Hoje a gente volta à viagem no tempo que começamos há duas semanas, numa ré de 50 anos, direto ao inesquecível 1968. Os discos que vamos ouvir, hoje, são os brasileiros. Então, não tem como fugir de uma só palavra que define os lançamentos mais importantes daquele ano: Tropicália.

O lançamento em vinil do movimento que reinventou a MPB nos anos finais da década de 60 é um marco histórico. Que já foi aplaudido e criticado, ao longo dos anos.

Foi uma revolução estilística, incluindo toda a influência da música pop estrangeira e o uso de instrumentos elétricos. Foi também uma revolução poética, que fez questão de unir a linguagem urbana aos “penúltimos” gêneros genuinamente nacionais, como os ritmos nordestinos e caipiras, que tinham sido mais ou menos deixados de lado com a paixão pela Bossa Nova e sua evolução natural na MPB sessentista.

A Tropicália queria tirar, dessa mistura, uma linguagem própria, uma cultura pop tropical. Os discos lançados em 1968 mostram essa “cara” de movimento, com músicos aparecendo em vários discos e com a produção quase onipresente de Rogério Duprat.

Foi em 68 que estrearam os Mutantes, depois de terem acompanhado Gilberto Gil no ano anterior no Festival da Record, com Domingo no Parque. O disco de estreia do trio paulistano, produzido por Duprat, tinha parcerias de Caetano e Gil (Panis et Circencis e Bat Macumba), de Caetano sozinho (Baby, que também foi gravada por Gal Costa, no disco lançado em 1969), Jorge Ben (A Minha Menina). Na estreia, Rita Lee e os irmãos Baptista tiveram uma participação pequena, como compositores.

O álbum Tropicália ou Panis et Circencis, assinado por Duprat, também tinha os Mutantes, Caetano e Gil, mais Gal Costa, Nara Leão e Tom Zé. Mais que um disco, é um manifesto, um resumo certeiro da Tropicália. Na dúvida, se tiver que levar só um disco tropicalista para uma ilha deserta ou queira presentear um estrangeiro com o objetivo de mostrar para ele o que foi a música brasileira daquela época… é esta a escolha perfeita.

Tanto Caetano quanto Gil lançaram seus segundos discos em 1968. Ambos, adivinha, produzidos por Duprat. Ambos incluíam as músicas que participaram do Festival da Record do ano anterior, Alegria, Alegria e Domingo no Parque. Ambos aprofundavam a estética e a mistura de estilos. Ambos tinham guitarras elétricas. No disco de Gil, não tem como não destacar Procissão. No de Caetano, é uma delícia reouvir sempre Superbacana e Soy Loco Por Ti, América (composta por Gil, Torquato Neto e Capinam).

Tom Zé, o tropicalista fora dos padrões do estilo (e fora dos padrões da turma), lançou seu disco de estreia, Grande Liquidação, fora da aba de Duprat. Seu produtor foi João Araújo, também conhecido como o pai do Cazuza. O carro chefe do disco foi o lindo hino São, São Paulo, que ganhou o Festival da Record em 1968.

Saindo totalmente da Tropicália, 1968 é também o ano do Volume 3 de Chico Buarque, um daqueles discos difíceis de pinçar uns poucos destaques. Se for para continuar escolhendo as músicas que participaram dos festivais da Record, é o disco que tem Roda Viva.

1968 foi um ano politicamente difícil e criativamente fértil, com muitos outros discos fundamentais. Que tal uma playlist para mergulhar fundo naquele ano?