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3 perguntas e uma exclamação

Sou fã dessa coisa de questionar. Acredito piamente que a gente (e o mundo) evolui ao fazer perguntas. Também creio que aceitar tudo que nos é apresentado é a melhor maneira de não sair do lugar – ou de ir para onde não queremos. Perguntas, ao contrário, são combustível para o movimento. Claro, incomodam. Quem questiona fica com fama de ser uma pessoa chata, que incomoda, que quebra o ritmo. Que seja. Antes chata do que inerte.

Quanto mais informação, mais perguntas. Ou seja, hoje acabamos emendando uma interrogação na outra e tendendo a viver em constante perplexidade. É confortável? Não. Mas, mesmo que o garimpo de respostas seja trabalhoso e pouco produtivo, a gente pode ter uma certeza: passamos bem longe do tédio. Vamos perguntar! Podemos começar?

Mulher tem que ser sempre “maternal”?

Não sei você, mas eu tenho um vício irritante e delicioso: acompanho e me envolvo em grupos, comunidades e fóruns online. O que me faz mergulhar em opiniões que talvez sejam representativas de uma tendência maior. Ou não… porque nunca sabemos o quanto nossa “bolha” é representativa de um cenário maior.  Vamos supor que sim.

Já faz um ano que aquela declaração da Veja sobre Marcela Temer ser “bela, recatada e do lar” sacudiu nossas consciências, jogando fora nossas certezas de que essas “qualidades” femininas faziam parte de um passado distante. Não, não fazem. As “qualidades femininas” continuam sendo exigidas – e a falta delas continua sendo motivo para críticas pesadas.

Vamos pegar um exemplo bem televisivo. A chef Paola Carosella é jurada do reality de competição MasterChef Brasil, certo? Eis que, na edição atual do programa, ela subiu um pouco o grau de suas críticas aos participantes – nada de que compare aos já conhecidos berros de Fogaça ou esculachos de Erick Jacquin. Tudo isso faz parte da “pressão” que tem que ser exercida sobre os participantes durante as provas, até para gerar mais interesse no público. Acontece em todas as versões nacionais do programa.

Mas foi só Paola ficar mais contundente que parte do público começou a reclamar nas redes sociais. Oh, que grossa! Oh, que comentários desnecessários! Oh, tem jeitos e jeitos de falar! Oh, que arrogante! E por aí vai.

As críticas, é claro, nunca são feitas aos jurados homens. É a mulher que deveria ser a mãezona, gentil, sorridente, falando com jeitinho. Se olhar torto, não tiver um nível “supermãe” de paciência… lá vem aquele monte de comentário vergonhoso: “ah, está na TPM”, “o namorado não está dando conta”, “é uma bruxa argentina”… e por aí vai. A mistura de machismo com xenofobia corre solta, sem medo de ser arcaica. Como dizem hoje (ou diziam ontem): vamos melhorar?

Certa ou errada?

Assim que ela começou a sair do seu nicho específico, falei aqui nas Beltranas sobre a rapper Karol Conka. Desde a primeira vez que vi um trecho do clipe dela no #Prestatenção da MTV, senti de longe o carisma e a especificidade da sua figura. Rapidinho, ela ocupou um merecido lugar na mídia. Até substituiu Ivete Sangalo no programa Superbonita, da GNT.

E agora? Ela foi, como se dizia décadas atrás, cooptada pelo sistema? Vai perder a contundência? Perdeu o gume? Essas são perguntas que o tempo vai acabar respondendo. A questão agora é mais pontual. Karol Conka tem sido bastante criticada nas redes sociais por ter assinado um contrato de licenciamento de bolsas que levam a sua assinatura. E que não são nada acessíveis para mulheres periféricas. Os preços vão de quase 90 reais um chaveiro a mais de 700 reais uma mochila.

A rapper se defende dizendo que a linha não é dela, é só um licenciamento do seu nome – e que, quando tiver uma linha que administre, ela será acessível. Será que a justificativa é… justa? Ou artistas ligados às lutas sociais precisam prestar atenção ao que se associam, seja uma rede de TV ou uma grife de roupas?

Cadê o tempo que estava aqui?

A gente pode ignorar as paolas e não prestar a menor atenção às karois… mas não tem como escapar desta pergunta: o que está acontecendo com o ritmo das nossas vidas? Talvez seja coincidência, mas nas últimas semanas, aqui ao meu redor, a conversa mais recorrente on e offline tem sido sobre como estamos vivendo uma correria cada vez maior, sem tempo para respirar, com uma constante sensação de não estar dando conta da vida. Indo de obrigação em obrigação, de tarefa em tarefa, desde a hora de pular da cama até o momento de cair de volta nela, exaustos.

Pior: essa corrida maluca não parece estar sendo lá muito satisfatória. Uma amiga definiu com perfeição a nossa situação coletiva atual de tentar equilibrar cada vez mais afazeres, cobranças, prazos e expectativas próprias e alheias: por uma razão ou por outra, para cada um de nós o sapato está apertando em um ponto diferente, mas, no geral, o sapato de todo mundo está apertado. E a gente não está dando conta de calçar.

Vem cá… a vida não devia ser muito mais do que isso?

 

Mais uma vez, está comprovado: cultura é prazer!

Taí a exclamação. Vinda depois de ter dado uma passada no evento que reuniu artistas e gente interessada em arte no domingo passado, no Instituto Aldo Krieger. A motivação foi levantar fundos para a manutenção do museu… e nem sei o quanto foi eficaz, nesse quesito. Mas o resultado foi bem além. O evento mostrou uma mistura linda de gente de todo tipo, usufruindo de música, arte e convivência em um espaço delicioso. Para quem estava no palco, assim como para quem estava na plateia, acho que a sensação de leveza deve ter sido bem semelhante. Uma bela dose de um remédio contra o stress sem contraindicações!

E… para não perder a mania de perguntar: vai ter mais?

 

Claudia Bia – jornalista e perguntativa.