Muitas pessoas falam sobre ansiedade, a grande maioria delas não sabe o terror que é sofrer com isso.

 

Neste exato momento eu estou em crise e resolvi escrever sobre o assunto não para exibir certo “vitimismo”, mas sim porque sinto necessidade de expor e explorar o assunto um pouco mais.

Sempre fui uma garota incomum… Ao invés de brincar com outras crianças, quando pequena, preferia horas lendo livros, escrevendo ou desenhando no cantinho vazio do quarto. Sempre ficava sozinha na escola, dificilmente permitia a aproximação da família ou de pessoas de outro meio, fui pouco sociável e sempre gostei disso. Com o passar dos anos isso foi deixando de ser um hábito voluntário para se tornar algo forçado e complicado, surgiam as primeiras crises.

 

Uma boa parcela das pessoas que são afetadas pela ansiedade desenvolve algum tipo de distúrbio e isso vai de automutilação a terríveis crises de pânico. Depois de determinados acontecimentos acabei desenvolvendo mania de perseguição que complicou um pouco mais.

 

As crises são repentinas, podem sumir tão rápido quanto vem ou podem durar semanas (pelo menos comigo é assim). A ansiedade, como imagino que saibam, é fruto de estresse extremo. O grande problema da ansiedade não são apenas os medos. A ansiedade é o medo do que pode acontecer. Eu tento controlar tudo e a cada instante, em cada momento da minha vida. Cada dia é, na verdade, uma luta gigantesca para não perder o controle. A cada mísero segundo eu estou me preparando para tudo o que possa dar

 

Geralmente sei que estou entrando em crise quando começo a beliscar meu braço. Por anos minha mãe brigou comigo por causa desse hábito, ela não sabe o quanto eu tento controlar isso, ela não sabe que cada vez que o faço sinto como se estivesse sendo sufocada. Eu não a culpo, deve ser difícil ter que lidar com uma família inconstante como a minha e ainda ter que ficar controlando e monitorando a filha mais nova (no início com nove anos). Infelizmente, esse é um hábito que eu não controlo, quando percebo o que estou fazendo meus braços já estão vermelhos, inchados e às vezes sangrando.

 

As crises também envolvem humor inconstante. Posso estar sorrindo e, em menos de um segundo, meus olhos se enchem de lágrimas e não é como se eu quisesse ficar chorando, mas entenda: eu não tenho controle algum sobre isso. Não tenho controle sobre o medo inexplicável que me atinge quando a mania de perseguição “ataca’, não tenho controle sobre nada.

 

Ter ansiedade é como ser uma marionete. Por não saber como lidar, você se deixa ser controlado pela doença. Você não se sente bom o suficiente pra nada, não consegue conversar com ninguém sobre a sua vida porque ela não é tão importante quanto o bem estar dos seus entes. Você fica se culpando por cada coisa errada que acontece, se culpa pelas falhas dos outros. Pede desculpas por erros que não cometeu e desculpas por ofensas que não proferiu. Você sente medo de não ser maduro ou responsável o suficiente, tem medo de não conseguir pagar aquela conta importante no final do mês, tem medo de perder seus amigos, seus sonhos, ambições… Mas o que você vai demorar a perceber é que esses medos, aos poucos, te fazem esquecer quem você realmente é. As crises de ansiedade têm o poder de me fazer questionar se eu realmente gosto dos meus hobbies, me fazem odiar ser quem eu sou. Essas crises me fazem ser uma péssima amiga, uma péssima filha, uma péssima aluna. Essas crises sugam minhas energias de forma lenta e dolorosa, elas me tiram a capacidade de concentração, me tiram a habilidade de demonstrar sentimentos ou esboçar reações e emoções.

A ansiedade controla o inconsciente de tal forma que desistimos de ser nós mesmos para passar o dia todo com a máscara do “tudo bem, estou feliz” estampada em nossos rostos, isso é o mais cômodo a se fazer.

Uma pessoa ansiosa não tem paciência ou condições emocionais para expor o assunto, por isso, fugimos ao máximo possível da discussão. É mais fácil ter de lidar todos os dias com um problema do que expor ele.

Assim, a ansiedade é aquele peso do cansaço que carregamos em nossos ombros, a ansiedade é aquela olheira profunda e os olhos inchados daquela menina sentada num banco qualquer da praça, a ansiedade é aquele hábito incomodo de ficar balançando o pé incansavelmente enquanto você tenta acender o seu cigarro, a ansiedade é aquele hábito inegável de comer tantos chocolates quanto você for capaz de engolir, é aquela mania chata de roer unhas ou comer as tampas de caneta, é aquela ambição cega por perfeccionismo extremo, é aquela mania de ser detalhista em cada coisa e isso é uma verdadeira droga.

A ansiedade é aquela visita chata que vem pra sua casa no domingo e a única coisa que você quer é dormir, mas precisa ser um bom anfitrião e fica acordado conversando com ela durante longas noites de madrugada. Ela é aquela tia que sempre te dá um par de meias verdades no natal e, vez ou outra, te traz presentes como insônia, instabilidade, um medo incomum de não ser capaz de fazer tudo o que precisa. Ela traz presentes embrulhados em papéis de tons mórbidos e estampas defeituosas. Papéis que tem um verso seu rabiscado porque não te agradam, papéis que trazem desenhos não terminados, conversas não concluídas, sonhos devastados pela desesperança. Esses papéis trazem duas palavras estampadas em letras garrafadas: DESESPERO e DESORDEM. Assim, a ansiedade é uma anarquista assumida.

 

Alice Adna – 18 anos – 1º Período de Comércio Exterior da Univali