arte: Fernanda Almeida

É provável que, neste feriado, você tenha escutado falar sobre a menina de 16 anos que foi estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro. Se você usou alguma rede social durante este período, também viu a enorme quantidade de pessoas defendendo a menina, oferecendo ajuda e clamando por justiça. Por outro lado, algo que infelizmente não é surpreendente, foi a quantidade de pessoas julgando a garota. Dizendo que “se ela estivesse em casa isso não teria acontecido”; “se ela não usasse determinada roupa isso não teria acontecido” ou até mesmo pessoas afirmando que ela queria aquilo. Não, ela não queria. Todas essas afirmações reforçam que estamos vivenciando a cultura do estupro. A cultura do estupro engloba desde as pessoas concordarem que “tudo bem uma mulher levar uma cantada na rua se ela estiver usando um short” até “mas ela estava sob o efeito do álcool em uma festa com homens, não podemos culpar só o rapaz pelo ato”. Sim, podemos. Sim, devemos.

Percebemos isso desde a infância, com a enorme quantidade de “paizões” ensinando para seus filhos que eles “têm que pegar todas mesmo” enquanto ensinam para suas filhas que elas devem ficar em casa e “se respeitar”. É cultura do estupro quando eu, mulher, tenho medo de pegar um taxi sozinha; quando tenho medo de andar sozinha na rua depois das 18h; quando não sei se é seguro conversar com um estranho enquanto espero o sinal abrir; quando, no Brasil, uma mulher denuncia um estupro a cada 3 horas; quando uma mulher de biquíni recebe olhares e ouve coisas diferentes do que um homem de sunga; quando vejo uma menina da minha idade sendo culpada por ter sido estuprada. Ninguém merece ser assediado. Ninguém merece ter sua liberdade roubada. Ninguém merece ter sua intimidade exposta.

E para as mesmas pessoas condenando a garota: por que, quando alguém é roubado, não dizem “puts, mas quem mandou usar relógio essa hora da noite?”. Ou “quem mandou ter um carro tão caro, estava pedindo”. E ainda “se tivesse um celular mais barato, isso poderia ter sido evitado”. A gente não diz isso. Porque não faz sentido. Não existe “mas” quando se trata de um crime. Mas, se bem que caso os criminosos estivessem em casa estudando, não teriam cometido um crime, né?

Eu digo não a cultura do estupro.

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Heloísa Wilbert Schlindwein – 16 anos – terceirão