Conversas Praianas: cachorro com Alzheimer
— Amigas, ando muito chateada. O meu buldogue francês, o Jean-Pierre, está doente. Completou doze anos na quarta-feira passada. Até fizemos uma festinha. Acho que vai ser o seu último aniversário. Foi só para a família e as duas vizinhas do andar, que têm crianças e conhecem bem o meu filhotinho. Também convidei a dona da clínica veterinária, que adora o Jean-Pierre.
— A festinha foi no sábado porque o meu neto tinha aula no dia do aniversário. Os dois têm quase a mesma idade e se criaram juntos. Foi uma beleza. Vocês sabem como são os casais de hoje. Já não querem mais filhos e só tenho esse neto morando aqui perto. Quando se encontram, o Jean-Pierre não para de saltitar, de correr de um lado pra outro, latindo de alegria.
— Faz um mês que o bichinho andava meio estranho. Quem tem um cachorro sabe que, com o tempo, a gente vai conhecendo cada vez mais o comportamento do animal. Até pensei que fosse por causa do barulho da reforma que estão fazendo no apartamento de cima. Mas, o veterinário disse tem tudo pra ser um começo de Alzheimer. O Parkinson já é certo, pois notei que o bichinho está com uma tremedeira nas pernas e balança a cabeça de um lado pro outro sem parar. Não é tremelique muito forte. Mas, depois que o veterinário falou, dá para ver bem.
— Olha, disse uma amiga, eu sabia que cachorro pode sofrer de Parkinson. Mas, como é que o veterinário descobriu que o teu cão sofre de Alzheimer? Já li que os médicos têm muita dificuldade em fazer um diagnóstico certo quando a pessoa está no começo da doença.
— Eu confio no veterinário, um dos melhores aqui de Balneário. A verdade é que a diarista já tinha reparado que o Jean-Pierre andava diferente e a gente nem deu bola. Agora, todos nós estamos notando que o coitadinho está perdendo a memória. Já não espera mais para levá-lo ao pipi dog. Antes, era um relógio. Sempre à mesma hora da manhã e da tarde ficava na porta ganindo e avisando que queria sair para fazer as necessidades. Já está até com incontinência urinária, faz pipi e cocô em qualquer parte da casa.
— E o pior é que tem hora que parece não nos conhecer mais, nem eu nem meu marido. Até já está estranhando o meu neto, que sempre foi seu companheiro desde que o compramos, ainda bebezinho. Inclusive, anda meio agressivo, ele que sempre foi uma doçura. Dá pena ver o meu cãozinho desorientado, latindo e vagueando pela casa com o olhar perdido.
— Olha, meninas, é uma tristeza. Criei o Jean-Pierre como se fosse um filho, dei-lhe todo o carinho e quando vejo o bichinho tremendo e desorientado, fazendo as necessidades pela casa, fico arrasada. Se ele morrer vou sentir como se fosse um filho.
— Pois é, disse uma outra, veranista de Chapecó, não tenho cachorro pra não me incomodar. Acho um absurdo gostares tanto de um cão como de um filho.
A conversa se transformou numa discussão acalorada, só porque algumas amigas disseram que não é certo se apegar a um animal como se fosse uma criança.