X
X

Buscar

A chance de salvar uma vida

Brusquense que se cadastrou no banco de dados do Hemosc há cinco anos foi selecionado como um possível doador de medula óssea

A história de uma garota de apenas seis anos, que sofria de aplasia medular, uma disfunção da medula óssea, levou toda a família Marques para o banco de doadores voluntários do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc) em agosto de 2010. Na intensão de ajudar a menina, o casal Caetano e Marli, junto com o filho Emerson, foram até o Centro de Especialidades em Saúde, para doar sangue e verificar uma possível compatibilidade com a paciente, que precisava do transplante de medula óssea.

Na semana do último natal, depois de quase cinco anos, Marli Duarte Marques, hoje com 52 anos, atendeu um telefonema do Hemosc de Blumenau alegando que seu marido, Caetano Marques, de 53 anos, era um possível doador de medula óssea para um paciente que precisava de um transplante. A chance de encontrar uma medula compatível é de um para cada 100 mil doadores.

“Receber essa notícia na semana de natal mexe com a gente. Essa possibilidade de poder salvar uma vida, ajudar alguém mesmo sem conhecer essa pessoa, é muito gratificante”, revela Marques. Ele e outros quatro catarinenses podem ser compatíveis com o paciente, por isso, depois de receber a ligação ele foi até o centro de coleta do Hemosc de Blumenau, já que Brusque não possui uma unidade, e lá fez novos exames para confirmar a compatibilidade e aguarda desde o dia 2 de janeiro pelo resultado.

Caso seja compatível com o paciente, ele será levado até uma unidade do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e lá será coletado a medula óssea para ser transplantada. “Aqui fazemos apenas uma triagem, esse novo exame é mais aprofundado e necessário para verificar se é possível ou não fazer o procedimento”, explica Crislaine Ebel, assistente de captação de doadores do Hemosc de Blumenau.

Segundo ela, o número de pessoas que procuram a entidade para fazer a doação de sangue e ficar no banco de dados para doação de medula óssea tem crescido muito nos últimos anos. Atualmente, o Brasil tem o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo. Em 15 anos, o número de doadores aumentou 70%, passando de 12 mil inscritos, em 2000, para 3,5 milhões de doadores até o mês de novembro de 2014.
Para fazer parte do banco de doadores voluntários é necessário ter entre 18 e 55 anos de idade. No Hemosc será retirada uma pequena quantidade de sangue, cerca de 5 ml. Depois disso, o sangue será tipado para HLA, que é um exame de laboratório para identificar sua característica genética, após esse procedimento ele será colocado no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).

É preciso que o doador mantenha seu cadastro sempre atualizado, com número de telefone e endereço.
De acordo com o hematologista Fabio Benedetti o procedimento para a doação de medula óssea é simples e rápido. “A medula é uma espécie de tutano do osso, ela está localizada no interior do osso da bacia. Geralmente é dada uma anestesia geral no doador, e, com um agulha, o médico retira a quantidade necessária para o transplante e em 24 horas, a pessoa já pode ir para casa”, explica o médico.
A medula óssea que foi retirada é produzida novamente pelo organismo em até 15 dias. “O doador dificilmente vai sentir falta desse material, o máximo que pode acontecer é ele desenvolver uma anemia, mas que poderá ser controlada facilmente”, diz o médico. Quanto aos custos do procedimento, o doador terá todo o tratamento pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou pelo plano de saúde do paciente que receberá o transplante.

Medula óssea é a única esperança de cura para diversas doenças

Segundo Benedetti, o transplante é indicado principalmente para o tratamento de doenças que comprometem o funcionamento da medula óssea, como doenças onco-hematológicas, tais como a leucemia – tipo de câncer no sangue que começa na medula óssea; alguns tipos de linfomas – uma forma de câncer que se origina no sistema linfático; e mieloma múltiplo – um tipo de câncer que afeta originalmente a medula óssea e se caracteriza pelo aumento do plasmócito, célula que produz imunoglobulina, proteína que participa de nosso sistema de defesa.
Além disso, o transplante pode tratar também doenças hematológicas como a aplasia medular, doença de Jéssica Vitória de Souza Ribeiro, menina de 10 anos que mobilizou a população há alguns anos.
Existem dois tipos de transplantes de medula óssea, os autólogos, quando o doador é próprio paciente, e as alogênicas, quando a doação vem de outra pessoa. “Nos transplantes autólogos, as células mãe da medula óssea são retiradas do próprio paciente, armazenadas e transfundidas após as doses de quimioterapia, com a finalidade de eliminar células doentes e reconstituir a medula óssea. Já no caso dos alogênicos, são casos mais complexos, onde as células-tronco são recebidas de outra pessoa, seja um doador selecionado ou algum parente próximo da família que é compatível”, explica o médico.