A cada ano 15 pessoas morrem em decorrência do HIV em Brusque

Atualmente, 800 pessoas são portadoras do vírus no município

A cada ano 15 pessoas morrem em decorrência do HIV em Brusque

Atualmente, 800 pessoas são portadoras do vírus no município

Levantamento feito pelo Serviço de Atenção Especializada (SAE) da Secretaria de Saúde, feito a pedido de O Município, mostra que o vírus HIV continua a ter alta incidência entre a população de Brusque. Além de trazer dados sobre diagnósticos, a pesquisa exibe um número nefasto: 349 pessoas que tinham o vírus morreram desde 1996. Isso representa uma média de pouco mais de 15 mortes por ano.

O SAE atende os portadores de HIV/Aids na cidade. Como essa doença permite buscar atendimento fora da sua residência, há alguns pacientes que são de municípios da região, embora a esmagadora maioria seja local.

Além de HIV, o SAE também acompanha pacientes com as hepatites B e C e tuberculose. Já com relação à sífilis, os casos atendidos são de portadores de HIV que também têm essa Infecção Sexual Transmissível (IST ) – nome atual para as antigas DSTs.

O assunto das ISTs voltou à tona após uma comissão da prefeitura emitir um parecer sobre a aplicação da Lei da Criança sem Pornografia, aprovada pela Câmara de Vereadores, que impõe várias restrições à educação sexual na rede municipal.

Mais jovens

O levantamento mostra que, desde 1984, 1.112 pessoas foram diagnosticadas com HIV na Secretaria de Saúde do município. O auge de detecções ocorreu em 2015, quando foram 90 resultados positivos.

O secretário de Saúde de Brusque, Humberto Fornari, avalia que o pico de diagnósticos aconteceu por causa da descentralização dos testes para a unidades de saúde, algo que tem sido mantido nesta gestão.

Fornari afirma que Santa Catarina destaca-se no número de notificações de ISTs. Ele avalia que não se trata apenas de haver mais casos, mas também de rede de saúde ser mais ativa ao informar os órgãos federais.

Camila avalia que a quantidade de resultados positivos para HIV têm ficado estável. “Mas o que vemos é que a faixa etária está caindo”.

Antigamente, a maior parte dos portadores era de pessoas com mais de 30 anos. Hoje, o maior grupo concentra-se na faixa etária dos 18 aos 29.

Héteros e casados

Diferentemente do que o senso comum aponta, a maior parte dos pacientes hoje acompanhados pelo SAE de Brusque não é homossexual nem solteiros. “A maioria são heterossexuais, o que vem na contramão da história do HIV e que o pessoal acha que é doença de homossexual, mas a maioria, mais de 70%, são héteros e casados”, explica a farmacêutica.

Do total de 822 até o fim de outubro, 555 declaram-se héteros, enquanto que 216 se dizem homossexuais, 18, bissexuais, e quatro são crianças. Outros 29 casos não tiveram sua orientação sexual definida ainda.

A maior parte dos pacientes com HIV atendidos no SAE tem Aids, que é quando o vírus se manifesta e destrói os linfócitos – as células de defesa do corpo. Do universo de atendimentos no serviço especializado, a maior parte das pessoas descobre que tem a doença por acaso.

“O que chega para gente é a pessoa que foi para o Hospital Azambuja com imunidade lá embaixo, uma neurosífilis, neurotoxoplasmose. A maioria dos nossos diagnósticos é assim, e são os que causam mais óbitos, por que é um diagnóstico tardio”, esclarece Camila.

Pacientes soropositivos morrem de outras doenças

As estatísticas do Serviço de Atenção Especializada (SAE) evidenciam que o paciente soropositivo, em grande parte das vezes, morre em decorrência de outros problemas de saúde.

A farmacêutica Camila Gili explica que, como a maior parte dos pacientes só descobre a doença quando o vírus já se manifestou, o risco é ser infectado por outra doença.

“Geralmente, os pacientes são casados e chegam já no estágio de Aids, porque o que acontece é que quando se adquire a infecção, ele infecta as células de defesa. Ele precisa entrar nessas células para replicação viral e a inativa. A gente sempre diz que vai morrer de outra doença, porque pode entrar outro vírus na corrente sanguínea e não vai ter defesa”, completa a farmacêutica.

O levantamento do SAE mostra quais foram as principais causas de óbito de pacientes com Aids desde 1996. Os maiores motivos foram pneumonia seguida por choque séptico (estado de falência circulatória aguda associada a uma infecção).

Pneumocistose e câncer completam a lista das quatro causas mais importantes de mortes. As demais são em número muito menor ou não foram informadas na declaração de óbito.

Coinfecções

O SAE também compilou dados de coinfecções de pacientes com HIV, mas esses dados são apenas de 2017 a 2019. A principal infecção que acomete soropositivos é a sífilis. As hepatites B e C, herpes e hanseníase também são importantes.

Sífilis

O Ministério da Saúde reconhece que o Brasil vive uma epidemia de sífilis. A IST é transmitida na relação sexual e também pode ser passada para o bebê durante a gestação.

A infecção é classificada em estágios. O mais “leve” é o primário e o mais “grave”, o terciário, quando a pessoa apresenta lesões na pele, ósseas, cardiovasculares e neurológicas e pode morrer.

O secretário de Saúde de Brusque diz que a sífilis é a IST que se destaca neste momento. “A sífilis é um caso preocupante, pois é uma das ISTs que mais cresceram nos últimos anos”.

Assim como no caso das outras infecções, o teste também está disponível no SUS.

Centro é o bairro com mais moradores atendidos no SAE

A pesquisa feita pelo SAE traz números por bairros e municípios dos pacientes. No caso do HIV, o SUS permite que a pessoa busque tratamento fora de seu domicílio, por isso há gente até de Tijucas na lista.

O bairro com mais portadores de HIV/Aids atendidos pelo serviço especializado da rede municipal é o Centro, com 90. O Águas Claras vem em segundo lugar, com 63. Guabiruba está na terceira posição.

Prevenção é gratuita na rede pública de saúde

A Secretaria de Saúde disponibiliza o teste rápido de HIV em todas as unidades de saúde. O diagnóstico inicial é fundamental para o paciente ter mais sucesso no tratamento e qualidade de vida.

Além disso, caso a pessoa tenha uma exposição de risco (como relação sexual desprotegida), rompimento de preservativo, violência sexual ou acidente com material perfurocortante, ela pode realizar a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) em até 72 horas após o ocorrido.

Camila Gili explica que é como se fosse uma “pílula do dia seguinte do HIV”. “Você vai na unidade de saúde, realiza os testes, realiza consulta e inicia uma medicação que usará por 30 dias, prevenindo a infecção pelo vírus HIV, caso tenha entrado em contato com ele”.

A farmacêutica acrescenta que o SAE também tem a Profilaxia Pré-Exposição (Prep). Ela compara a um anticoncepcional para o HIV. “Se você tem dificuldade de usar preservativo, múltiplos parceiros, relações com pessoas soropositivas, profissionais do sexo, você por vir ao SAE, passará por consulta com o psicólogo para verificar os riscos, fará exames, consulta médica e tomará uma medicação que vai prevenir que você se infecte pelo HIV”.

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