Famosos pela costura sob medida e bainhas impecáveis, Walter Reinoldo Steingraber, de 90 anos, e Valinga Müller Steingraber, de 85, moradores do bairro Santa Rita, carregam uma bagagem de boas histórias na costura. Walter entrou para a área aos 14 anos e Valinga começou na costura assim que casou, aos 18 anos.

Até os 35 anos, o patriarca trabalhava de tecelão na empresa Iresa e ao chegar em casa, ajudava a esposa na sala de costura que mantinham. Era ali que confeccionavam ternos, paletós, camisas e calças para a clientela. O caderno de anotação mantido por Walter era sempre cheio. Ali continham os pedidos com nome do cliente e todas as suas medidas, para que nada saísse errado. O motivo para tanto capricho era devido ao belíssimo trabalho final feito pelas mãos do casal.

Junto com o atelier, os dois ainda vendiam alguns aviamentos. A filha Valtrudes Steingraber Comandoli, 66, lembra que os pais não tinham fim de semana, especialmente a mãe, que passava o domingo enchendo carretéis de linha para vender.

Walter passou a vida atrás das máquinas de costura, em casa / Foto: Miriany Farias

Foi com a profissão de costureiros que o casal criou os seis filhos. Mesmo crescendo entre retalhos e linhas, nenhum deles seguiu o ramo dos pais. “A gente fazia porque gostava e porque tinha que sustentar os filhos. Era o que sabíamos fazer”, conta Valinga.

Walter lembra que na sua época tudo era manual, por isso, para fazer um paletó, levava até uma semana para produzir, dependendo do modelo. “É uma profissão muito boa”, garante o aposentado.

Com habilidade na costura, principalmente masculina, Valinga é quem produzia as roupas dos filhos homens, como forma de economizar com compras. Já o trabalho de Walter é lembrado até hoje na cidade pela perfeição na costura.

Mesmo com toda idade, nunca quiseram parar. Só largaram mesmo por conta dos problemas de saúde e porque nós achamos melhor para eles. Eles são nossa inspiração.

Valtrudes Steingraber Comandoli, filha do casal

Por problemas de saúde que a deixaram praticamente cega, há cinco anos Valinga precisou abandonar as máquinas. Durante o período em que ficou internada no hospital, seu inconsciente ainda a fazia ‘costurar’. “Sentada na cama, a mãe gesticulava como se estivesse pregando botões em camisas”, conta a filha Valtrudes.

Mas ela não é a única a costurar na imaginação. Valinga relata que o marido muitas vezes sonha que está costurando. “Ele senta na cama e pergunto o que está acontecendo, ele diz que está fazendo bainha de calça. Isso tudo enquanto dorme”, entrega.

Walter abandonou a profissão um pouco mais tarde que a esposa. Com 88 anos é que os filhos fecharam as portas do atelier e impediram o pai de entrar para costurar, por motivos de saúde.

Porém, a decisão dos filhos deixou o pai muito bravo, pois não queria largar a costura. Como recordação, Walter guardou em casa uma única máquina de costura bastante antiga, da marca Pfaff. “Essa quero guardar para mim”, diz.

Para os filhos, o casal é exemplo de dedicação e amor pela profissão. “Mesmo com toda idade, nunca quiseram parar. Só largaram mesmo por conta dos problemas de saúde e porque nós achamos melhor para eles. Eles são nossa inspiração”, relata Valtrudes.


Sem idade para começar

Foi com 62 anos que Seli Muhlbeier dos Santos, hoje com 69, teve a carteira assinada pela primeira vez e, com grande orgulho, como costureira. Porém, antes disso, ela já havia realizado trabalhos em casa, ainda quando morava em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.

Seli Muhlbeier conseguiu primeiro emprego com carteira assinada em Brusque / Foto: Miriany Farias

Seli lembra que quando casou, era regra ter que aprender a costurar e foi assim que teve os primeiros contatos com a máquina. “Trabalhava em casa, fazia roupa para a família e depois comecei a fazer roupas sob medida para fora”, lembra.

Há 25 anos, a costureira recebeu uma oportunidade de ingressar na faculdade e foi então que se formou em Letras. Porém, nunca abandonou a costura. “Eu aprendi a costurar por necessidade e criei um gosto muito grande, então nunca pensei em fazer algo fora disso, mesmo sendo formada em outra área”, conta.

Eu sou a mais velha da empresa, mas não vejo nada que possa me prejudicar. Claro, como em toda profissão, tem dias que é mais puxado, mas nada que me faça desistir. Só sairei de lá o dia que não me quiserem mais.

Seli Muhlbeier dos Santo

A costura em casa foi se tornando cansativa, por ser mais difícil e trabalhosa. Por um tempo, Seli abandonou as máquinas. Foi então que se mudou para Brusque. Em pouco tempo na cidade foi convidada para trabalhar como costureira em uma empresa e desde então nunca mais parou. “Faço conserto dos produtos e também peças para a loja da empresa”.

Ver o trabalho pronto é o que deixa a costureira satisfeita. Ela avalia que a profissão sempre fez parte da vida dela e de sua história. “Nunca consegui me desviar disso e sou feliz assim, pois é o que me dá prazer”.

Ingressar em uma empresa com a idade mais avançada não foi problema para a profissional. “Eu sou a mais velha da empresa, mas não vejo nada que possa me prejudicar. Claro, como em toda profissão, tem dias que é mais puxado, mas nada que me faça desistir. Só sairei de lá o dia que não me quiserem mais”, brinca.

Para ela, a empresa é sua segunda casa, pois é nela que passa a maior parte do seu tempo. “Tenho muito apreço por tudo isso e satisfação pelo meu trabalho e pessoas que me rodeiam”.