Proporcionar às mães um momento único e inesquecível no nascimento de seus filhos tem se tornado o objetivo de vida do obstetra e ginecologista André Fernandes Lins, que atua em Brusque há mais de 15 anos. Nos últimos três anos, o obstetra desenvolveu uma técnica única para realizar um dos tipos de parto mais raros do mundo: o empelicado.
Esse tipo de parto ocorre quando o bebê nasce envolto pela bolsa amniótica, a membrana que o protege e nutre durante as 40 semanas de gestação. Em condições normais, a bolsa se rompe antes do nascimento, tornando a técnica rara.
“É um fenômeno tão extraordinário que cerca de 99% dos profissionais não conseguem realizá-lo. A técnica exige muito do profissional, pois é difícil realizar manobras durante a passagem do bebê pelo canal. De 80 mil partos no mundo, 1 é empelicado. Porém, hoje consigo fazer 2 por semana. Para mim, é uma arte que traz uma conexão emocional única entre mãe, filho e médico”, explica André.
O obstetra já realizou mais de 12 mil partos em 22 anos de carreira, com mais de 300 empelicados. Com tantos êxitos, tornou-se referência no assunto, atraindo a atenção de médicos de várias partes do Brasil.
“Um colega de São Paulo ficou impressionado ao acompanhar um parto empelicado e sugeriu que eu levasse a técnica para lá, pois isso chamaria a atenção do mundo artístico. Mas minha felicidade está aqui, criando laços com meus pacientes. Os únicos artistas que me interessam são meus filhos”, brinca.
Desejo pelo momento especial
Desde que começou a realizar o parto empelicado, André tem atendido mulheres de diversas regiões do Brasil, muitas das quais buscam a experiência.
“Muitas vezes as gestantes fazem o pré-natal com outros médicos, mas se deslocam até Brusque para tentar o parto empelicado. Não há problemas quanto a isso”, explica.
Além de tornar o momento mais especial, o médico conta que a técnica oferece mais opções para as famílias. “Isso foi percebido ao longo do tempo. Muitos pais sonham em assistir ao momento exato do nascimento e registrar esse raro momento em imagens.”
Com isso, André comenta que ficou claro que a técnica se tornou um desejo de muitas mães. No entanto, ressalta que não é possível garantir que o bebê nascerá empelicado, já que essa condição depende de diversos fatores.
“Apesar disso, posso afirmar que, em todos os partos que realizo, procuro aplicar essa técnica. É uma experiência única e gratificante, tanto para mim quanto para as mães, e não há qualquer custo adicional para realizá-la”, destaca.
Uma das felizardas foi Daiane, mãe do pequeno Davi, que, em sua quarta cesariana, teve a oportunidade única de ver o bebê nascer empelicado. Um momento que, segundo ela, foi mágico, proporcionando uma conexão especial, um profundo sentimento de pertencimento e a emoção de presenciar o exato instante em que seu filho veio ao mundo.
“Não consegui ver o momento exato do nascimento de nenhum dos meus outros filhos, então ver o Davi inteiro empelicado foi algo muito lindo e especial. Além disso, estou me sentindo muito bem neste período de recuperação. Consigo me levantar da cama sem auxílio. É perceptível como, nesse tipo de parto, a manipulação na hora da extração é mais suave. A lâmina d’água facilita a passagem do bebê. Enfim, essa é uma experiência que jamais vou esquecer”, relatou a mãe.
Sobre o que sente ao realizar um parto empelicado, André afirma que se dedica com profissionalismo e que deixa a emoção para depois. “Após colocar o bebê no colo da mãe, sinto que a missão foi cumprida. Realizar um dos atos mais significativos na vida de uma mãe é uma responsabilidade imensa.”
Como tudo começou
André conta que conheceu a técnica por acaso, durante um parto em que a bolsa permaneceu intacta há cerca de 3 anos. Com receio de errar, rompeu a bolsa, mas decidiu, após refletir, tentar novamente no próximo parto.
“A técnica se tornou uma missão para mim e minha equipe. Percebemos que os bebês nasciam muito bem, o momento se tornava ainda mais mágico para as mães”, lembra o médico.
Acostumado com adversidades na hora do parto, o obstetra conta que, neste ano, conseguiu retirar um bebê com a bolsa parcialmente rompida. Segundo ele, nesse tipo de ocasião, a posição da mesa também faz diferença.
“Ajusto dependendo da quantidade de líquido amniótico. Se há muito líquido, deixo a mãe plana; se pouco, inclino a mesa para facilitar o parto”, explica.
Apesar de não ser isenta de riscos, André diz que a técnica traz benefícios tanto para o bebê quanto para a mãe, reduzindo o estresse do bebê e proporcionando um nascimento mais saudável.
“Os pediatras inicialmente duvidaram, mas hoje todos na minha equipe confiam na técnica. O bem-estar fetal tem sido excelente, muito acima da média”, complementa.
Além de ser eficaz para bebês saudáveis, a técnica também pode ser utilizada em situações de alta complexidade, como em mães com HIV ou hepatite. “Nesses casos, a bolsa protege o bebê de contaminações. Porém, há situações em que a técnica não é viável, como em casos de emergência com risco de vida.”
Objeto de estudo e futuro
A técnica, que no início parecia impossível, tornou-se comum para André. Ele registra todos os casos e planeja escrever uma tese sobre a técnica em um futuro mestrado.
“Meu objetivo é que essa técnica seja reconhecida como a melhor opção para cesarianas. A ciência permanece, e acompanhar o desenvolvimento dos bebês que nasceram empelicados seria um marco histórico.”
O médico também diz que seria ótimo se existisse um núcleo de estudos em Brusque para tornar o município uma referência.
“Há poucos estudos sobre o tema, mas acredito que é possível avançar significativamente na obstetrícia. Muitos profissionais não acreditam, mas se conseguirmos comprovar os benefícios, podemos transformar essa técnica.”
Natural de Brasília, o profissional é o primeiro da família a ser médico e, nos últimos anos, se distanciou gradualmente dos partos normais para se concentrar nos agendados, permitindo passar mais tempo com sua esposa e três filhos. “Eles são meu alicerce e o motivo pelo qual busco deixar um legado em vida”, afirma.
“Fiz o parto dos meus três filhos e, embora me sinta um pouco triste por não ter ‘vivido’ o momento como pai, sei que, pela pressa dos partos, perdi muitos momentos com a família. Por isso, quero me redimir e deixar um legado para eles e para minhas pacientes. Quando eu parar de trabalhar, quero mostrar que amo essa profissão e que tudo vale a pena no final. Não há preço que pague por poder trabalhar com aquilo que se ama fazer. É esse amor que coloco em cada parto das minhas pacientes”, conclui.