Vacina, ontem e hoje: o preconceito continua
Segundo uma nota da Gazeta Brusquense de 20 setembro 1917, uma “munícipe” tinha chegado de Blumenau contagiada pela varíola ou por uma grave varicela, não se sabia ao certo. Logo que tomou conhecimento da notícia, o prefeito da época, Vicente Schaefer, telegrafou ao secretário-geral do Estado pedindo que mandasse a Brusque um Delegado de Hygiene e também vacinas.
A fim de prevenir uma possível epidemia na cidade, mandou isolar a casa de Carl Nuss. Cidade pequena, pouco mais de mil pessoas no centro urbano, todos logo ficaram sabendo quem era a doente infectada. E, como há pouco tempo, desviávamos do próximo com medo da Covid-19, os vizinhos passavam ao largo da sitiada casa da família Nuss. Afinal, coragem e solidariedade existem para outros desafios e perigos. Da doença contagiosa, todos correm.
Na semana seguinte, o jornal informou que o “hábil médico” já tinha examinado a doente. Tratava-se de um “caso grave da varicela, doença contagiosa, mas não tão terrível quanto a varíola”. Noticiou, também, que as vacinas solicitadas já haviam chegado a Brusque e que o farmacêutico Jorge Boettger era o encarregado de aplicá-las, gratuitamente. O problema seria convencer a população a se vacinar.
A varíola sempre foi uma doença terrível, causadora de graves epidemias e muita morte. E, com a ameaça pairando sobre a cidade, é possível que os brusquenses estivessem dispostos a enfrentar a agulha injetora do soro imunizador. Mas, naquela época, vacina era coisa nova e muitas pessoas não acreditavam na sua eficácia imunizadora. Pior, alguns metidos a doutor ainda conspiravam contra, propagando o discurso de hipotéticas doenças e reações causadas pela vacina.
Parece que o preconceito continua. Segundo a imprensa, o Brasil está enfrentando um surto de influenza, essa gripe que pode causar a morte. Nada menos do que quinze Estados encontram-se em situação de alerta ou alto risco para casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Mesmo assim, a cobertura vacinal contra a gripe mal chegou a 35% do total das pessoas previstas para serem imunizadas.
Muitos deixam de se vacinar, por preguiça. Outros, por acreditar que são fortes ou sortudos a ponto de terem o corpo fechado contra doenças contagiosas. No entanto, muitos ainda acreditam que a vacina pode causar mal e deixar sequelas graves. E citam exemplos sem base científica que, para eles, são “provas indiscutíveis” das suas equivocadas crenças.
A verdade e os fatos aí estão, para quem quiser ver: a varíola, a paralisia infantil, a febre amarela, o sarampo e tantas outras doenças foram erradicadas graças às vacinas, que têm livrado a humanidade de mortes precoces sem conta.