A Campanha de Nacionalização em Santa Catarina
Primeiro, aliciaram-se colonos livres para substituir o braço escravo e para povoar territórios, fizeram-se concessões de terras, subvencionaram-se os imigrantes prometendo-lhes a nacionalização. Ai, veio um segundo regime republicano e lhes cassa, sem mais nem menos, uma parte dos direitos outorgados, dizendo-lhes: até aqui, fostes brasileiros integrais. Mas, de hoje em diante, passas para o rol dos cidadãos de segunda classe, com os mesmos deveres antigos, mas somente com a metade dos direitos. E assim estava traçado o futuro do nacionalismo no Brasil, com a abolição da língua e das tradições dos elementos de colonização teutônica. (Marcos Konder, O Nacionalismo da Constituição Brasileira, 1934).
O tema “Nacionalismo” não era novo quando Marcos Konder apresentou sua tese, pois tão logo que os imigrantes europeus passaram a ocupar o território brasileiro e a substituir a mão de obra escrava começou a haver preocupação com a construção da chamada identidade nacional. A partir de 1922 os debates intelectuais se intensificaram e depois de 1930 o tema passou a fazer parte das discussões políticas. Em 1937 o assunto passou a ser tratado como política de Estado, pois alguns ideólogos entendiam que a construção do Estado Nacional deveria passar pela homogeneização da cultura, dos costumes, da língua e da ideologia, e o tema passou a ser tratado como uma questão de “segurança nacional”. Atos legais foram editados com a justificativa de que era necessário construir uma nacionalidade homogênea e indistinta e, por fim, denúncias de formação de “quistos étnicos” no Vale do Itajaí acabaram influenciando a política de repressão que foi institucionalizada pelo Governo Federal a partir de 1938.
Nos estados do Sul, os imigrantes passaram a ser vistos como um “estorvo” para a formação da identidade nacional, porém a ação “nacionalizadora” parece ter sido mais intensa em Santa Catarina e para compreender os motivos de uma intervenção mais intensa nas regiões coloniais catarinenses do que no Rio Grande do Sul e Paraná devem ser consideradas as diferenças de importância e de participação, tanto na política quanto na economia. Durante o Estado Novo as áreas de colonização nestes dois estados não detinham a mesma importância política e econômica que possuíam em Santa Catarina onde, desde o início do século XX, o crescimento econômico nessas colônias foi notório. Associado à economia, verificou-se um aumento da participação política de pessoas provenientes do Vale do Itajaí, que foi se fortalecendo e se consolidando através de outros vínculos fortes, como casamento, negócios e germanidade. O controle econômico e político catarinense pertencia às elites do Vale do Itajaí, aglutinadas em torno do Partido Republicano Catarinense (PRC) e o grupo político que assumiu o governo de Santa Catarina a partir de 1930 representeava os interesses da grande propriedade e da pecuária e via nas elites do Vale seus principais adversários políticos.
Ações como a política de nacionalização do ensino, as intervenções em associações recreativas e culturais ou em estabelecimentos industriais, em essência, fizeram parte de uma estratégia para desmantelar as bases políticas de adversários, principalmente no Vale do Itajaí. Em Santa Catarina, a Campanha de Nacionalização, muito mais do que uma disputa entre brasileiros e alemães, foi uma disputa política, econômica e social respaldada por leis federais. É um lado da história que poucos conhecem, mas que ajuda a explicar a pouca força política que os catarinenses têm junto ao governo federal, e até a pouca representatividade política do Vale no governo do Estado de Santa Catarina.