Vencer ou morrer – versão atualizada do clássico do italiano Renzo Maria Grosselli é lançado pela Unifebe
No próximo dia 3 de novembro o Centro Universitário da Fundação Educacional de Brusque (Unifebe), que editou o livro, sedia o primeiro lançamento da edição atualizada do clássico “Vencer ou Morrer: Camponeses Trentinos (Vênetos e Lombardos) nas Florestas Brasileiras – Santa Catarina 1875–1900”, de autoria do sociólogo, historiador e escritor Renzo Maria Grosselli, que estará presente no lançamento.
Com base nos relatos do autor, é possível presentear o leitor com uma síntese do processo de pesquisa e escrita do “Vencer ou Morrer”. No outono europeu de 1982, Grosselli iniciou as investigações que culminariam nesse clássico. Durante um ano, mergulhou em extensa bibliografia sobre o Trentino do século XIX, a colonização no Brasil e a história de Santa Catarina, enquanto trabalhava no Arquivo de Estado de Trento. Reconstruiu a epopeia migratória entre 1850 e 1890, identificando fluxos para o Brasil, Argentina, Austrália e Estados Unidos, e reuniu cerca de 16 mil nomes — parte dos mais de 30 mil trentinos que cruzaram o Atlântico.
Por meio de pesquisas nos arquivos do norte da Itália, Grosselli delineou com fidelidade o panorama político, social e econômico do Trentino que originou a chamada “febre americana”. Sua análise revelou as profundas transformações da sociedade camponesa diante do avanço do capitalismo no século XIX. Enxergou a emigração como uma verdadeira revolução dos camponeses, que buscaram na América a sociedade solidária que estavam perdendo na Europa. O papel da Igreja Católica, sempre presente nesse contexto, foi examinado com sensibilidade e rigor, evidenciando sua influência na formação moral e cultural dos emigrantes.
Sem apoio institucional, o pesquisador custeou a própria viagem com sacrifícios pessoais e familiares. Em setembro de 1983, partiu com sua esposa, Annarosa Gianotti, e a filha Serena, de apenas um ano, rumo a Nova Trento. Acolhidos pela comunidade local, instalaram-se modestamente e iniciaram o trabalho de campo: levantamento bibliográfico, observação direta e aplicação da história oral.
Durante oito meses, Grosselli pesquisou em nove arquivos — entre eles, o Arquivo Público do Estado, o Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (Blumenau), o Arquivo da Sociedade Amigos de Brusque, a Cúria Metropolitana de Florianópolis e o Cartório Paulina Rachadel (Nova Trento). Nessas instituições, identificou listas de imigrantes e locais de origem, a partir de registros de batismos, casamentos e óbitos.
Em Florianópolis, Brusque e Blumenau, reconstituiu o conturbado processo de colonização por italianos e por imigrantes tiroleses italianos nas colônias Blumenau e Brusque — e, em menor escala, em Luís Alves, Azambuja e Grão-Pará. Foram examinados relatórios, registros civis, correspondências e livros de contabilidade. A colaboração de pesquisadores como Sueli Petry e Ayres Gevaerd foi decisiva; este último chegou a entregar-lhe as chaves do Arquivo do Museu Casa de Brusque, gesto que simboliza a confiança e solidariedade. Grosselli também registrou dezenas de entrevistas em mais de 20 horas de depoimentos, que revelaram o cotidiano, as esperanças e as dificuldades dos descendentes trentinos.
Longe de ser retórico, o título “Vencer ou Morrer” traduz com precisão a carga emocional dos imigrantes que, ao esperarem terras prontas, enfrentaram a floresta, os indígenas, o isolamento e a solidão. A experiência do autor viver um tempo no Brasil deu à pesquisa uma dimensão humana singular, transformando-a em testemunho de fé e resistência.
Publicado em 1986, em italiano, e em 1987, em português, o livro une rigor científico, sensibilidade social e paixão pela história, revelando sob o olhar de Grosselli a coragem dos camponeses trentinos que, ao cruzarem o oceano, ajudaram a construir o Brasil meridional com trabalho, fé e esperança.
