José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Razão, Religião e Escola

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Razão, Religião e Escola

José Francisco dos Santos

Aproveito esta semana especial para os cristãos para refletir sobre algumas confusões que, infelizmente, têm sido comuns na relação entre o que é laico e o que é religioso.

Neste final de semana, uma vizinha dizia que sua filha, que frequenta uma escola pública em Itajaí, reclamou de um professor de informática que passou quase o tempo todo da aula tentando convencer os alunos (adolescentes dos últimos anos do ensino fundamental) de que Deus não existe. Como se pode ver, esse tipo de desvio de finalidade nas aulas não é exclusividade da história, filosofia e outras da área de humanas. Os departamentos de ciências humanas das universidades costumam ser território em que qualquer um pode afirmar qualquer coisa, já que eles decidiram que verdade não existe. Então não é incomum que os professores que saem de lá sigam replicando as teorias mirabolantes que aprendem. Mas uma aula de informática deveria ser algo bem mais objetivo. O fato de um professor dessa área se dar ao trabalho que catequizar os adolescentes para a sua igreja ateísta ou para a sua confusão mental mostra que o problema está mais disseminado do que se possa imaginar. Conheço casos de professores de contabilidade, matemática, química que usam o mesmo expediente. Eu mesmo já me indispus com um professor de inglês de um curso particular, que usava o precioso horário da aula para despejar sua “sabedoria” teológica.

Não se trata de uma discussão racional entre iguais, mas do uso da autoridade intelectual de um professor para incutir o que não diz respeito à sua área de conhecimento. Ora, se vou aprender informática com quem entende do assunto, pouco me interessa suas crenças ou descrenças. Vou segui-lo fielmente no que disser respeito ao seu conhecimento técnico.

Essa propaganda ateísta é fruto de uma mentalidade que já vem de séculos, segundo a qual o conhecimento racional e a fé são incompatíveis.  Isso remonta ao Iluminismo, filosofia que arrebatou muitas mentes no século XVIII e impulsionou a Revolução Francesa. Para esses “iluminados”, a religião era sinônimo de obscurantismo e crendice, e um empecilho ao progresso da humanidade. Depois veio o Positivismo do século XIX, o socialismo e muitos “ismos”, que chegaram até nós em forma de “relativismo” e a nova modo do “neopaganismo”. O que todos esses novos e antigos “iluminados” ignoram, por desconhecimento ou por má intenção, é que foram dos mosteiros medievais e das escolas das catedrais que nasceram as universidades e o espírito científico e que o Vaticano continua sendo um dos principais fomentadores da ciência (a teoria do Big Bang tem como um dos seus principais teóricos um padre católico). Para qualquer pessoa que analise esse assunto com um pingo de honestidade e conhecimento histórico, não há nenhuma oposição entre razão/ciência e religião. São campos complementares, que respondem a questões diferentes, e podem viver em plena harmonia.

Não pretendo, com essa argumentação, converter ninguém. Que cada um siga seu próprio pensamento e creia ou descreia do que bem entender. Mas vamos parar de usar os ouvidos e mentes das nossas crianças e jovens, em horário de aula, para despejar nossas duvidosas convicções pessoais. Há muito conteúdo intelectual que não está sendo ensinado como deveria ser. Deixem a catequese para as Igrejas.

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