Semana passada a gente viajou rumo a 1988 tendo como guia um dos protagonistas da cena de rock de Brusque daquela época, o Deschamps. Hoje, conforme prometido, vamos voltar ao passado, a bordo da memória invejável do Rodrigo Kormann, do DaBesta, outra das “figuras históricas” dos nossos anos oitenta locais. Um dos meninos que sentiram aquela vontade incontrolável de se expressar através da música, mesmo (e principalmente) sem ter formação musical. A influência era o punk e o mais importante era desengasgar as pressões que se sente quando se é teen (ou pós teen… ou pré teen!) em uma cidade pequena e muito limitada. Talvez essa mistura de fatores, junto com o acesso a um pouco de informação e o contato com as bandas “de fora” tenham formado o ambiente ideal para o que vimos acontecer. Aqui. Apesar de tudo. Vai, Rodrigo:

O ano é 1988, eu ainda não tinha 15 anos, mas já tocava alguma coisa. Então conheci um cara que tinha acabado de sair involuntariamente do exército (obrigação – DaBesta), o Bestera, que me apresentou para o Visual, que também tocava e cantava um pouco.  Os dois eram quatro, cinco anos mais velhos do que eu.

Mal começava o ano e já rolavam os primeiros ensaios – mas nem sonhávamos que em pouco mais de um ano tocaríamos na TV, em São Paulo, no Boca Livre da TV Cultura – apresentado por um rosto já bem conhecido, o Kid Vinil. Já conhecia e fiz umas aulas de guitarra com o Widman. Logo conheci o Deschamps. Também conhecia o Cristiano Zen (Shit) e quase toda a garotada.

Ensaios e mais ensaios, surgiam as primeiras músicas autorais. Aos poucos, cresceu um movimento que começava a se reunir, envolvendo boa parte de toda a galera: imprensa, bandas e até o pioneiro Som Cardeal. O resultado sô poderia ser um, começando pelo começo mesmo, com o RockInício, onde o DaBesta (nome sugerido pelo Deschamps) estreou junto com o Blackout Geral (Juca/Rene) e os Insultos, que já tinham uma certa cancha. O Bandeira Federal encerrou aquela tarde histórica na Fideb

 Foram muitas idas e vindas a São Paulo, trazendo vinis, instrumentos e mais informação. Encontrando o ídolo Redson, do Cólera, que aos poucos se tornava um amigo.  O negócio parecia um trem sem freio, com mais shows de bandas de SP e com o Honorock, em que estreou a Shit, uma das bandas mais criativas do rock de Brusque.

DaBesta e Bandeira abriram o segundo show do Cólera na cidade. Amigos de Jaraguá, Blumenau, Floripa começavam a interagir conosco, trocando os primeiros fanzines, endereços, demotapes, namoradas e tudo mais.”

1988 foi um ano que parecia que nunca iria terminar, com tantos projetos realizados – a duras penas, é claro –  e tanto amadurecimento rápido da meninada envolvida com as bandas. Mas, é claro, o ritmo não era sustentável. O Amarelo Vinte fechou no final do ano, com um imenso significado prático e simbólico: perdemos nossa base. Os meninos continuaram crescendo, nem sempre andando pelos mesmos caminhos. Não percebemos, mas nada mais seria igual.

Ah, sim, aí ao alto temos também a foto da Autópsia, a banda de menor média etária da cidade – Daniel Risch tinha apenas 9 anos quando se juntou ao irmão Rafael Risch, Alex Gonçalves e Rafael Vieira. Ninguém resistia à banda – muito menos a Folha de São Paulo.

A história continua!