Uso de máscaras dificulta comunicação para pessoas surdas em Brusque

Deficientes auditivos contam experiências em meio à pandemia da Covid-19

Uso de máscaras dificulta comunicação para pessoas surdas em Brusque

Deficientes auditivos contam experiências em meio à pandemia da Covid-19

A pandemia da Covid-19 tem dificultado ainda mais a comunicação para a comunidade surda em Brusque. O vice-presidente da Associação de Surdos de Brusque (Asbru), André Roberto Fachini, de 29 anos, conta que a máscara é o principal dificultador. “Não conseguimos ver a boca das pessoas, aí fica difícil para fazer a leitura labial”. 

O atendimento em farmácias, lojas e mercados e demais estabelecimentos, que antes já era considerado precário pelos deficientes auditivos, ficou ainda mais complicado. “As pessoas não entendem que é difícil para nós. Como nesses locais não tem intérprete, fica tudo difícil. É muito triste”, desabafa Fachini. 

Segundo o vice-presidente da Asbru, o uso de máscara transparente ajuda na comunicação, porque é possível ver a boca. “Melhor seria intérprete, mas não temos isso, então a máscara transparente já ajuda”, comenta. 

Como a maioria das pessoas não utiliza a máscara que tem a parte transparente, ele diz que às vezes pede para abaixarem a máscara. 

Camila Carolina da Costa Voss tem deficiência auditiva bilateral profunda. Ela utiliza implante coclear há três anos, mas tem dificuldade para ouvir e por isso precisa acompanhar a leitura labial para compreender. “Eu quero evitar tirar a máscara, mas o único jeito de comunicação é leitura labial”. 

Ela utiliza o celular para auxiliar na comunicação. Quando vai ao banco, por exemplo, digita no celular explicando para a atendente que é surda. Em lojas, pede para tirar a máscara para poder acompanhar a leitura labial. Quando pede o preço dos produtos, pede para mostrarem a calculadora ou então digitar no celular. Camila diz que os restaurantes que frequenta estão adaptados ao modo de comunicação dela. 

Thobias Orsini Diegoli tem a mesma dificuldade de comunicação. “Dificuldade como todos, em comércio, educação, saúde. É triste.”

Ele conta que no início da pandemia pedia para retirar a máscara, por estar preocupado em errar no serviço. Ele também pede para escrever no papel. Tomando todos os cuidados, mantendo o distanciamento e usando álcool em gel, não contraiu a Covid-19. 

Trabalho e estudo

Fachini é auxiliar de embalagem. Ele conta que precisa se adaptar e pedir para falarem devagar e mais alto. “Só que tem pessoas que não querem nem saber e acham que a gente tem que entender”. 

A profissão de Camila é auxiliar de gestão de pessoas. No setor onde trabalha a equipe respeita o distanciamento de 1,5 metro, então tiram a máscara para poder se comunicar com ela.

“Quando os colaboradores ou clientes vêm, a recepção está pronta para explicar que sou deficiente auditiva e se necessitar, tirar a máscara para poder comunicar”. Para repassar os comunicados, a profissional utiliza WhatsApp e e-mail. 

Na faculdade, como a aula é on-line e os professores não estão utilizando máscara, é mais tranquilo para Fachini entender o conteúdo. Ele diz que tem um intérprete de Libras, mas que às vezes não está na aula. “Mas às vezes ele participa, aí é melhor”. 

Falta acessibilidade

A falta de pessoas que sejam fluentes em Libras é outro grande dificultador para a comunicação. Segundo o vice-presidente da Asbru, não existem estabelecimentos na cidade com profissionais capacitados para o atendimento aos surdos. “É tudo muito precário”. 

Fachini relata que muitas vezes tem a ajuda da família. “Sozinho, nem sempre consegue entender e conseguir as coisas”. Para se vacinar contra a Covid-19, por exemplo, levou a mãe junto. 

No caso de Camila, ela percebe que as pessoas dão atenção. “A maioria já está acostumada”. Porém, ressalta que se as pessoas soubessem pelo menos o básico de Libras, já seria mais fácil.  

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