Hoje é dia de sintonizar a TV no ano de 1978, com suas estreias de séries “enlatadas” e suas novelas e programas nacionais mais inesquecíveis. Ou seja, é dia de levar um susto por tanta coisa muito conhecida estar comemorando quarenta aninhos desde seu aparecimento nas telinhas. É tempo.
Dá para apostar que a série de TV mais popular que foi lançada em 78 é Dallas, um daqueles dramalhões com alma de novela que tinha tudo para fazer sucesso: mostrava a vida de gente rica, tinha vilões e mocinhos bem marcados… e ainda fez o público de bobo, com suas reviravoltas no roteiro (alguém aí ainda lembra da nona temporada, aquela que girava em torno do assassinato de Bobby Ewing (o “homem do fundo do mar” Patrick Duffy)? Alguém ainda lembra o que aconteceu com a história no começo da décima temporada? Pois é, no final das contas… era tudo um sonho. Uma das soluções mais vergonhosas da história das séries.
Dallas, é preciso dizer, tinha como um de seus vilões principais o “Major Nelson” (de Jeannie é um Gênio) Larry Hagman, que vivia J.R. Ewing. O ator morreu bem quando a série tinha sido retomada com parte de seu elenco original, em 2012.
As próximas duas séries que a gente tem que destacar aqui têm suas datas de estreia um tanto controversas, já que são colocadas na categoria 1978, mas tiveram seus episódios piloto veiculados, nos States, no final de 77. Já que nós, aqui no Brasil, devemos ter tido um atraso ainda maior até ter contato com elas, fica valendo para o ano em questão. Combinado?
Uma delas é do tipo que sobrevive às gerações, já que é adaptação de personagem clássico dos quadrinhos da Marvel, refilmado frequentemente nas telas grandes e pequenas. O Incrível Hulk, a série de 78, era estrelada por Bill Bixby (o ator que viveu o Dr. David Banner morreu em 1993) e pelo eterno concorrente de Arnold Schwarzenegger nos concursos de fisioculturismo, Lou Ferrigno. Sua linguagem marcou época – ou alguém consegue esquecer da transformação do doutor na “criatura”, com suas roupas rasgadas apenas onde não implicava em algum escândalo?
A outra série com data de estreia polêmica também marcou deixou marcas inesquecíveis. Ou será que alguém que tenha vivido aquele tempo consegue deixar de pelo menos pensar na fala “o avião” O avião!
Sim, estamos falando de A Ilha da Fantasia, aquele lugar em que ricos e remediados iam para realizar seus desejos mais profundos… mas que, é claro, levavam mesmo era uma linda lição de moral do Senhor Roark (interpretado pelo astro mexicano Ricardo Montalbán), para incompreensão sistêmica de seu ajudante Tattoo (Hervé Villechaize, que se suicidou aos 50 anos). A série teve muitas participações especiais em seus mais de 150 episódios, incluindo o ex-ídolo teen Frankie Avalon, a exorcizada Linda Blair e até a diva dos musicais Cyd Charisse.
Uma curiosidade: um de seus muitos convidados foi David Cassidy, que no mesmo ano, teve uma série “solo” lançada nos States (se chegou ao Brasil, não se sabe, não se viu). David Cassidy: Man Undercover durou só uma temporada. Para Cassidy, o sucesso estrondoso de A Família Dó-Ré-Mi (The Patridge Family, que durou de de 1970 até 1974) nunca seria igualado.
Uma estreia histórica, especialmente por lançar seu protagonista, ninguém menos do que Robin Williams, na TV, foi Mork & Mindy.
Na série, Mork, o personagem do comediante, é um extraterrestre em missão de reconhecimento na Terra. Aqui, ele conhece Mindy (Pam Dawber). Os efeitos da série são, vistos à distância, mais engraçados ainda por serem bem, com o perdão da palavra, toscos. Mas é impressionante como Robin Williams segura o enredo – tanto que a série durou quatro temporadas.
Também foi em 1978 que a primeira versão de Galactica (aqui com o subtítulo Astronave de Combate) apareceu na TV. Há que se lembrar que no ano anterior o fenômeno Star Wars tinha conquistado o mundo. Portanto, nada mais natural do que outras naves iniciarem suas sagas. Embora tenha durado apenas uma temporada, a série rendeu um spin-off, Galactica 1980 e uma série com mais fôlego, Battlestar Gallactica, que durou seis anos. Ah, sim: essa série é citada muitas vezes em The Big Bang Theory.
E no Brasil? Uma boa lembrança é a série Ciranda, Cirandinha, que ocupou semanalmente a faixa das 22 horas da Globo. A série, dirigida por Daniel Filho, conta a história de quatro pessoas que dividem um apartamento – Lucélia Santos, Fábio Junior, Jorge Fernando e Denise Bandeira. Problemas modernos eram discutidos em seus episódios. Afinal, estávamos em uma fase de transição e a censura já era menos voraz. Mas a série, que só durou um ano, seja mesmo mais conhecida por ter lançado a música Pai, de Fábio Junior, em seu episódio mais emotivo.
78 também teve, claro, muitas novelas. Fica aqui o destaque da mais icônica delas, Dancing Days. Mais uma vez, temos que lembrar que as grandes tendências internacionais demoravam um pouco a mais para serem digeridas aqui… o que justifica que a grande explosão disco, que aconteceu lá fora em 77, com Os Embalos de Sábado à Noite, tenha tido sua versão nacional só no ano seguinte.
Mas teve todo o sucesso e influência na TV e na moda que se possa imaginar. Nenhuma menina, moça ou mulher que tenha vivido aquele ano escapou impune: todas tiveram suas meinhas de lurex. E viva Sônia Braga, Joana Fomm e Glória Pires!
1978: enquanto isso, em Brusque…
Peço licença para deixar esta conversa um pouco mais pessoal. 1978 foi o ano em que eu pisei em Brusque pela primeira vez. A ligação com a cidade começou daquele jeito que as coisas costumavam acontecer, antes do advento da internet: por correspondência.
Foi através de cartas que Márcia Cardeal contou que ia acontecer um evento de arte na cidade… E lá vim eu, conhecer a pequena cidade misteriosa que tinha uma vida cultural tão especial, tão ativa, tão viva.
O evento era a 2ª Coletiva Nacional de Arte de Rua, produzida pelo trio Luís (que depois assumiu o “sobrenome” Brusque), Jorge Grimm – achei a imagem aí acima na página dele no Facebook! – e Almir Feller, o Zinho.
Foi ali, na praça, que tive contato pela primeira vez com a arte postal, que foi tão importante para todos os envolvidos nos anos seguintes. Bem burrinha, perguntei inclusive quanto custavam os cartões postais que, é claro, não estavam à venda…