Voluntários da Pátria: há 160 anos, homens de Brusque partiram para a Guerra do Paraguai

Espada possivelmente usada por um deles no conflito está exposta em um museu da cidade

Voluntários da Pátria: há 160 anos, homens de Brusque partiram para a Guerra do Paraguai

Espada possivelmente usada por um deles no conflito está exposta em um museu da cidade

No dia 14 de outubro de 1865, há exatos 160 anos, um grupo de 25 homens deixou a então colônia Itajahy-Brusque rumo à capital da Província, Desterro, hoje Florianópolis.

Em uma lancha e duas canoas, eles seguiam para se apresentar como voluntários na Guerra do Paraguai, atendendo à convocação feita pela Lei nº 3.371, de 7 de janeiro daquele mesmo ano, que instituiu o alistamento para o conflito.

Brusque, que tinha apenas cinco anos de fundação, conseguiu reunir esse número expressivo de voluntários graças à mobilização conduzida pelo diretor da colônia, Maximilian von Schneeburg, responsável por organizar o alistamento entre os colonos germânicos.

Segundo registros do historiador Ayres Gevaerd, o processo levou cerca de 15 dias, após Schneeburg receber autorização do presidente da Província para abrir o voluntariado.

Houve resistência por parte de alguns nomes influentes na colônia. O agrimensor (responsável por demarcar terrenos e propriedades) Frederico Heeren e o ex-secretário Guido de Sekendorf tentaram disputar com o barão a liderança do movimento, mas Schneeburg manteve o controle da situação, conduzindo o processo com diplomacia.

Antes da partida, foram realizadas reuniões para esclarecer os benefícios oferecidos pelo governo imperial: cada voluntário receberia um abono de 300$000 (trezentos mil réis), sendo metade paga antes da viagem.

Além disso, as famílias dos alistados teriam direito a quotas mensais. No dia 14 de outubro, após uma última reunião em uma taberna na sede da colônia, os voluntários seguiram até a Barra do Rio Itajaí e, de lá, embarcaram com destino a Desterro.

Nomes dos voluntários

A relação dos que partiram de Brusque incluía Guido de Sekendorf, que assumiu o posto de tenente, e outros 24 homens, são eles:

  • Augusto Peters;
  • Roberto Schmidt;
  • Ricardo Vollrath;
  • Frederico Moritz;
  • Germano Glokenkemper;
  • Valentin Schaefer;
  • Simão Habitzreuter;
  • Eduardo Becker;
  • Eduardo Bachmann;
  • José Schorck;
  • Guilherme José Oelhafen;
  • João Schwanberger;
  • Antônio Dinkelborg;
  • Emílio Puhlmann;
  • Vicente J. Barth;
  • João José Hermes;
  • José Schlindwein;
  • Augusto Jansen;
  • João Zabel;
  • Cosmo Vogel;
  • Francisco A. Day;
  • Guilherme Oestrenger e um brasileiro cujo nome não consta nos registros.

Mais tarde, surgiram indícios de que esse voluntário anônimo poderia ser José Galiza ou Raymundo Rodrigues, este último descrito por Gevaerd como “de cor preta” e falecido em Brusque quase centenário e em condições humildes.

Além do primeiro grupo, outros sete colonos se alistaram meses depois, em 8 de fevereiro de 1866, liderados por Eugênio Rieger. Entre eles estavam Bernardo Josiger, Detlef Sacht, Antônio Boos, Henrique Sacht, Germano Boos, Henrique Doreakot e Antônio Straub.

Espada possivelmente usada na Guerra do Paraguai por um brusquense (ela pode ser visitada no Museu Casa de Brusque):

Otávio Timm/O Município

O esquecimento dos bravos

Pouco se sabe sobre o destino dos voluntários após a guerra. Alguns retornaram a Brusque, outros se mudaram ou morreram no conflito.

Em 1877, viúvas e veteranos ainda enviavam requerimentos ao governo solicitando o pagamento dos benefícios prometidos, mas, conforme relatou Gevaerd, muitos nunca receberam o que lhes era devido.

“É certo que sofreram agruras por falta desse direito que o Governo garantira antecipadamente. É bem possível que alguns tiveram o amparo de almas generosas”, escreveu o historiador em texto datado de 14 de outubro de 1965, publicado por ocasião do centenário da partida.

Entre os que tombaram em combate, estão Antônio Dinkelborg, Germano Glokenkemper, Guilherme Ostringer, Guilherme José Oelhafen e Valentin Schaefer.

Já entre os que retornaram, há registros de que Francisco A. Day solicitou terras como veterano da guerra, enquanto outros pediram gratificações e pensões que, na maioria dos casos, nunca chegaram.

Um chamado à memória

Ayres Gevaerd concluiu seu relato com um apelo à preservação da memória dos voluntários de Brusque. Para ele, a cidade deveria perpetuar o nome desses homens que, mesmo recém-chegados à nova pátria, atenderam ao chamado para defendê-la.

“Brusque de hoje bem que poderia, decorridos 100 anos da partida de seus voluntários, render-lhes homenagem, fazendo inaugurar uma rua na forma como tantas outras cidades brasileiras o fizeram: Rua Voluntários da Pátria”, escreveu o historiador.

O apelo de Gevaerd, no entanto, só se concretizou em 2012, quando o então prefeito de Brusque, Paulo Eccel, sancionou a Lei Ordinária nº 3.518/2012, que deu o nome de Voluntários da Pátria a uma rua no bairro Thomaz Coelho.

O que foi a Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai (1864–1870) foi o maior conflito armado da América do Sul, envolvendo o Paraguai contra a Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai.

A guerra teve início após disputas territoriais e comerciais na Bacia do Rio da Prata e agravou-se quando o ditador paraguaio Francisco Solano López ordenou a invasão de territórios brasileiros e argentinos.

Operações militares da Guerra do Paraguai | Foto: reprodução

O Brasil, então governado por Dom Pedro II, enviou milhares de soldados, entre eles, voluntários e escravizados libertos em troca do serviço militar.

O conflito devastou o Paraguai, que perdeu grande parte de sua população masculina e viu sua economia arrasada.

Brasileiros enviados para a Guerra do Paraguai | Foto: Biblioteca Nacional/Domínio Público

Para o Império brasileiro, a guerra consolidou a presença militar no sul do país e reforçou o sentimento de unidade nacional, mas também deixou marcas profundas, especialmente entre os combatentes e suas famílias. Muitos veteranos, como os de Brusque, voltaram sem reconhecimento e sem receber os benefícios prometidos.

A guerra terminou em 1º de março de 1870, com a morte de Solano López, encerrando um dos capítulos mais sangrentos da história sul-americana.


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Antes da Estaiada: conheça a história das antigas pontes do Centro de Brusque:


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