar a memória desses grandes homens, especialmente dessa geração, que ainda teve Castro Alves e Euclides da Cunha, apenas para citar dois dos nossos mais conhecidos escritores. Eles nos ajudam a tomar consciência de como a intelectualidade do país decaiu, apesar de termos escola acessível a todos. Machado de Assis ficaria horrorizado com os analfabetos escolarizados de hoje. Na época dele, os analfabetos não frequentavam escolas. Como o ensino vai ficando cada vez pior, fica sempre mais difícil formar novos intelectuais, pois os bons mestres também se tornam escassos.

Vivemos uma crise similar à do século XIX. Tentamos sair do atraso, mas patinamos nos velhos vícios e deficiências. Relembrar esses gigantes pode nos ajudar a reencontrar o caminho que, certamente, passa muito longe do MEC!

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